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Arquitetura

No Centro, prédio só pode ser vendido na 4ª geração para família continuar unida

Na década de 60, pecuarista construiu apartamentos na Afonso Pena e uma cláusula proíbe a venda

Thailla Torres | 30/08/2017 06:05
Prédio do meio é o Elisbério Barbosa, que até hoje pertence a mesma família. (Foto: André Bittar)
Prédio do meio é o Elisbério Barbosa, que até hoje pertence a mesma família. (Foto: André Bittar)

O edifício Elisbério Barbosa, na Avenida Afonso Pena, surgiu na década de 60 com o sonho de ver a família unida até, pelo menos, a quarta geração. Para que ninguém mudasse os planos, tem até contrato que proíbe a venda por muito tempo, um capricho de Elisbério, o criador do lugar.

Projetado e construído pelo engenheiro Hélio Baís Martins, um dos maiores empreendimentos da época tomou o lugar que até 1934 era ocupado pelo sobrado de linhas modernas, bem ao lado do antigo cinema Alhambra, que servia de morada para a família do pecuarista Elisbério de Souza Barbosa.

O fazendeiro partiu em 1977, meses antes de testemunhar o decreto assinado pelo presidente Ernesto Geisel para a divisão do Estado que também era um de seus sonhos. Quem lembra dos desejos do avô é o neto Martinho Santana Barbosa, de 59 anos, que hoje não vive mais no edifício mas tem muita história para contar aos filhos sobre porquê a família decidiu preservar tudo como o avô deixou.

Entrada do edifício Elisbério Barbosa. (Foto: André Bittar)
Entrada do edifício Elisbério Barbosa. (Foto: André Bittar)

Martinho tinha 8 anos quando começou a ver o avô carregar cimento junto com outros trabalhadores na obra, para o segundo prédio levantado por ele na cidade. "Meu avô era pecuarista, naquele tempo ele tinha uma reserva de dinheiro e resolveu investir em imóveis na cidade. Ele sabia que Campo Grande estava em crescimento e, por isso, construiu também o edifício Vespasiano Martins, na Rua Barão de Melgaço", lembra.

Com a sobra de materiais, Elisbério resolveu investir na avenida que viria ser a mais rica da cidade. "Foi um dos primeiros prédios. Eu lembro que ia junto com meu pai ajudar meu avô a transportar cimento com os engenheiros. Ele não via a hora de entregar o prédio para os filhos".

Elisbério pensou no futuro, mas longe do vínculo comercial. O edifício da Afonso Pena fora construído para ser morada da família durante muito tempo, por isso pensou em tantos outros detalhes.

"Meu avô foi muito inteligente, fez uma clausula na escritura de tudo o que era direito dos filhos e das próximas gerações que viriam. Entre as exigências, vovô quis que o registro pertencesse até a quarta geração da família. Que são meus filhos e primos".

Sabendo do sonho do avô desde a infância, Martinho viveu precisamente 38 anos no edifício. Acompanhou mudanças, evoluiu com o Centro e viu parte da família entrando e saindo entre os 11 andares do Elisbério Barbosa. "Foram bons tempos nessa avenida. Meu avô deixou um tesouro pra gente bem no coração de Campo Grande. Acho que por isso vivi tanto tempo por ali".

Detalhe da escada. (Foto: André Bittar)
Detalhe da escada. (Foto: André Bittar)

Mas com o crescimento da cidade, morar no Centro acabou se tornando um desafio. "Na época meu avô não pensou em estacionamento, como grande maioria de engenheiros e construtores da década 50 e 60. Hoje, morar com a família em um prédio sem estacionamento e área de lazer, acabou ficando inviável para alguns. Por isso alguns acabaram mudando".

A maior parte dos apartamentos ainda pertence a família. Alguns primos que atingiram a maior idade já conseguiram vender, o restante resolveu alugar. "É um ótimo apartamento. Os cômodos são grandes, temos uma visão ampla da cidade e muito bem arejado. Para quem não precisa de estacionamento, é o melhor prédio da cidade", ri.

Se o que pertence a ele também será vendido? Martinho deseja que não. "Eu espero que continue com a nossa família. É a história do vovô e acho que sou muito agradecido por tudo que ele construiu pra gente. Nossa missão é preservar", diz o pecuarista.

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(Foto: André Bittar)
(Foto: André Bittar)
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