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Arquitetura

Vila centenária é cortiço sem brigas e com simplicidade no meio do tumulto

Segundo os moradores, as casas têm 100 anos e a beleza do lugar está na arquitetura original

Thailla Torres | 29/08/2018 08:01
Vizinhos consideram a Vila Soares um cortiço diferente, sem brigas. (Foto: Thailla Torres)
Vizinhos consideram a Vila Soares um cortiço diferente, sem brigas. (Foto: Thailla Torres)

Um portão de ferro pequeno é divisa entre o trânsito intenso da Júlio de Castilhos e a tranquilidade de casas centenárias na Vila Planalto. Um cantinho com valor histórico suficiente para que moradores não deixem o espaço. O lugar é simples, mas basta passar pelo portão para sentir o clima diferente de quem faz daquela antiguidade toda um recanto.

Quem nos recebe é seu Plínio Ferreira Rodrigues, de 80 anos, que durante a tarde coloca a cadeira de fio no corredor para admirar a paisagem, que na verdade é uma das casas da "Vila Soares" que dela só restou as paredes. Os mais de 100 anos da construção, segundo os moradores, se encarregou de levar o telhado que já estava prestes a cair. Mas a estrutura permanece forte, "sem nenhuma rachadura grotesca", afirma Plínio.

Lucinéia mora na vila há 12 anos. (Foto: Thailla Torres)
Lucinéia mora na vila há 12 anos. (Foto: Thailla Torres)

Das seis casas construídas no terreno, todas são lindinhas pela pintura colorida, escolhida propositalmente para trazer harmonia ao espaço.  Mas ainda que as paredes denunciem a idade do lugar, as casas já perderam portas e janelas originais, algumas tiveram o interior completamente modificado, pelo menos, na casa Lucinéia Rodrigues, de 50 anos, filha de Plínio. "Quando eu cheguei aqui já tinha esse piso, então não fiz muitas mudanças, mas imagino que antigamente tinha algum ladrilho ou algo parecido".

Lucinéia é funcionária pública e mora na vila há 12 anos. Ela não se opõe a fazer um tour pela casa antiga com sala, dois quartos, banheiro, cozinha e um corredor pequeno que abriga o tanque. Sem muitas mobílias, o encanto para ela está do lado de fora. "É essa cara de coisa antiga e retrô que a vila tem, é que eu gosto".

Os filhos já quiseram ver a mãe numa casa mais aconchegante, com muro, em região menos movimentada da cidade. Mas Sandra diz que não abandona o lugar enquanto houver tempo de ficar ali. "Já morei em outros lugares, mas quando eu conheci essa vila, achei tão bonita. Brinco que parece a Vila do Chaves, pelas cores, pela vizinhança que se conhece".

Sandra conheceu a vila por amiga e hoje tem transformado a casa histórica. (Foto: Thailla Torres)
Sandra conheceu a vila por amiga e hoje tem transformado a casa histórica. (Foto: Thailla Torres)

O lugar tem cara de cortiço, "mas sem briga", nas palavras da moradora. "É um lugar muito lindinho e tranquilo. Quem mora aqui vive pela tranquilidade e não por luxo".

A escolha da região também se deu pelo gosto por coisas antigas. "Sempre amei antiguidades, acho que elas tem um valor muito maior, não pelo dinheiro, mas pelo sentimento. Por isso não mudo, meus filhos já pediram, mas eu continuo aqui".

Lucinéia também convenceu a amiga Sandra Aparecida Gueres de Melo, de 48 anos, a viver no lugar. Dona da casa mais cor de rosa da vila, logo na entrada o cuidado com as plantas é o que sustenta o pouquinho de verde entre as moradias. De todas, a de Sandra é a mais reformada. "Troquei piso do banheiro, aumentei a cozinha e pintei a fachada".

Todo cuidado é pela felicidade da primeira conquista. "Durante muito tempo morei no emprego, sempre fui empregada doméstica, mas desde que consegui pagar meu primeiro aluguel, faço de tudo para deixar minha casa bonita".

O que diferencia o lugar é o estilo arquitetônico e o colorido que traz harmonia para os moradores. (Foto: Thailla Torres)
O que diferencia o lugar é o estilo arquitetônico e o colorido que traz harmonia para os moradores. (Foto: Thailla Torres)
Paredes que exibem o tijolo original usado na construção. (foto: Thailla Torres)
Paredes que exibem o tijolo original usado na construção. (foto: Thailla Torres)
Das seis casas da vila, duas delas perderam os telhados, mas não o valor histórico para os moradores. (Foto: Thailla Torres)
Das seis casas da vila, duas delas perderam os telhados, mas não o valor histórico para os moradores. (Foto: Thailla Torres)

Ela exibe alguns móveis, bem conservados, doados pelos patrões. No vai e vem da conversa longa, ela conta que o cuidado com a casa é o jeitinho de continuar fazendo o melhor no trabalho. "Porque cuido da casa dos outros do jeito que gosto de cuidar da minha".

Sandra também enxerga na vila a tranquilidade que durante anos lutou para conseguir. "Não tive uma vida fácil, aprendi trabalhar aos 12 anos depois de perder minha mãe e meu pai. Fiquei pulando de casa em casa até aprender fazer o serviço direito, até que uma família me ensinou a trabalhar".

Nascida em São Paulo, foi através dos primos que conheceu Campo Grande e escolheu ficar. "Quando cheguei não consegui mais sair. É bem mais tranquilo que São Paulo, e essa paz não tem preço".

Por isso, se mudar da vila não está nos planos. "Só saio daqui expulsa", brinca.

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