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Artes

Cultura sai, crime entra: Sem teatro, moradores dizem que Orla está "morrendo"

Elverson Cardozo | 08/03/2015 07:45
Arena da Orla hoje. (Foto: Alcides Neto)
Arena da Orla hoje. (Foto: Alcides Neto)

Qual a graça de um espaço sem arte? Não tem. A graça faz parte da arte e esta, por sua vez, tem o poder de mudar a realidade. Isso não é segredo para ninguém. Mas, em alguns casos, um movimento artístico só recebe o devido valor quando, infelizmente, deixa de existir.

Foi o que aconteceu na Orla Morena, em Campo Grande. As apresentações de teatro, que aconteciam às quintas-feiras, costumava reunir famílias na arena. Já era tradição. Mas sem verba da Prefeitura para o cachê, o projeto acabou.

Os moradores, mesmo os mais avessos a esse tipo de movimento, sentiram, e da pior forma possível. “A população está reclamando de assaltos, roubo e furtos”, diz o presidente da Associação Amigos da Orla Morena, Ricardo Sanches, de 32 anos.

“O espaço está abandonado. Não tem mais teatro e agora está dominado pela gurizada que vem de todo o canto da cidade. […] Ali eles usam drogas, bebem, vandalizam. É uma situação complicada. O espaço não está sendo usado de forma adequada porque é uma arena teatral”, acrescenta.

Nesta quinta (5), por exemplo, a polícia teve o maior trabalho, afirmou. Uma confusão generalizada, após abordagem a um adolescente, terminou com um policial agredido. A tropa de choque precisou intervir. “Jogaram até bomba de gás”, diz, ao comentar que não tinha outra saída.

Sem apresentações, a Orla tem ficado, nas palavras do presidente, “cada vez mais ociosa”. “Desde o início do ano está nessa situação. Antes, eram um ambiente gostoso onde famílias, crianças e até idosos frequentavam. Agora está incontrolável”.

O palhaço e ator Pietro Lara, 30, da Trupe Bobos da Plebe, relata a mesma situação. Ele, que já se apresentou na arena por diversas vezes, viu a arte ir embora mais cedo e, por isso, lamenta.

“Sou morador de um bairro próximo e eu sempre vou à feirinha para comer. Eu percebi que, quando tinha o teatro, era bem mais familiar. Tinha crianças... Era tradição mesmo. Agora acabou. Senti que o clima ficou mais pesado”.

Dia de teatro, com a Orla lotada de famílias, quando o projeto ainda existia.
Dia de teatro, com a Orla lotada de famílias, quando o projeto ainda existia.

Reunião - A preocupação é tanta que na sexta-feira, Ricardo, o presidente da Associação, realizou uma reunião com moradores, diretores de escolas próximas e com os comandos da PM (Polícia Militar) e Guarda Municipal.

Com o apoio dos moradores, ele pede o retorno de projetos culturais para salvar a Orla desse cenário, que só tende a piorar e segurança até que isso ocorro. Não é só ele quem briga por isso. A turma da ginástica, do projeto Movimente-se (as Sabrinet's), teve que fazer brigar para conseguir retornar o local depois que o projeto foi suspens pela Prefeitura.

Os praticantes do Zouk (dança caribenha das Antilhas Francesas, também popular em países africanos) ainda tentam retomar as atividades depois de serem expulsos e irem parar na Praça do Peixe, no Vilas Boas.

Em uma época de caos na cultura de Campo Grande, o que tem salvado as noites da Orla são os persistentes, artistas e moradores, que acreditam na arte como instrumento de transformação social e, por isso, gritam para o povo perceber que nada vai bem, durante protestos na semana que passou.

A Fundação de Cultura de Campo Grande avisa que não há previsão para retomada dos projetos no local. Segundo o órgão, isso depende de liberação de recursos pela Secretaria de Finanças.

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