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Artes

Professora, Jaque indica 5 livros para entender feminismo e questão racial

A educação foi transformadora na vida de Jaqueline dos Santos, a primeira da família a entrar em uma universidade.

Paula Maciulevicius Brasil | 06/06/2020 08:28


Cinco livros para se entender feminismo e questão racial. É com propriedade que a professora de História Jaqueline dos Santos, de 28 anos, gravou o vídeo acima. Mestranda em Educação pela UCDB, ela só foi descobrir a leitura na faculdade, onde também se "tornou negra".

Na semana em que protestos incendeiam os Estados Unidos pela morte cruel de George Floyd, telas pretas enchem as redes sociais, e eventos contra o racismo são marcados na Capital, ela nos contou a sua história, dentro de um enredo tão já conhecido e explorado pela desigualdade social: de uma mulher negra, a mais velha de quatro filhos, que nasceu e se criou na periferia de Campo Grande.

Aniversário do irmão caçula de Jaqueline, Carlito, ao lado das irmãs Carla e Karolayne Barreto dos Santos, e a mãe Maria Lúcia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Aniversário do irmão caçula de Jaqueline, Carlito, ao lado das irmãs Carla e Karolayne Barreto dos Santos, e a mãe Maria Lúcia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi graças à mãe que Jaqueline chegou até a faculdade, e com ajuda da família e dos amigos, ao mestrado, onde descobriu um mundo, começando pelos livros. "A leitura nunca foi um hábito na minha vida,  ela foi inserida na universidade. Creio que ela nos permite criar autonomia. O feminismo negro, ele tem na sua gênese o fator de pensar em conjunto a questão da raça, classe e gênero. Seria uma teoria completa, pra se pensar uma sociedade mais humana, onde todos os sujeitos fossem compreendidos nas suas mais variadas formas de vida".

A educação foi transformadora na vida dela. A primeira da família a entrar em uma universidade. "Minha mãe sempre foi a força motriz para eu estar na universidade. Ela chegou a pagar as primeiras mensalidade da universidade até eu conseguir uma bolsa", recorda. A vida acadêmica foi puxada, vivida dia e noite na UCDB onde fazia estágio, iniciação científica e à noite, aula da graduação.

Para entrar no mestrado foi outro perrengue. Os amigos fizeram uma rifa para pagar a inscrição e a primeira mensalidade, para então ela poder concorrer a uma bolsa de estudos.

Escolher fazer história foi motivado pelas mestres que Jaqueline teve ao longo da vida escolar, apesar de ser segunda opção. A jovem pensavam em fazer Turismo, chegou a ser aprovada, mas o curso era no interior do Estado e exigiria um suporte financeiro que ela não tinha. "Minha mãe me convenceu a fazer História, porque o curso poderia me possibilitar o mesmo. Ela fez umas pesquisas na internet, viu uma reportagem e falou: 'aí, filha, problema resolvido', recorda.

A imagem que a mãe viu foi a entrevista da diretora de um museu falando, e abaixo, nos créditos "historiadora". O sonho de Jaqueline era o de trabalhar em um museu.

A dissertação do mestrado segue o tema raça e gênero com o foco de analisar as formas de luta e resistência da mulher negra militante do Grupo Tez. "Identificando para transgredir o lugar reservado a elas na sociedade racista e sexista, marcada pelo ideal de branqueamento e o mito da democracia racial", descreve.

Na escola onde já lecionou durante a Semana da Consciência Negra. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na escola onde já lecionou durante a Semana da Consciência Negra. (Foto: Arquivo Pessoal)

No mestrado ela vai estudar o grupo que se faz parte. "Chamamos esse tipo de pesquisa com autofotográfica", completa.

Jaqueline se tornou negra na faculdade, e nos explica o por quê se baseando em "Tornar-se negro", de Neusa Santos Souza.

"Eu falo que me 'tornei negra' na faculdade por entendimento e conhecimento de todo o processo desde a vinda dos povos africanos para o Brasil. De ver sempre as mulheres negras na televisão como empregadas domésticas. Eu não entendia porque às vezes as pessoas me tratavam diferente, e só fui descobrir tudo isso ao entrar na universidade. Simone de Beauvoir já dizia que não que não nascemos mulher e sim nos tornamos mulher, porque a identidade é construída com o tempo, com os espaços onde você frequenta, com a profissão", ensina Jaqueline.

A professora ainda dá um exemplo bem didático sobre o que prega. "Igual o presidente da Fundação Palmares [Sérgio Camargo] que é visivelmente negro, mas todo o seu comportamento e suas atitudes não".

Sobre os protestos e a militância virtual, Jaqueline se diz feliz com a visibilidade, e gostaria que a manifestação nos Estados Unidos trouxesse a mesma consciência política e social aos brasileiros. "No Brasil somos mais de 56% entre pretos e partos que vivem sob a subjugação de um sistema racista, classista. Sabemos que a maioria das pessoas que têm os piores salários, que estão nos presídios, que sofrem com a precarização da saúde é a população negra, mas ainda não se tem a consciência desse processo, porque aqui vivemos o mito da democracia racial".

Os livros indicados no vídeo, que nos motivou a procurar pela Jaqueline, fazem parte da sua pequena biblioteca.

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