Com medo do atraso, candidatos chegam até 3 horas antes no 2º dia do Enem

Horas antes de o portão abrir, a movimentação na Uniderp já mostrava o tamanho da tensão do segundo dia do Enem deste domingo (16). Maior local de aplicação de provas em Campo Grande, o campus virou ponto de encontro de estudantes que decidiram jogar no seguro: chegar cedo e aguardar com calma. Ou pelo menos tentar.

O relógio ainda marcava 9h quando Melquisedeque de Oliveira, de 20 anos, alcançou o portão. Morador do Novos Estados, ele saiu de casa de ônibus, pegou duas linhas e decretou que o atraso não seria um problema. “Cheguei cedo pra não ter nenhum imprevisto e nem muvuca na hora de entrar”, afirmou.

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Melquisedeque já passou por Radiologia e Administração, mas ainda tenta se encontrar. Diz que desistiu cedo demais dos dois cursos e agora tenta Pedagogia, embora esteja disposto a “jogar pra onde der”. É a primeira vez que faz o Enem e admite que não se preparou como gostaria. Mesmo assim, garante estar tranquilo. “Hoje não é a área dele”, brinca sobre enfrentar Matemática e Ciências da Natureza.

A poucos metros dali, Thais Cristina da Silva Costa, de 25 anos, travava outra batalha: a ansiedade. Ela saiu de Jaraguari às 8h40 com outras nove mulheres da comunidade quilombola Furnas de Dionísio. O grupo chegou por volta das 9h50 em um ônibus fornecido pela prefeitura. “Nem dormi de tanta ansiedade. No domingo passado foi a mesma coisa e até passei mal”, contou.

Thais, que faz o Enem pela primeira vez, tenta uma vaga em Contabilidade na Capital. A rotina da vinda, segundo ela, não é cansativa. “A gente vem conversando, nem vê a hora passar.” A ideia de fazer a prova em grupo surgiu porque a maioria delas está terminando a escola. E o sentimento de apoio entre parentes, primas ou tias é o que mantém o ânimo alto. “Hoje é o dia de confiança dela”, garantem as companheiras.

Mais à frente, a estudante Giovana Alves, de 17 anos, também chegou acompanhada. Mãe, pai e o irmão mais novo fazem plantão até o portão abrir. A rotina virou tradição familiar. “Toda semana eu fazia simulado e uma redação por dia”, contou, ainda segurando o lanche que trouxe de casa. O plano é tentar Direito.

A mãe, Cleunice Alves, de 47 anos, leva a missão a sério. Em 2023, ela acompanhou a filha mais velha no mesmo esquema. A jovem hoje cursa Enfermagem na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). “Para a gente é importante estar aqui para incentivar e ensinar a responsabilidade de chegar no horário. É um momento importante; é o futuro deles”, disse.

Cleunice admite que o coração aperta quando vê a filha cruzar o portão. “Penso: tô largando a minha cria sozinha em um lugar cheio de desconhecidos. Ao mesmo tempo, vejo que ela já cresceu”. A mãe resume tudo em um misto de vitória, gratidão e dever cumprido. “Chegou atrasado aqui, acabou; é só ano que vem. Então é melhor chegar adiantado e ficar esperando um pouco”, reforça.

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