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Arquitetura

Aos 85 anos, Flávio é a história do primeiro condomínio de luxo da cidade

Em 1970, condomínio conquistou moradores que sonhavam em construir casas de alto padrão ao lado da natureza

Thailla Torres | 16/07/2018 06:10
Com arquitetura original, mansão no estilo colonial foi uma das primeiras casas do condomínio. (Foto: Fernando Antunes)
Com arquitetura original, mansão no estilo colonial foi uma das primeiras casas do condomínio. (Foto: Fernando Antunes)

Desde 1970, o Jardim das Paineiras é o condomínio que parece mudar a paisagem de Campo Grande. Com muito verde por todo lado, as residências que surgiram ao longo do tempo trazem a sensação de um mergulho na arquitetura clássica até o estilo mais contemporâneo, com construções enormes e que despontam entre a vegetação bem cuidada, no bairro Parque dos Laranjais, localizado próximo do Cophasul, saída para Rochedo.

Mas não foi com todo esse requinte que a história do local começou. Inspirado na moda dos condomínios fechados de São Paulo, o empresário Ronaldo Capalgo, na década de 70, decidiu morar num local com muito verde e comprou uma área de 25 hectares, equivalente a 250 mil m² onde funcionava apenas uma olaria. À época, a localização encontrada também esteve ligada à presença de água natural, porquê ali é a nascente do córrego Imbirussu.

Flávio é o morador mais antigo, em idade e moradia, dentro do condomínio. (Foto: Fernando Antunes)
Flávio é o morador mais antigo, em idade e moradia, dentro do condomínio. (Foto: Fernando Antunes)

Sem asfalto, sem muro e com poucos compradores, quem lembra de todos os detalhes do início do Jardim das Paineiras é o morador mais antigo, em idade e tempo de moradia. Aos 85 anos, o coronel Flávio Américo dos Reis é a história do condomínio de luxo mais antigo da cidade. Chegou ali em 1976 quando conseguiu comprar seu primeiro lote em busca de morar em uma casa que abrigasse, confortavelmente, toda a família.

Ele conta que naquela mesma década, um insucesso financeiro  fez o banco adquirir 38 dos 50 lotes de Ronaldo, o fundador. Outro grande problema é a área comercializada como condomínio era apenas um loteamento. Foi Flávio, que precisou bater perna, para fazer a mudança no registro. "Eu fui atrás de assinaturas, cartórios e fiz de tudo até transformar o loteamento em condomínio".

A casa de Flávio foi a terceira construída. Com lote comprado em inúmeras prestações, ele não sabe precisar quanto pagou naquele tempo, mas lembra-se dos financiamentos como chance de edificar um sonho. "Não era barato e nem muito caro. Só sei que passou a caber no meu orçamento. Depois que comecei a construir, na mesma época, meu irmão comprou um lote e começou casa dele. As duas ficaram prontas no mesmo tempo".

Flávio mudou-se com a família para o condomínio em maio de 1979 e desde então nunca conseguiu sair da casa. "Eu tenho muito orgulho dela. Andei tentando vender uma época e não consegui, graças a Deus", comemora.

Entre verdadeiras mansões, a sua tem 330 m² de área construída, praticamente com a mesma aparência há 40 anos. "Meu sonho sempre foi ter uma casa de tijolo à vista. Eu tinha um irmão que era engenheiro e era dono de uma empresa, foi a arquiteta dele quem fez esse projeto. Até as esquadrias foram fabricadas por ele", conta.

Detalhes da casa de tijolo aparente do morador. (Foto: Fernando Antunes)
Detalhes da casa de tijolo aparente do morador. (Foto: Fernando Antunes)
No corredor, parte da história da família em retratos. (Foto: Fernando Antunes)
No corredor, parte da história da família em retratos. (Foto: Fernando Antunes)

O espaço foi dividido entre sala de estar, jantar, cozinha, área de serviço, suítes, sala de TV e despensa com um detalhe preservado por Flávio. "Essa despensa, antigamente, era um lavabo. Mas ele foi transformado porque naquela época não tinha comércio aqui perto. Então se estocava comida na despensa e fiquei com essa mania de guardar mantimentos até hoje".

A sala com piso de madeira e alguns degraus para acesso de uma área até outra tornaram-se problemas para o pai de família que não pensou no futuro. "Casa com degrau e porta estreita vira um problema quando chega a idade. Não passa andador e nem cadeira de rodas. Se eu tivesse pensado isso lá atrás, hoje não teria esses problemas e nem precisava ficar arrumando portas".

Um volta pelo condomínio - Ao longo da história outras 48 casas foram construídas no Jardim das Paineiras e com valor histórico suficiente para despertar o interesse de preservação. Por isso Flávio, ao tornar-se morador, se elegeu como síndico e permaneceu no comando durante décadas.

