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Artes

Grupo de teatro interrompe correria do dia a dia de quem passava pela Ary Coelho

Sem aviso prévio, em ensaio aberto no meio da praça, Maracangalha cantou para quem passava pelo centro ontem de manhã

Gustavo Maia | 18/12/2018 08:56
Grupo Imaginário Maracangalha fez ensaio aberto na praça para testar interação com o público. (Foto: Gustavo Maia)
Grupo Imaginário Maracangalha fez ensaio aberto na praça para testar interação com o público. (Foto: Gustavo Maia)

Ontem, pouco depois das dez da manhã, em pleno verão campo-grandense, quem passava pela praça Ary Coelho se deparou com uma cena que quebrou a rotina de muita gente: O grupo de teatro Imaginário Maracangalha montou um coral e foi para a rua soltar a voz num ensaio aberto.

Na correria do Centro da cidade, quem chegava para esperar o ônibus, ou descia no ponto da avenida Afonso Pena, dava uma desacelerada no passo ou até mesmo uma paradinha rápida pra ouvir o grupo cantar. Quem descia dos ônibus era surpreendido pelo coral e as reações foram diversas, do espanto, à emoção.

Kaila Alves foi surpreendida pelo grupo. (Foto: Gustavo Maia)
Kaila Alves foi surpreendida pelo grupo. (Foto: Gustavo Maia)

Kaila Alves, de 33 anos, desceu do ônibus com os filhos e foi recepcionada pela apresentação. "Gostei da ideia, nunca tinha visto algo do tipo".

Quem também nunca encontrou um coral no meio da rua é a estudante Érica Rodrigues, de 20 anos, que estava na praça divulgando um curso à distância. Ela acredita que topar com essa situação, assim de surpresa, pode “melhorar o dia de alguém que está triste, ou tendo um dia ruim”, avalia.

Antônio Alves, de 60 anos, que deixou um trocadinho no chapéu dos artistas, adorou se deparar com a cena. “No dia de hoje, com tanta violência nas ruas, nesse corre-corre de gente. Você acaba dando uma relaxada”.

Dona Clarice Sales, de 69 anos, parou para aplaudir e gostaria que a ideia se espalhe pela cidade. “Eu tava precisando ver algo assim. Aqui as pessoas não têm costume de fazer isso, mas eu recebo vídeo direto de coisas assim em outras cidades”, sugere. As adolescentes Larissa Ortega e Cyellen Alexandra, de 17 e 16 anos, que estudam no Instituto Mirim, também disseram que a surpresa foi boa. “As pessoas não ligam, não fazem mais essas coisas, é difícil ver isso hoje em dia. Mas é bonito, traz um sentimento bom”, contam.

Menores Aprendizes pararam para curtir o ensaio aberto. (Foto: Gustavo Maia)
Menores Aprendizes pararam para curtir o ensaio aberto. (Foto: Gustavo Maia)
Para José Mauro, não pode ter coral só na época do natal. (Foto: Gustavo Maia)
Para José Mauro, não pode ter coral só na época do natal. (Foto: Gustavo Maia)
No meio do caminho, tinha um coral. (Foto: Gustavo Maia)
No meio do caminho, tinha um coral. (Foto: Gustavo Maia)
De dentro do ônibus, quem não desceu ficou só na curiosidade. (Foto: Gustavo Maia)
De dentro do ônibus, quem não desceu ficou só na curiosidade. (Foto: Gustavo Maia)

O estudante José Mauro, de 41 anos, aprova a iniciativa e diz que quem gosta de arte para pra ouvir. Mas ele questiona o fato de surgirem grupos “distribuindo alegria” só no natal. “Tinha que ter o ano inteiro, ia ser fantástico. A gente só vê coral cantando na época do natal. Só vê grupo de samba na rua no mês do carnaval”, aponta. Já para o artesão Flávio Barbosa, de 45 anos, que está sempre na praça vendendo sua arte, apresentações desse tipo são comuns ali na Ary Coelho e são sempre bem vindas. Para ele, toda forma de arte é positiva.

Durante todo o ano o Imaginário Maracangalha recebeu ações de formação para os atores e atrizes do grupo, e o ensaio aberto é uma espécie de prova final das aulas de canto com Júlia Mendes, mestra em música pela UFRJ. Além da voz, ao longo do ano eles também estudaram percussão com o baiano Luiz Carlos Santana, percussionista da orquestra Vai Quem Vem. Já os estudos sobre a parte corporal foram dirigidos pela coreógrafa cearense Dora Andrade.

O ator e palhaço Pepa Quadrini, integrante do Maracangalha, conta que a apresentação reúne as músicas usadas por eles em vários espetáculos e cortejos. “Cantamos um pouquinho de tudo que já apresentamos nas nossas peças. A gente precisa sentir como é cantar com essas interferências que a rua tem - ônibus passando, gente conversando, buzina, enfim - e ver se funciona”.

Pegar o celular e ligar a câmera foi a primeira reação de quase todo mundo que parou para assistir. (Foto: Gustavo Maia)
Pegar o celular e ligar a câmera foi a primeira reação de quase todo mundo que parou para assistir. (Foto: Gustavo Maia)

Fernando Cruz, diretor do coletivo, explica que é necessário esse diálogo com a rua, com a cidade. Ele acrescenta ainda que essa formação em canto é uma descoberta e marca uma nova etapa para o grupo, que trabalha com teatro de rua. “A rua sempre cobrou de nós essa preparação técnica. A gente precisa desenvolver essa potência necessária para cantar na rua. E poder cantar assim é um alento para ambos - tanto pra gente quanto quem tá passando. É um encontro de trabalhadores, onde os trabalhadores da arte e os trabalhadores da rua se misturam”, argumenta.

No fim do ensaio o grupo saiu em cortejo pela praça, seguido por alguns e acompanhado apenas com olhar por outros, deixando para trás um pequena mudança no dia de alguém.

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Em pleno sol de meio dia, cortejo encerrou ensaio aberto na Praça Ary Coelho. (Foto: Gustavo Maia)
Em pleno sol de meio dia, cortejo encerrou ensaio aberto na Praça Ary Coelho. (Foto: Gustavo Maia)
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