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Artes

Dono de 3 bares do passado, psicólogo guarda um pouco da história dos anos 80

Naiane Mesquita | 02/03/2016 06:23
Foto interna do Spazio mostra o movimento da época (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto interna do Spazio mostra o movimento da época (Foto: Arquivo Pessoal)

Psicólogo de longa data, Rômulo Said Monteiro, 62 anos, já teve outros tipos de divãs. “Acho que pela minha profissão, eu sempre soube como conversar e receber os clientes”, garante. No início da década de 1980, o recém-chegado de São Paulo se interessou pelo ramo de bares e restaurantes. O primeiro estabelecimento que tocou foi o Casa Vechia, seguido do Spazio, Sanduíche & Cia e por fim, a sociedade no Park's.

Rômulo com a equipe do Sanduíche e Cia (Foto: Arquivo Pessoal)
Rômulo com a equipe do Sanduíche e Cia (Foto: Arquivo Pessoal)

“Quando cheguei aqui, eu trabalhava no consultório como psicólogo e na Santa Casa. Conheci o dono do Casa Vechia e decidi entrar para a sociedade. Isso foi em 1981 a 1982. Eu não entendia nada de culinária, mas gostava do bar. Depois nos desentendemos e eu acabei saindo da sociedade”, resume.

A curta experiência foi o suficiente para plantar a semente em Rômulo. Decidido a seguir na noite, ele reuniu as economias e abriu o Spazio. O bar e restaurante era nos moldes de um bar na rua Augusta, em São Paulo. “A casa ficava na rua Dom Aquino, era velha, mas ficou bem legal com a decoração. De um lado era mais restaurante, um pouco italiano, do outro era o bar, com tijolinho à vista, do mais vagabundo que eu encontrei, porque estava sem dinheiro. Mas, ficou bábaro”, diz, ainda empolgado.

O ano era de 1982 e segundo Rômulo, a cidade pipocava de gente nova. “Foi uma época em que muitas pessoas chegavam de fora para morar em Campo Grande, cariocas, mineiros, paulistas. O Spazio virou um ponto de encontro para quem queria se enturmar, uma referência entre amigos. O Estado tinha sido dividido e Campo Grande era uma terra nova para se morar, isso atraiu muita gente”, explica.

A fachada de onde ficava o Spazio. As fotos antigas foram perdidas pelo tempo (Foto: Fernando Antunes)
A fachada de onde ficava o Spazio. As fotos antigas foram perdidas pelo tempo (Foto: Fernando Antunes)
Rômulo foi sócio de três bares em Campo Grande na década de 80 (Foto: Fernando Antunes)
Rômulo foi sócio de três bares em Campo Grande na década de 80 (Foto: Fernando Antunes)

Na época, Rômulo decidiu incluir música ao vivo no bar. “Lembro da primeira vez que a Maria Cláudia subiu ao palco. A Marisa Machado, jornalista, vivia no bar. Todo mundo era uma família. Um dia, faltou uma copeira e o bar estava lotado, quando vi, a Marisa estava ajudando a lavar a louça. Foi um tempo bom”, relembra.

Apesar do sucesso, o bar ficou em alta de 1982 a 1985. “Sai de lá falido. Com uma bicicleta só”, ri Rômulo. “Nunca tive formação administrativa. Eu tinha vocação para conversar com os clientes, não fazia terapia, mas recebia bem”, acrescenta.

Em busca de um novo sentido para a noite e para a carreira, Rômulo voltou para São Paulo em busca de inspirações. Lá, decidiu que faria algo mais moderno. Foi quando surgiu a Sanduíche e Cia. “Abrie em uma casa na 13 de junho, toda rachada, com mato alto, varanda em meia lua, bem estilo as casas antigas de Campo Grande. Fui na Brahma, consegui uma parceria, eles bancaram muita coisa. Contratei um arquiteto e a casa nasceu”, frisa.

O cardápio era todo engraçadinho. “O de dieta chamava Galinha Magricela, o de três camadas era o À Troa. O nosso forte eram os crepes. Até hoje encontro pessoas que sentem muita saudade dos nossos crepes. Na década de 86 era raro encontrar um cardápio assim. Nós que criamos tudo, fomos testando, eu tinha uma cozinheira ótima, desde a Casa Vechia, até fiz um penne com o nome dela, Penne à Angelina”, diz, saudosista.

Faixa do Sanduiche e Cia que ficava na rua 13 de junho (Foto: Arquivo Pessoal)
Faixa do Sanduiche e Cia que ficava na rua 13 de junho (Foto: Arquivo Pessoal)

No Sanduíche e Cia, Rômulo ficou de 1986 até 1994. “Depois foi quando eu comprei o Park's. Fiquei lá até 1994, quando passou para o Silvio Nucci”. Para o psicólogo, um clima estranho estava no ar. “Não era mais a mesma coisa, não sei explicar. Cansei e decidi vender. Comecei a organizar eventos esportivos e então me lembrei que era psicólogo”, brinca.

Focado na carreira, Rômulo agora só frequenta os bares. “Não deixo de ir”. Mesmo assim, ainda tem ideias do que poderia ser feito para agitar a noite da cidade. “Talvez criar bares em que as pessoas se sintam bem indo sozinhas, mas vou deixar para o meu filho. Eu não dou conta mais”.

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