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Arquitetura

Entre ruas movimentadas, quadrilátero da Vila Planalto é sossego de moradores

Apesar do crescimento do bairro, moradores preservam a arquitetura e a paz entre vizinhos

Thailla Torres | 23/06/2017 06:05
Parte do quadrilátero próximos as avenidas Julio de Castilho, Tamandaré e Noroeste. (Foto: Alcides Neto)
Parte do quadrilátero próximos as avenidas Julio de Castilho, Tamandaré e Noroeste. (Foto: Alcides Neto)

Apesar do cenário amadurecido com ruas cada vez mais movimentadas no entorno, o sossego ainda é presença em bairros de Campo Grande. E quem sustenta isso são os moradores. Em quadrilátero da Vila Planalto, bem próximo as Avenidas Júlio de Castilho, Orla Morena e Tamandaré, a tranquilidade é curiosa. Para quem aprecia de longe a vizinhança, tudo até parece ter parado no tempo.

O bairro cresceu e a maior parte dos terrenos deu lugar as construções modernas. Mas na Rua Bartolomeu Dias a cena é diferente. Toda quadra é praticamente tomada por casas antigas, a maioria, com mais de 50 anos.

A calçada larga surgiu com a chegada do asfalto, para alegria de quem mantém viva a grama esmeralda. Fica por conta das árvores o reforço da sombra que garante o ar mais fresco da região.

Na Vila Planalto, quase toda quadra é preservada com construções antigas.
Na Vila Planalto, quase toda quadra é preservada com construções antigas.
Dona Joana é moradora antiga e afirma que o lugar é tranquilo. (Foto: Alcides Neto)
Dona Joana é moradora antiga e afirma que o lugar é tranquilo. (Foto: Alcides Neto)

Há 37 anos, a família de Joana Fava chegou na residência histórica, construída na década 1940. Ela não se recorda da data certa da escritura do imóvel, mas tem certeza que a casa já passa dos 70 anos. "Quando eu cheguei aqui, já tinha passado outros moradores que, inclusive, um deles já passou aqui na frente lembrando que nasceu nessa residência", afirma.

Para ela, não é de hoje, que o lugar é especial. "Porque sempre tivemos sossego", resume. Dona Joana nunca cogitou trocar o lugar por uma casa mais nova, desde que um dos irmãos adquiriu o imóvel. "O modelo é antigo, mas a gente só quer dar uma pintura. Até porque tem casa nessa rua que é do tempo da guerra", brinca.

Com muro baixo e fachada visível, nada é um problema de segurança. O único receio é que visitantes tirem a tranquilidade, já que os vizinhos estão acostumados com o sossego da rua. "Sou do tempo que tinha aquele matagal ali na esquina dos trilhos. Quando veio a Orla Morena, o movimento cresceu e mais gente passa pela rua. Fico com medo de gurizada, mas fora isso, é um lugar muito tranquilo", diz.

Com estilo arquitetônico eclético, outra casa abriga moradores antigos, que batizaram o quadrilátero de ''cantinho especial''. "Eu não sei explicar o motivo, mas aqui é muito especial, por até parece fora da cidade, mas de repente as principais ruas estão logo ali", explica Aurora de Oliveira Prestes, de 70 anos, que mora na região desde 1985.

Aurora manteve a fachada de portão baixo já que a rua é tranquila. (Foto: Alcides Neto)
Aurora manteve a fachada de portão baixo já que a rua é tranquila. (Foto: Alcides Neto)
Detalhe do portão antigo, mas um que parece ter parado no tempo.
Detalhe do portão antigo, mas um que parece ter parado no tempo.

Ela deixou o bairro Jardim dos Estados para viver na Planalto com leveza. "Lá nas casas você só enxerga quando os carros entram na garagem. Mas eu gosto de tudo aberto e aqui a gente pode ter isso". 

Aurora não sabe explicar quanto tempo tem a residência, mas exibe a fachada que fez questão de manter. O tom de rosa entre o tijolinho à vista é lindo aos olhos de quem procura delicadeza na arquitetura. Do lado de dentro, ela fez modificações, mas nem chegou perto do azulejo desenhado, uma relíquia, que aparenta ser da década 1970.

"Já rodei a cidade, mas nunca mais encontrei. Queria colocar ele em toda a casa", explica, mostrando os cômodos diferentes que foram feitos depois da compra do imóvel. Ela mora com a irmã e se diz apaixonada pela região, mas por conta da idade, já planeja mudanças. "A casa é muito grande, não dá pra ficar arrumando e limpando só pra gente", explica.

Se dona Aurora mudar, será como os trilhos que deixaram saudades na vida dela. "Eu sempre gostei dessa região, porque é muito próximo ao Centro. Mas o melhor era o trem. Eu acordava quando escutava o barulho e, sou do tempo da Maria Fumaça. Viajei de Campo Grande a Corumbá para o casamento do meu irmão, que viagem maravilhosa", recorda.

A casa é antiga, mas a moradora não permitiu a entrada. (Foto: Alcides Neto)
A casa é antiga, mas a moradora não permitiu a entrada. (Foto: Alcides Neto)
Outra residência histórica, que segundo os moradores é da década de 60. (Foto: Alcides Neto)
Outra residência histórica, que segundo os moradores é da década de 60. (Foto: Alcides Neto)

Os trilhos se foram, mas o sossego ficou. "A gente não tem o que reclamar, é um pedacinho do bairro que na verdade nem parece ser perto do Centro. Eu sou bem antiga, fui criada em fazenda, acho que por isso que eu gosto dessa parte mais tranquila", diz a senhora.

E o bacana é que todo mundo se conhece. Cada vizinho sabe um pouco da história do outro.

Ao lado da casa de Aurora, há um imóvel antigo, com portão de ferro cheio de detalhes, mas o dono não aceitou a entrevista. Toda estrutura e acabamento mantêm aparência original. "Lá dentro é bem antigo, o chão é com aqueles azulejos portugueses e o banheiro é cumprido", revela a vizinha.

Andando mais um pouco pela rua, encontramos um terreno grande, que renderia uma casa nova, mas pertence a uma família que mantém edículas de madeira. Uma senhora, de poucas palavras, se identifica apenas como Nina. Parece arredia no interesse em falar sobre a rua e a história da casa que parece ter pelo menos 50 anos. "Eu não estou com tempo para conversar agora, não quero", mas não se incomoda de ver a casa sendo fotografada.

Tentamos então outra moradora, que não abre as portas, mas assume admiração por essa parte do bairro. "É um lugar que tem tudo e consegue ser tranquilo. A gente veio pra cá por conta do Centro", explica a aposentada Lais do Rego, de 64 anos.

Sem ter do que reclamar, ela diz que a sorte é que todo mundo se conhece. "A maioria já é morador antigo e todo mundo sabe quem vive na rua. Acho que isso deixa o clima mais tranquilo. Parece coisa do interior, né?", questiona.

Mesmo com o crescimento, ela acredita que nada muda por conta da preservação. "Cada um deve ter uma história e por isso quem já vive há algum tempo não consegue largar. Eu adoro esse canto, se eu mudar daqui, só se for para o interior", afirma.

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Vila de madeira é fofa para quem gosta do antigo. (Foto: Alcides Neto)
Vila de madeira é fofa para quem gosta do antigo. (Foto: Alcides Neto)
Na esquina, está um imóvel antigo que funcionou como mercearia na rua. (Foto: Alcides Neto)
Na esquina, está um imóvel antigo que funcionou como mercearia na rua. (Foto: Alcides Neto)
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