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Artes

Há 6 anos, na última 5ª do mês, Sarau reúne de tudo um pouco no Universitário

Paula Maciulevicius | 01/02/2014 07:30
O Sarau dos Amigos ganhou proporção à altura do que as artes, dança, literatura, gastronomia e música tem a oferecer. (Fotos: Marcos Ermínio)
O Sarau dos Amigos ganhou proporção à altura do que as artes, dança, literatura, gastronomia e música tem a oferecer. (Fotos: Marcos Ermínio)

Seis anos atrás, cinco amigos, um quintal na rua Elvira Matos de Oliveira e uma vontade enorme de fazer cultura onde não tinha, no bairro Universitário, em Campo Grande. O Sarau dos Amigos começou com eles, mas nunca foi só deles. Ganhou proporção à altura do que as artes, dança, literatura, gastronomia e música tem a oferecer. Ultrapassaram os limites do muro e do portão, que na casa 927, sempre estiveram abertos e hoje é feito por todos. Desde o vizinho que mesmo durante o aniversário da mãe, sai da festa para emprestar o cabo para o som, até a dupla Tangará e Zé Viola. É formado pelo público, artistas, vizinhos e por que não, pelo menos àquelas quintas, dizer amigos?

O quintal não é grande em espaço métrico, mas parece se duplicar com a chegada das pessoas. De cara, se vê o local para destinação do que é cobrado na entrada, 1 quilo de alimento não perecível, que vai para as ações sociais dos vicentinos. À esquerda, a fumaça do espetinho, À direita, um dos precursores, o artista plástico Apres Gomes, mostra sua arte.

O corredor tem de tudo, luminárias, garrafas, trabalho artesanal até o pão caseiro da dona Maria José Santos da Silva, de 57 anos, que está ali pela quarta vez. Da costura pulou para a produção de pães e diz pra todo mundo o bem que o sarau lhe faz. “É distração, alegria. Se você tem problema vem pra cá que aqui você esquece”.

Dona Maria vende pão caseiro e já ensaia para cantar Alcione no próximo sarau.
Dona Maria vende pão caseiro e já ensaia para cantar Alcione no próximo sarau.

Não é só a renda extra que entra a cada sarau. É a energia do local que fez até com que ela resolvesse dar uma palhinha. Ainda não tomou coragem para enfim subir ao palco, mas diz que a música está ensaiadíssima, na ponta da língua. “Você é um negão de tirar o chapéu, da Alcione. Vou vir toda brilhosa, com uma roupa igual a dela”, planeja.

E de uma hora para a outra, sem que a gente perceba, o lugar se enche de gente. Do velho à criança, do músico ao vizinho, a aglomeração no quintal vai tomando a forma de sarau.

No microfone, outro responsável por começar o projeto compartilha o que sempre ouve. “O sarau é longe, mas não é longe, eu moro há quatro quadras”, brinca.

O sarau já teve vários convites para se mudar. Instituições chegaram a oferecer espaço. Mas eles não arredam o pé da Elvira Matos de Oliveira. “A gente não quer perder esse encontro no quintal de casa, é isso que mantém a magia gostosa, que aproxima as pessoas”, afirma o dono da casa, Eduardo Romero.

O casal Luiz Antônio e Ângela são a prova viva de que o sarau é para todos. Saem do Jardim Bela Vista para o Universitário todas as últimas quintas do mês.
O casal Luiz Antônio e Ângela são a prova viva de que o sarau é para todos. Saem do Jardim Bela Vista para o Universitário todas as últimas quintas do mês.

É de se questionar o que faz um evento deste num bairro distante da região central vingar por tanto tempo. A resposta está na produção coletiva. Na ajuda mútua e no compromisso de levar e fazer cultura.

“O que garante a vida é a forma como é produzido, é a maneira de produzir, de fazer a coisa acontecer. É diferente de uso comercial, aqui as pessoas ajudam a fazer”, explica Romero.

É deixado espaço para as palhinhas, até para não perder aquilo de sarau mesmo. No entanto, cada edição tem uma programação prévia para garantir o mínimo de atividades, como peça de teatro, músicas de diferentes gêneros.

O surgimento do sarau veio da necessidade que quatro, dos cinco fundadores, Elânio Rodrigues, Cleber Dias, Thathy D’Meo, Eduardo Romero e Apres Gomes, tinham de mostrar o que produziam no teatro para familiares e amigos. A companhia “Caras de Pau” era vista por um público que até então, não era composto pela própria comunidade.

O mesmo público cresceu a cada sarau e hoje não é balela dizer que tem quem atravesse a cidade para comparecer ao compromisso das quintas. O casal Luiz Antônio e Ângela são a prova viva. Saem do Jardim Bela Vista para o Universitário todas as últimas quintas do mês e estão, religiosamente, às 19h no sarau.

Ela, aposentada do Banco do Brasil, ele corretor de seguros, que um dia viu a divulgação do sarau na internet e resolveu ver o que era. Hoje, três anos depois, chegam a ajudar a recolher as cadeiras.

“A gente já virou folclore aqui. Volta e meia, tem peça que eles fazem e colocam nossos nomes, olha o Luiz já está aqui”, conta o participante fiel.

Ângela resume o que o sarau é para ela e os demais. “Esse quintal é mágico. A gente chega aqui, tem uma magia, as coisas que vão apresentar, são diferentes todos os dias. O que mantém essa liberdade de espaço é a miscigenação”.

A próxima edição do sarau é quinta-feira, dia 27 de fevereiro. Vida longa ao Sarau dos Amigos.

E de uma hora para a outra, sem que a gente perceba, o lugar se enche de gente. Este é o sarau.
E de uma hora para a outra, sem que a gente perceba, o lugar se enche de gente. Este é o sarau.
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