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Economia

Pela primeira vez, mel do Pantanal recebe selo de Identificação Geográfica

Mariana Rodrigues | 30/03/2015 17:39
Recebem este selo produtos que apresentam uma qualidade única. (Foto: Reprodução)
Recebem este selo produtos que apresentam uma qualidade única. (Foto: Reprodução)

Pela primeira vez, o Mel do Pantanal integra o time dos produtos nacionais com certificação de IG (Identificação Geográfica), registrado e emitido pelo Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Recebem este selo produtos que apresentam uma qualidade única, devido a características naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer.

Segundo o Presidente da Feams (Federação de Apicultura e Meliponicultura de Mato Grosso do Sul), Gustavo Nadeu Bijos, proteger e incentivar à conservação da natureza por meio do trabalho com abelhas africanizadas e nativas no Pantanal foi o principal objetivo para a busca desta certificação, além da possibilidade de agregar valor ao mel produzido em apiários dessa região.

O grande destaque do Mel do Pantanal é a produção aliada a conservação de um bioma único, em que a prática da apicultura pode ser desenvolvida em harmonia com a natureza, auxiliando na sua conservação, uma vez que a manutenção ou plantio de espécies que apresentem floradas ou outros recursos vegetais de interesse para as abelhas africanizadas (Apis mellifera) é requisito fundamental nesta atividade econômica. As diversas floradas das plantas silvestres da região pantaneira resultam em um produto diversificado com sabores, aromas e colorações particulares, os quais são muito demandados nos mercados nacionais e internacionais.

Ainda de acordo com Bijus, todo o processo teve início em uma das reuniões itinerantes da Câmara Setorial Consultiva de Apicultura de Mato Grosso do Sul, ocorrida em 20 de setembro de 2007 durante a Feapan (Feira Agropecuária do Pantanal) em Corumbá, quando os pesquisadores da Embrapa Pantanal Vanderlei Doniseti Acassio dos Reis, juntamente com Roberto Aguilar e André Steffens comentaram sobre a importância de se ter a identificação para os produtos apícolas na região pantaneira. As informações subsidiaram e motivaram a Alespana (Associação Leste Pantaneira de Apicultores), com sede em Aquidauana, e o Sebrae-MS a encaminhar o projeto em 2008 para o Sebrae Nacional, que tratou dos trâmites legais do processo para a obtenção da IG.

Bijos disse ainda que o trabalho realizado pela Embrapa Pantanal nestes últimos anos foi de fundamental importância neste processo, como a divulgação da viabilidade econômica da atividade na região do Pantanal que demonstrou que, além de uma alternativa, a apicultura pode vir a ser a renda principal da propriedade rural e que pode ser desenvolvida em larga escala.

O pesquisador da Embrapa Pantanal Vanderlei dos Reis, vem há 13 anos, juntamente com outros colegas da Unidade, executando pesquisas e ações de transferência de tecnologias voltadas para o desenvolvimento da apicultura na região. Segundo ele, seja na adequação das práticas apícolas ao clima, à flora e à realidade local, seja no auxílio da profissionalização dos apicultores e demais interessados na obtenção de mel e dos demais produtos das abelhas africanizadas de qualidade, a Embrapa Pantanal vem atuando para que hoje o apicultor encontre soluções tecnológicas que atendam às suas demandas quer seja na agricultura familiar ou na apicultura empresarial.

Vanderlei lembra que antes do início das pesquisas a região era erroneamente apontada e conhecida como não indicada para a obtenção de mel e de outros produtos apícolas em escala comercial, pois algumas tentativas resultaram em méis de má qualidade com cores escuras e odores não satisfatórios. Esse paradigma foi sendo alterado com a aprovação de 6 projetos de pesquisa (3 na Embrapa, 2 no CNPq e 1 na Fundect) que possibilitaram a execução de diversos estudos fundamentais para conhecer mais sobre as particularidades da apicultura no Pantanal e assim gerar, adaptar e transferir técnicas adequadas para essa região, incluindo desde a seleção de Equipamentos de Proteção Individuais (macacões apícolas, por exemplo) a embalagens mais adequadas para a obtenção de produtos de alta qualidade.

Para o Fiscal Federal Agropecuário do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Márcio Menegazzo, as pesquisas exercem papel fundamental no desenvolvimento de um produto com Identificação Geográfica. Seja na qualificação e na descrição precisa das características do território, do processo de produção e suas práticas; seja nas especificidades da qualidade que estão vinculadas à origem, elas auxiliam os produtores a criarem regras sustentáveis na reprodução dos recursos naturais locais para garantir um produto diferenciado. Outro fator é que a Indicação Geográfica protege os produtores contra as falsas indicações de origem, como por exemplo, mel sendo comercializado como obtido no Pantanal e que não foi produzido nessa região, e produtos de qualidade inferior.

"As vantagens se estendem também aos consumidores quanto à confiança na autenticidade dos produtos que têm uma história particular, uma forma tradicional de produção e seguem um caderno de normas para a produção e elaboração disciplinado por um conselho regulador garantindo esta qualidade vinculada a origem", disse Menegazzo.

Segundo Vanderlei dos Reis a expectativa é que, em breve, a produção possa atingir um estágio comercialmente mais competitivo no Pantanal, já que a apicultura vem se mostrando uma atividade produtiva transformadora da realidade econômica em várias regiões do Brasil por meio da geração de emprego e renda.

O apicultor interessado em trabalhar com a IG terá que ter o seu apiário registrado e georreferenciado oficialmente nos órgãos de defesa animal e vegetal de MS ou MT, IAGRO e INDEA, respectivamente.

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