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Arquitetura

Com 71 anos de história, o futuro do Hotel Gaspar é ser destruído?

Antigos hóspedes ainda têm fé de rever portas abertas; hotel encerrou atividades em 2020

Por Aletheya Alves e Gabi Cenciarelli | 16/09/2025 06:45

Quando puxa as portas do Hotel Gaspar, Christian dá de cara com um casal. “Viemos tomar café”. Outro dia, um grupo desce de um ônibus de turismo, tira fotos do prédio de cinco pavimentos e uma senhora fica toda feliz quando vê a proprietária: “ai, vai reabrir o hotel?”. A resposta para os três foi a mesma que a neta de Gaspar precisou aprender a repetir nos últimos cinco anos. Nada de hotel aberto, pessoal.

RESUMO

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O Hotel Gaspar, edifício histórico de Campo Grande, continua atraindo visitantes mesmo após seu fechamento em 2020. A neta do fundador, Christian Gaspar, relata que curiosos ainda buscam o café da manhã, turistas fotografam a fachada e antigos hóspedes relembram histórias de personalidades como Xuxa e Che Guevara, que supostamente se hospedaram ali. Apesar do interesse, o prédio de cinco andares está à venda por R$ 6,8 milhões. Christian, guardiã das memórias do hotel, compartilha histórias e desmente boatos. Esclarece, por exemplo, que Xuxa nunca se hospedou no local, confundindo-o com o Hotel Campo Grande. Revela também a antiga função de central telefônica e lavanderia do edifício, além da possível ligação com a primeira rodoviária da cidade. Apesar da venda iminente, Christian espera que o futuro comprador, seja público ou privado, mantenha o espaço aberto à comunidade, preservando sua história e permitindo seu uso para eventos culturais.

Mas e sumir, ser destruído, se tornar apenas mais um terreno, isso é real?

Com 71 anos de história, o futuro do Hotel Gaspar é ser destruído?
Imagem antiga do "Grande Hotel Gaspar", como era estampado em sua fachada. (Foto: Arquivo pessoal)

Em 2020, Christian, que leva o sobrenome do avô, imaginou que os visitantes fossem cessar com o anúncio do fechamento. O porém é que as surpresas e os questionamentos sobre as hospedagens de Xuxa, Che Guevara, presidentes e um bom tanto de gente famosa continuaram aparecendo.

Agora, para além das lembranças e dos clientes inesperados, o saguão e as escadas também seguiram recebendo visitas planejadas por Chris, de pessoas que realmente conseguiram entrar e aproveitar um pouco do que permanece do hotel. Talvez esses sejam alguns dos motivos que o façam continuar parecendo vivo por dentro.

O problema é que lá atrás, a decisão foi pensada e continua firme. O prédio foi colocado à venda por R$ 6,8 milhões.

Ainda assim, com gosto por contar as histórias, mitos e curiosidades sobre o “Grande Hotel Gaspar”, como tinha estampado anos atrás em sua fachada, Chris nos incluiu no grupo de visitantes. Isso até para responder sobre o que será do futuro dos quartos, janelas, portas, paredes e por aí vai.

E desde que publicamos um vídeo em nossas redes sociais dando um preview da nossa conversa, vocês também fazem parte dessa galera. Mas como nossos leitores sabem, a matéria completa, com o máximo de respostas que conseguimos encontrar, chega por aqui.

Xuxa, central telefônica, 1ª rodoviária da cidade e, mais do que tudo, vão derrubar o Hotel Gaspar?

“Mostra a central telefônica”; “tem um senhor que testemunhou a hospedagem dele (Che Guevara)”; “podiam encontrar um investidor e reabrir” e o alarmante “do jeito que está, já já vão derrubar e destruir mais um prédio histórico”. Em um dia, não faltaram comentários nas publicações que fizemos.

O que faz sentido, já que vários foram previstos por Chris, incluindo o que assusta sobre tudo ser derrubado. Mas não, o Hotel Gaspar não vai virar poeira se depender da esperança de uma das herdeiras.

