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Arquitetura

Dono não desiste de obra e chama atenção por fachada gigante no Tarumã

Arnoldo é um nordestino simpático, dono de “castelo” que há 20 anos está sendo construído e muro com quase 7 metros de altura.

Thailla Torres | 13/04/2019 08:40
Da esquina é possível ter noção da altura que chega aos 7 metros. (Foto: Henrique Kawaminami)
Da esquina é possível ter noção da altura que chega aos 7 metros. (Foto: Henrique Kawaminami)

Na Rua Acaiá, principal do Jardim Tarumã, o pedreiro Arnoldo dos Reis Paiva, de 71 anos, tem a fachada mais curiosa do bairro. A conclusão é também dos moradores que há décadas acompanham a construção que “nunca tem fim”.

A estrutura com quase 7 metros de altura é o orgulho do dono. Mas o melhor da construção são as teorias criadas pela vizinhança sobre o futuro da obra. “Tem gente que acha de tudo, há quem pense que vai ser um Castelo de Grayskull ou Arca de Noé”, conta o filho Arnaldo Paiva, de 46 anos.

O Lado B chegou à casa de Arnoldo depois de comentários dos moradores comparando a morada com a casa em formato de “barco” que há 10 anos virou meta de um trabalhador na Vila Nasser. No Tarumã a história não é muito diferente, ele diz que não importa o tempo, não abre mão de terminar sozinho a própria obra.

Arnoldo mostra os detalhes da obra "mais resistente" de Campo Grande, segundo ele. (Foto: Henrique Kawaminami)
Arnoldo mostra os detalhes da obra "mais resistente" de Campo Grande, segundo ele. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Aqui dentro não tem obra de nenhum outro pedreiro e nem auxiliar, eu fiz tudo sozinho. Eu e Deus”, descreve o pedreiro. Embora fuja de um fotógrafo como “diabo foge da cruz”, o melhor é se deparar com a empolgação do pedreiro.

Arnoldo é nascido no Maranhão e chegou à cidade como muitos nordestinos, pegando firme no batente. Foi pedreiro da antiga Construmat Engenharia, empresa que foi responsável por grandes obras no Estado. O nordestino estava em muitas delas, algumas, não saem da memória. “Eu ajudei o construir o Morenão, o Hospital Regional e muitos prédios dessa cidade. Tudo com parede boa, bem-feita”, se orgulha.

Falante, o pedreiro tem empolgação de menino ao contar como chegou, construiu e decidiu fazer um grande empreendimento no Jardim Tarumã. “Antigamente, há 42 anos, quando eu cheguei aqui só tinha uma trilha. Eu trouxe madeira nas costas para fazer minha casa. Fui um dos primeiros nesse bairro, posso dizer que fui o fundador”, diz.

A primeira casinha construída por ele foi simples, sem muita “pompa”, ele diz, mas economizar e construir uma casa boa para ele, a esposa e os filhos era uma meta. Hoje, a casa principal com vários quartos, sala grande e um pé direito alto é o seu maior orgulho. “Tudo isso que você está vendo também fui eu que fiz”.

A casa onde a família mora fica num terreno de aproximadamente 1.400 m². Nos fundos, algumas árvores frutíferas e uma pequena plantação de cana. Mas, na frente, o que toma conta é a obra gigantesca que chama atenção de quem passa na rua. “Vou dividir e fazer três salões bem feitos”. Mas o motivo da altura? “Não suporto lugar baixo, entro em banco, por exemplo, fico sufocado. Pé direito tem que ser alto”. 

"Castelo" faz parte da imaginação de moradores, construção inclui salões de aluguel. (Foto: Henrique Kawaminami)
"Castelo" faz parte da imaginação de moradores, construção inclui salões de aluguel. (Foto: Henrique Kawaminami)
Na varanda da casa, o gosto do nordestino pelo pé direito alto. (Foto: Henrique Kawaminami)
Na varanda da casa, o gosto do nordestino pelo pé direito alto. (Foto: Henrique Kawaminami)
Tudo foi feito por Arnoldo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Tudo foi feito por Arnoldo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Detalhe da coluna "grossa". (Foto: Henrique Kawaminami)
Detalhe da coluna "grossa". (Foto: Henrique Kawaminami)

Seu Arnoldo nunca estudou Engenharia, tão pouco sabe os termos da Arquitetura, mas garante que sabe mais do que muita construtora por aí. “Sabe porque eu demoro tanto? Primeiro porque eu faço com o meu dinheiro, segundo porque eu faço bem feito, não gosto de obra de qualquer jeito”, justifica.

Além da altura, o que também chama atenção na estrutura são as larguras das colunas, algumas com até 60 cm de cada lado. Os tijolos são deitados, segundo ele, por uma questão de estilo e para que as paredes fiquem ainda mais grossas.

No dia a dia, Arnoldo adora levantar às 5h da manhã, tomar o café e ir “bater massa” para continuar a construção. “Meio dia eu já parei o trabalho, vou descansar e continuo no outro dia. Tudo no meu tempo”.

Aposentado, ele dá crédito também aos filhos que, de vez em quando, ajudam a preparar o cimento no fim de semana. Também não esquece da esposa, dona Olinda Paiva Pereira, de 65 anos, pela paciência. “Ela quem esteve ao meu lado neste sonho, se essa casa está erguida, foi com ajuda dela”.

Depois de 42 anos no bairro e 20 anos empenhado na mesma obra, Arnoldo garante que não desiste. “Já perguntaram, já quiseram comprar meu terreno, mas eu não vendo. Adoro esse bairro e daqui não saio. Se Deus quiser vou terminar minha obra”, diz.

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Pedreiro odeia sair em fotos, mas levanta as mãos de orgulho pela sua "obra de arte". (Foto: Henrique Kawaminami)
Pedreiro odeia sair em fotos, mas levanta as mãos de orgulho pela sua "obra de arte". (Foto: Henrique Kawaminami)
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