Futebol feminino até empolga torcida, mas está longe de deslanchar em MS
Torcedores exaltam garra das jogadoras do Operário e apontam o que ainda trava o crescimento da modalidade
O domingo (18) foi de jogo decisivo no Estádio Jacques da Luz, em Campo Grande. O Operário, único representante de Mato Grosso do Sul na Série A3 do Campeonato Brasileiro Feminino, enfrenta o Galvez-AC no primeiro confronto das oitavas de final da competição. Mas, mais do que os 90 minutos de bola rolando, o que chamou atenção foi a presença e o envolvimento de torcedores que foram além do papel de espectadores e refletiram sobre o cenário atual do futebol feminino.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Torcedores do Operário Feminino, em Campo Grande, demonstram entusiasmo e frustração com o futebol feminino em MS. Apesar da campanha inédita do time na Série A3 do Brasileiro, a falta de apoio e investimento preocupa os torcedores. Eles cobram mais incentivo de autoridades locais e visibilidade para a modalidade. A paixão pelo time e a inspiração que as jogadoras representam para jovens atletas, como Rainy, de 14 anos, mostram o potencial do futebol feminino. A presença de famílias nos jogos indica um crescimento do interesse, mas a falta de divulgação e investimentos ainda impede o desenvolvimento da modalidade no estado. Torcedores acreditam que com mais apoio, o futebol feminino pode alcançar o sucesso merecido.
Entre aplausos, gritos de incentivo e camisas do Galo espalhadas nas arquibancadas, muitos demonstraram orgulho da campanha inédita do time na competição, mas também demonstraram frustração com os obstáculos que ainda impedem o futebol feminino de deslanchar de vez.

A dona de casa Liciqueila Cabianca, de 45 anos, foi ao estádio movida por admiração, que começou com o time masculino do Operário. “Olha, cara, a garra e a força que essas meninas têm. É grande, é bonito. A gente já é torcedor do masculino, né? Mas das meninas também a gente tá acompanhando firme e forte. Elas têm futuro pra ir muito mais além”, destacou, emocionada.
Para ela, o maior problema é a falta de incentivo das autoridades locais. “Nosso estado ainda tá fraco pra um campeonato grande feminino. Eu acho que deveria ter mais ajuda dos governantes, sabe? A prefeitura tinha que incentivar mais as nossas meninas, porque elas têm chance de ir muito longe. Assim como é para os meninos, as meninas também são merecedoras. Elas estão mostrando isso. Estão dando orgulho pra nós, torcedores. Eu acho que os governantes deviam dar uma força”, observou a torcedora.

Celso Mendes, pedreiro de 53 anos, acompanha o futebol feminino há mais tempo e afirma que está sempre presente nos jogos. “Eu venho em todos. Apoio profissional e acompanho o Operário há muitos anos”, disse com orgulho.
Ao ser questionado sobre o que falta para o futebol feminino crescer, foi direto: “Investimento. Tem que investir aqui no feminino, no masculino, no nosso futebol em geral.”
Celso reconhece que a modalidade ainda é pouco valorizada em Campo Grande, mas acredita que o cenário pode mudar. “Bem pouco valorizado, mas devagarzinho a gente vai conseguir chegar lá. O Operário está com bons profissionais, inclusive no feminino. O técnico é muito bom, o César Fuscão, e vai colocar a gente numa chave boa. Vamos subir.”
Já o operador de máquinas Harlen Penha, 32 anos, começou a frequentar os jogos há poucos meses. E o motivo é especial: sua filha Rainy, de 14 anos, estudante, que se apaixonou pelo futebol feminino ao ver o time jogar. “Comecei a acompanhar há alguns meses. A gente não tinha muito conhecimento do futebol feminino, né, porque é pouco divulgado. Aí quando apareceu na TV, eu vim pra cá assistir e apoiar. Moro lá no Guarandi, vim de longe, e trouxe minha filha e a minha mãe. A minha menina gosta de futebol, acompanha as meninas do Operário, e foi ela quem me chamou para vir.”
Para Harlen, a falta de visibilidade é o maior entrave. “O time das meninas é bom, estão toda hora pressionando o adversário, jogando bem. Só que não tem divulgação mesmo. Mesmo com entrada gratuita, a gente vê pouco apoio da torcida. Acho que se fosse um pouco mais divulgado, ia ter mais gente aqui.”

Rainy, que hoje sonha em seguir carreira no futebol, comentou a importância da representatividade e do acesso. “Faz uns cinco meses que eu venho acompanhando as meninas do Operário. Acho bem legal assistir as mulheres jogando. É uma inspiração. Meu sonho é me tornar uma jogadora de futebol de campo também”, contou.
A presença de famílias na arquibancada também mostra que, aos poucos, o futebol feminino começa a ocupar seu espaço. As falas dos torcedores convergem em um ponto: o futebol feminino ainda não recebe o apoio institucional necessário. Seja em relação a investimentos, infraestrutura, calendário de competições ou cobertura da mídia, as barreiras enfrentadas pelas atletas são muitas.
No campo, o Operário continua fazendo história e inspira meninas como Rainy. Fora dele, a torcida clama por mais espaço, mais respeito e mais oportunidades para que o futebol feminino cresça e se consolide como parte essencial do esporte brasileiro. Enquanto a bola rola no mata-mata do Brasileirão A3, a paixão nas arquibancadas mostra que o público existe.
