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Arquitetura

Na 14 de Julho, vila de 1960 é morada tranquila para a alegria das solteiras

Na região da feirona, vizinhança desbanca ideia de que o Centro é decadente

Thailla Torres | 25/03/2018 07:10
Renilde brinca que o lugar é morada para alegria das mulheres. (Foto: Thailla Torres)
Renilde brinca que o lugar é morada para alegria das mulheres. (Foto: Thailla Torres)

O lugar chama atenção pelo tipo de moradia difícil de resistir nos Centros das capitais. A “Vila Corado” segue firme nos altos da Rua 14 de Julho, desmoralizando a conversa de quem acha que o Centro de Campo Grande é região decadente. As casas ainda carregam um estilo antigo, daquelas que permanecem intocadas pelo tempo, são muito simples, mas a vizinhança prova que quem faz o lugar são as pessoas e as relações entre elas.

Do portão para dentro, a calmaria que reina até faz morador esquecer que está em uma região conhecida pelo vai e vem de dependentes químicos. Mas a paz encontrada por ali, é segundo as moradores, a alegria das “solteiras” que pu nunca encararam um casamento, ou desistiram de viver em casal.

Das 12 casas, "metade é ocupadas por mulheres", conta a moradora Renilde Taveira dos Santos, de 60 anos. Ela é quem tem a relação mais antiga com o lugar, desde que largou uma casa grande em outro bairro para viver na tranquilidade que a vila oferece. "Não gosto de viver em casa grande sozinha. Acho triste e ao mesmo tempo perigoso. Aqui todo mundo se conhece".

Apesar das portas abertas, é cada um na sua casa, mas sempre que podem, pegam um banquinho para falar da vida, família, novela e até do ex-marido. "Aqui todo mundo se conhece. Tem uns que não conversam muito, mas a gente respeita. Quando dá vontade a gente senta para conversar".

Vila tem quase 60 anos de história.
Vila tem quase 60 anos de história.
Em algumas das casas, piso ainda são antigos. (Foto: Thailla Torres)
Em algumas das casas, piso ainda são antigos. (Foto: Thailla Torres)

Além da calma do lugar, elas aproveitam a localização privilegiada perto de tudo. "A gente vai na feira, no baile, no bar da minha amiga. Aqui na região tem tudo pra gente se divertir", conta Marinete Ribeiro Madureira, de 55 anos, que vive na Corado há poucos meses. "Eu sai da Vila Planalto porque não tinha sossego, fui assaltada com a minha amiga e uma casa grande é perigoso".

Ali elas encontraram a segurança uma nas outras, em um apoio na base da vizinhança que nos tempos de hoje é algo conhecido por poucos. "Aqui a gente vê quem entra e quem sai o tempo todo, está sempre movimentado, isso ajuda", diz.

Do lado de fora, quem olha o corredor até pensa numa casa pequena, estilo kitnet, mas dona Renilde mostra o conforto. "Cada casa dessa tem três quartos, uma área de serviço no fundo e a sala é ótima". A arquitetura é a mesma, algumas ainda com armário embutido e o piso colorido, mas todas com paredes bem pintadas. No mais, a modernidade parece não ter chegado ali. 

A vila tem aproximadamente 60 anos de história, hoje um dos donos é Luiz Alberto Ramalho Pedroso, que chegou ali quando tinha 12 anos. "Meu avô tinha uma marcenaria ao lado, meu pai trabalhava com ele e a gente veio morar na vila, porque era mais perto".

Ione recomeçou a vida na Vila. (Foto: Thailla Torres)
Ione recomeçou a vida na Vila. (Foto: Thailla Torres)
Cãozinho, guardião da vila. (Foto: Thailla Torres)
Cãozinho, guardião da vila. (Foto: Thailla Torres)

A calma, o bom dia dos vizinhos e até a harmonia dos bichinhos que ficam na porta como guardiões das casas, convenceram Ione Vieira de Almeida, de 62 anos, a recomeçar a vida no lugar. Separada há um ano, o local hoje é cenário para a felicidade. "A gente precisa tentar ser feliz, né? Aqui pelo menos tenho a companhia dos vizinhos".

Ela conta que separou depois de muitas brigas e exigências dentro de casa. "Sou uma pessoa que gosta de limpeza e ele não gostava muito, então não deu certo. Mas nunca fui uma pessoa de morar sozinha, foi quando uma amiga me falou dessa vila".

Apesar de viver só na casa, ela não encontra a solidão. "Aqui a gente nunca se sente só".

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Trio de amigas, de vez em quando, se reúne para conversar sobre a vida. (Foto: Thailla Torres)
Trio de amigas, de vez em quando, se reúne para conversar sobre a vida. (Foto: Thailla Torres)
O lugar é daqueles que permanecem intocados pelo tempo. (Foto: Thailla Torres)
O lugar é daqueles que permanecem intocados pelo tempo. (Foto: Thailla Torres)
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