No varal de poesias, quem é mesmo Manoel de Barros?

Poesias, um coreto e pronto, armado o cenário certo para a cultura em praça pública. Em camisetas, calças ou até na fralda descartável, as frases simples, escritas depois de muita pesquisa com palavras, vão indicando quem é o autor.

Manoel de Barros hoje está na Praça Ary Coelho, com formigas e pássaros “livres para pousar”. Chegou pelas mãos da atriz Ramona Rodrigues, para “abrir as comemorações” dos 96 anos do nosso poeta, a serem completados no dia 19 de dezembro.

“Livro é caro, eu sei. Mas agora não tem desculpa é só passar aqui é ler”, explica. O Labirinto Poético criado por ela este ano tem a letra de 21 alunos de oficina de artes cênicas. Cada um escolheu o poema preferido e em um pedaço de pano foi escrevendo.

No coreto novinho em folha, recém inaugurado na praça, os mais descolados podem pegar o microfone e declamar um dos textos espalhados em 96 peças de roupas e tecidos estendidos.

Mas a dificuldade não está apenas em encontrar alguém disposto a declamar.

Na praça, o olhar é curioso, mas a vendedora Crislaine Gonçalves, de 23 anos, nem sequer sabe quem é Manoel de Barros. “Não gosto de ler, tenho preguiça”, justifica. A manicure Shirlei Gonçalves até arrisca um palpite: “Ele foi o fundador da cidade”.

Tudo bem, aposto que para Manoel o que importa mesmo é a leitura. Algo que para o encarregado de serviços gerais, Jucelei Lino, também parece fundamental.

Ele estudou apenas até a 8ª série, mas nunca “desgostou” de ler. “Sei quem é o Manoel de Barros, mas nunca tive a oportunidade de conhecer toda a obra. Aqui, fiquei prestando atenção, mas agora tenho de voltar para o trabalho”, se despede.

Há 15 anos, Ramona Rodriguez pesquisa a obra de Manoel de Barros e todo ano em parceria com a Cia. das Artes comemora o fato de estar tão perto do poeta, que vive em Campo Grande.

O Labirinto Poético está aberto na praça só hoje, até 21 horas.