Ser síndico foi a alternativa encontrada por ele para valorizar o condomínio que, na década de 80, caiu no esquecimento. "Com os problemas financeiro, entramos numa fase crítica. Ninguém comprava porque não era valorizado e o lugar não valorizava porque ninguém tinha interesse. Havia também problemas para o recolhimento da taxa de condomínio, muita gente não pagava, então resolvi virar síndico".

Condomínio ainda é paixão de Flávio pela natureza. (Foto: Fernando Antunes)
Condomínio ainda é paixão de Flávio pela natureza. (Foto: Fernando Antunes)
A árvore mais antiga dali, segundo o morador. (Foto: Fernando Antunes)
A árvore mais antiga dali, segundo o morador. (Foto: Fernando Antunes)
Local é área da nascente do córrego Imbirussu. (Foto: Fernando Antunes)
Local é área da nascente do córrego Imbirussu. (Foto: Fernando Antunes)

O condomínio era telado e com cercado feito de apenas 3 fios de arame. As ruas não tinham asfalto e com o movimento dos carros, o chão se desfazia. "Quando assumi passei a colocar as coisas no lugar. Transformei o loteamento em condomínio, passei a receber as mensalidades, consegui asfaltar e fazer o muro".

Para mudar o cenário, Flávio também investiu no plantio de árvores. Ele garante que chegou a plantar 343 mangueiras em toda área. "Algumas secaram e morreram. Mas a maioria dessas árvores foi eu que plantei. Tenho mania até hoje de plantar pé de manga. A arborização também contou com a colaboração do Estado que, à época, doou mudas de ingá que hoje estão por todo condomínio".

Hoje o residencial conta com um lago enorme usado para pesca dos moradores, além de salão de festas, pista de 500 metros para caminhada e piscina. "Antigamente tínhamos piscina de água corrente e já tivemos uma quadra de basquete, mas fomos obrigados a destruir porque estava em local inadequado".

Flávio caminha pelo condomínio e sabe a história de cada imóvel. Alguns foram reformados e ganharam mistura de estilos arquitetônicos. Outros estão à venda ou ainda reformas. Uma das casas desperta atenção pela arquitetura original  que tem característica dos antigos casarões de fazendas e foi erguida logo nos primeiros anos do condomínio.

No condomínio há casas de diversos estilos. (Foto: Fernando Antunes)
No condomínio há casas de diversos estilos. (Foto: Fernando Antunes)
E todas são verdadeiras mansões. (Foto: Fernando Antunes)
E todas são verdadeiras mansões. (Foto: Fernando Antunes)

O primeiro imóvel construído está escondido entre as árvores. Foi uma edícula e só com o tempo os moradores construíram uma mansão ao lado. "Naquele tempo os financiamentos eram difíceis para construir uma mansão de imediato".

Embora Flávio diga que ao longo do tempo os imóveis perderam seu valor, as casas são avaliadas, segundo ele, por R$ 2,5 milhões e a taxa de condomínio é cerca de R$ 1,3 mil. Valor que parece não pesar no bolso de quem vê vantagens de sobra para continuar no condomínio. "Isso aqui até hoje não tem valor de mercado, cada um estipula o valor que acha certo", diz.

Mas o que o deixa feliz de viver ali são as vantagens como segurança e tranquilidade. "Não tenho que me preocupar se a porta está fechada e, embora seja um condomínio fechado, todo mundo aqui tem vida própria, ninguém cuida da vida de ninguém. Tanto que tem gente que ainda não vi este ano".

Ao lado da esposa Marysa, com quem é casado há 60 anos, Flávio não tem dúvidas que o lugar é seu canto de paz. "Sou muito feliz aqui dentro. Não tem outro lugar que encontro a paz e a natureza que tenho aqui", comenta o morador.

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A maior característica é o verde por todo lado. (Foto: Fernando Antunes)
A maior característica é o verde por todo lado. (Foto: Fernando Antunes)
Algumas casas até parecem simples, mas são enormes por dentro. (Foto: Fernando Antunes)
Algumas casas até parecem simples, mas são enormes por dentro. (Foto: Fernando Antunes)
Cada lote tem cerca de 2.500 m². (Foto: Fernando Antunes)
Cada lote tem cerca de 2.500 m². (Foto: Fernando Antunes)
Casa de tijolinho à vista foi a terceira a ficar pronta no Jardim das Paineiras. (Foto: Fernando Antunes)
Casa de tijolinho à vista foi a terceira a ficar pronta no Jardim das Paineiras. (Foto: Fernando Antunes)
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