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Artes

Poesia feita por menino de 9 anos vira teatro contemporâneo com elenco suspenso

A mesma peça estreou há 10 anos, mas naquela época Campo Grande parecia não estar preparada para tamanha tragédia poética

Thailla Torres | 19/09/2018 08:43
Um peça para rir, chorar, refletir e sonhar junto com os quatro atores que dão vida aos personagens. (Foto: Larissa Pulchério)
Um peça para rir, chorar, refletir e sonhar junto com os quatro atores que dão vida aos personagens. (Foto: Larissa Pulchério)

O cenário dramático, feito de cordas, um cubo de ferro e bancos de madeira, é ambiente cheio de surpresas na peça “Poesias do Ar Cênico”. Na adaptação de quatro poemas escritos pelo campo-grandense Anderson Bosh, a companhia Circo do Mato dá vida a personagens que vão de sonhos até assuntos muito delicados, como a violência à mulher. 

Um peça para rir, chorar, aplaudir e sonhar, com os atores Mauro Guimarães, Luciana Kreutzer, Douglas Caetano e Glaucia Pires, que vivem os protagonistas 7 Estrelas, Leonora, Azedinha e a Fazenda. A identificação dos personagens acontece a partir das falas, mas no decorrer de 75 minutos, o público encontra diversos personagens diferentes que narram quatro histórias em versos.

Detalhes contemporâneos estão no texto e no cenário onde os personagens flutuam, ficam suspensos em cadeiras, se penduram de cabeça para baixo em ferros, mas em momento algum encostam os pés no chão. “Uma das primeiras questões é romper com tudo que já existe, sem a presença da estética teatral ou que se convencionou a chamar de cenário, por isso essa instalação, também feita por mim, dá suporte para quatro histórias serem contadas”, explica o diretor Anderson, aos 46 anos.

São 75 minutos de peça que narram poesias escritas há mais de 35 anos. (Foto: Larissa Pulchério)
São 75 minutos de peça que narram poesias escritas há mais de 35 anos. (Foto: Larissa Pulchério)

Dono das quatro poesias que compõe as histórias na arena, Anderson revela que os textos foram escritos na infância, um deles, o que encerra a peça, foi feito aos 9 anos de idade quando ganhou um caderninho de poesias da mãe. “Até hoje ele está guardado em um baú, vai para posteridade”, brinca.

As poesias são distintas, a que abre fala sobre reinvenção do universo, revela o diretor. “Temos a Fazenda, que todo mundo espera que seja uma propriedade, mas é uma espécie de Deus, que reinventa o universo, os assuntos, o posicionamento das coisas, até por isso ninguém coloca o pé no chão”.

De um jeito bem humorado e até dramático, os personagens falam de muitas formas sobre os diversos assuntos, e a instalação faz o público viajar em diversos gêneros da arte. “Você assiste ao espetáculo e não sabe se é arte, circo, dança ou teatro, é realmente um espetáculo contemporâneo, do qual sentíamos falta em Campo Grande”.

Em alguns momentos o público vai se surpreender com a realidade, exposta de forma intensa, o que conquista quem assiste pelo coração, garante Anderson. “A obra traz assuntos bastante contemporâneos como a legitimidade de fala da mulher e sua representatividade. Em dois momentos isso é tratado de maneira bem forte. Tem gente que sai meio chocado, não está acostumado com a estética, porque são tratados com muita clareza. Tem uma parte do espetáculo em que a gente deixa bem agressiva e as pessoas percebem que isso acontece todo dia e a cada segundo”, explica.

Já a poesia que encerra é a relíquia de infância com um trecho que até hoje emociona o artista. “Eu queria ser uma abelhinha assim, pequenininha assim, para enfiar em mim um ferrão sem fim”, declama ao telefone. “Eu achei isso muito contemporâneo, muito adulto para uma criança tão pequena. Fico pensando o que é que passava pela minha cabeça, aos 9 anos, para escrever isso”.

O interessante é que os personagens não encostam os pés no chão. (Foto: Larissa Pulchério)
O interessante é que os personagens não encostam os pés no chão. (Foto: Larissa Pulchério)

Experiência - Muitas vezes quando se fala em poemas, o que se imagina é algo delicado, com uma linguagem arrojada, mas em “Poesias do Ar Cênico” as histórias presentes em poemas fluem de um jeito diferente. “O que a gente acredita que as pessoas vão encontrar de mais encantador é a desconstrução por ser um espetáculo em 360 graus, o público oportunidade de observar uma mão, em um pé, as sombras, todos os detalhes, trabalhados com uma linguagem poética no texto e visual”, explica o ator Douglas Caetano.

A mesma peça já foi estrelada há 10 anos em Campo Grande, mas naquela época, poucas pessoas aceitaram o contemporâneo lembra Anderson. “Tentamos uma curtinha temporada, mas ele não foi bem aceito, as pessoas não estavam preparado para o olhar cênico novo”, diz o diretor.

Hoje, a linguagem usada têm se tornado um desafio, mas ao mesmo tempo surpreendido. “Pra gente é interessante, porque quando se fala em poesias, as pessoas acham que são coisas muito etéreas, mas na verdade elas trazem recortes de vida de personagens que estão muito próximo da nossa realidade local e a gente tem tido uma repercussão interessante do público”, pontua a atriz e integrante da Circo do Mato, Luciana Kreutzer.

Serviço - Serão apenas duas sessões de “Poesias do Ar Cênico”, a primeira é nesta quarta-feira (19) e amanhã (20) no Teatro Prosa que fica Rua Anhanduí, 200, Centro. O horário de ambas as apresentações são às 20h.

A entrada é gratuita e com capacidade para 80 lugares. O ingresso deve ser retirado no local e a classificação indicativa é 16 anos.

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Serão apenas duas sessões de “Poesias do Ar Cênico”, a primeira é nesta quarta-feira (19). (Foto: Larissa Pulchério)
Serão apenas duas sessões de “Poesias do Ar Cênico”, a primeira é nesta quarta-feira (19). (Foto: Larissa Pulchério)
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