ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, TERÇA  19    CAMPO GRANDE 26º

Artes

Longe do tabu, artista usa sangue menstrual para fazer obras de arte

A artista visual Marília Sinãni retratou com sangue até as queimada no Pantanal

Thailla Torres | 24/10/2020 08:55
Uma das obras feitas por Marília. (Foto: Arquivo Pessoal)
Uma das obras feitas por Marília. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nos últimos meses, a artista visual Marília Cláudia Favreto Sinãni usou seu fluxo menstrual para criar obras únicas. Ela chegou a um resultado surpreendente que envolve arte, curiosidade e um processo de autoconhecimento.

“Bom, toda a humanidade está passando por este processo. Passar a quarentena morando sozinha é não ter mais nada para olhar além de si mesma. Deparei-me comigo ali, tudo o que eu fui, sou e hei de ser. Nisso, eu comecei a estudar sobre o ciclo menstrual com uma consultora em saúde e educação sexual chamada Telma Pizzolio que me ensinou tudo sobre este processo de autoconhecimento a partir do ciclo menstrual para que estes trabalhos existissem”, conta a artista visual.

Os ensinamentos, segundo Marília, contribuíram para que se conhecesse e desejou que outras pessoas que menstruam sentissem o mesmo. “Por ser artista, pensei em levar esta descoberta para o mundo por meio da arte. Então, como eu uso coletor menstrual, coletei o meu sangue e resolvi experimentá-lo como material artístico. E deu muito certo”.

Usando o próprio sangue ela também retratou as queimadas do Pantanal.
Usando o próprio sangue ela também retratou as queimadas do Pantanal.

A pigmentação que proporciona várias possibilidades estéticas vai além. “Você se conecta consigo mesma. Há todo um preparo emocional e mental para lidar com o sangue menstrual como material artístico, mas é mágico. O nosso sangue não tem cheiro, é só sangue”, diz.

Desde pequena, Marília diz que a mãe sempre dizia que a avó da Bolívia tratava o sangue menstrual de uma forma bonita e natural. “E me ensinou que eu não devia ter nojo do meu sangue, que ele era limpo e sempre me incentivou a usar panos ou tecidos ao invés de utilizar o absorvente descartável. Porém, entrei no auge da adolescência e fui usar o absorvente descartável. Comecei a ter uma relação diferente com o meu sangue”.

As obras também retratam as mulheres que habitam Marília.
As obras também retratam as mulheres que habitam Marília.

Hoje Marília tenta ressignificar a menstruação. “Em várias comunidades a menstruação é vista com outros olhos, existem até rituais para celebrá-la. Tive medo de postar meus trabalhos na internet porque poderia muito bem sofrer preconceito de pessoas que ainda não entendem sobre, mas se eu não o fizesse, quem ia?”, questionou.

Sobre as obras - Essa série é plural, considerada pela artista um resgate. “Um resgate com a ancestralidade e com o sagrado feminino. É um convite para que as pessoas que menstruam olhem para si mesmas e pensem sobre os seus corpos e compreendam o seu ciclo menstrual”.

As obras retratam as mulheres que habitam Marília. “Sou uma menina, uma mulher, uma anciã, todas ao mesmo tempo. Quando a gente aceita isso, a vida é outra coisa. Retratei também as minhas impressões do mundo. Fiz uma pintura com o sangue menstrual sobre as queimadas que o Pantanal estava sofrendo, foi muito doloroso o processo criativo desta produção porque nós seres humanos fazemos parte da natureza e estamos acabando com ela por puro egoísmo. Eu vi o meu sangue, que é sinônimo de vida, de fertilidade, sendo material artístico para representar a morte”.

Agora, Marília prevê uma nova série. “Estou cheia de ideias. E vou dar a cara para bater porque as pessoas ainda enxergam isso como um tabu, algo nojento, mas alguém precisa gritar para o mundo que não é assim”, finaliza.

"E vou dar a cara para bater porque as pessoas ainda enxergam isso como um tabu", diz a artista.
"E vou dar a cara para bater porque as pessoas ainda enxergam isso como um tabu", diz a artista.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.

Nos siga no Google Notícias