Eu espero que quem compre o hotel, seja o setor público ou o privado, possa fazer dele um ambiente aberto para as pessoas, como a gente fez durante todo o tempo que estivemos aqui. Que disponibilizem para filmar filme, fazer foto, matéria, para evento de dança, exposição, vernissage. É claro que lá no documento, estão os nomes dos meus irmãos e o meu. Somos os proprietários, mas na verdade, ele é muito maior que isso. O hotel é um patrimônio da cidade”, diz Christian Gaspar.

Quem consegue pensar em um prédio com 71 anos de história que siga com a mesma identidade? A neta diz que, com tristeza, não se recorda de nenhum além do hotel.

Inclusive, relembra o que vira e mexe a gente noticia por aqui: um dia, você vê a construção antiga com as marcas do tempo, no outro, vai ficando mais capenga até que em uma segunda-feira, ele não existe mais.

Eu lembro da construção da Antônio Maria Coelho, que ficava na esquina. Gente, a casa desmoronou, caiu. Passaram algumas semanas, tiraram tudo e agora é um terreno. Quer dizer, não temos memória, não temos história para contar”, exemplifica.

Com orgulho de dizer que isso não aconteceu com o Gaspar, Chris conta sobre os mitos, histórias e pedidos dos leitores. A central telefônica continua por lá, assim como as máquinas da antiga lavanderia - que dividia parede com o que muita gente diz ter sido a primeira rodoviária da cidade.

Na época dos trens, segundo Christian, os ônibus também passavam pela Calógeras e, em uma janela do hotel, se vendiam bilhetes. Considerando o tanto de gente que esperava próximo da ferrovia e entendia a região como centro de idas e vindas, a movimentação dos ônibus também era grande. Por isso o olhar que, de certa forma, se parecia com uma rodoviária.

Xuxa dormiu no Gaspar? Não, aí já é confusão com o Hotel Campo Grande - e, como explica a herdeira, nada incomum. Sobra gente perguntando se os Menudos passaram por ali,  assim como atletas da seleção de vôlei na década de 1980.

“Mas isso é mérito do Hotel Campo Grande. A história do Michel Teló ter aprendido a tocar acordeon aqui faz sentido porque depois da morte do meu avô, a família dele arrendou o hotel por cinco anos. Então a gente sempre via o Michel Teló pra lá e pra cá”.

E o Che Guevara? Rindo dessa lenda em específico, Chris brinca que um fugitivo não chegaria no balcão cheio de orgulho falando o nome em alto som. O homem até pode ter dormido ali, mas isso é algo que ninguém dá garantia.

As paredes não estão rachadas, estão resistindo

Histórias não faltam e parte delas não ficaram tão famosas, mas resistem assim como as paredes. A neta conta que uma curiosidade que aparece é sobre Getúlio Vargas ter aproveitado a sacada do hotel.

O ponto aqui é que isso seria impossível. Segundo ela, a inauguração do hotel precisou ser adiada justamente por causa de Vargas, já que dias antes do previsto, o então presidente se suicidou e não era possível celebrar a abertura.

Toda a alegria da família portuguesa em liberar os quartos que custaram a ser construídos ficou para ser compartilhada depois. E, no fim das contas, mesmo com tudo à venda, continua sendo comemorada até hoje.

Brincando que não dá para comparar a grossura das paredes do Gaspar com as feitas de drywall, a neta diz que nada ali rachou. A presença dos trens, o tempo e tudo o que poderia acontecer, não fizeram o espaço se desfazer. Nem as paredes, nem as histórias.

Inclusive, continuar contando e mostrando o espaço talvez seja mais uma estratégia de convencer os possíveis novos proprietários de que, de certa forma, o Gaspar precisa continuar sendo ele de alguma forma.

Com 71 anos de história, o futuro do Hotel Gaspar é ser destruído?
Registro guarda costume de quando cadeiras eram colocadas em frente ao hotel. (Foto: Arquivo pessoal)

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