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Artes

Chamamé tem até dia no calendário de MS, mas não toca nas rádios

Ângela Kempfer | 19/09/2012 06:47
Sede do Centro Cultural do Chamamé, e o criador Orlando Rodrigues. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Sede do Centro Cultural do Chamamé, e o criador Orlando Rodrigues. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Se é paraguaio ou argentino, há controvérsias, mas ninguém discute que o chamamé é o ritmo que traduz a identidade sul-mato-grossense, ao lado da polca paraguaia e da guarânia. Mesmo assim, nem o título faz as maiores rádios de Campo Grande tocarem o ritmo . As FMs nem sequer têm esse tipo de música no arquivo.

Para comprovar a reclamação de quem gosta e produz chamamé, o Lado B procurou em todas as FMs e a resposta foi surpreendente, nem na emissora conhecida por tocar só música sertaneja - a Capital, foi possível pedir alguma canção.

Na Blink, Cidade, FM UCDB, Mega 94, Transamérica e Uniderp FM, os motivos para o ritmo não estar nem na listagem do computador é sempre a mesma: “Não é nosso perfil”. A mesma orientação também é repetida por todas as emissoras: “Talvez tenha na FM 104 ou na Capital”.

Engano. A 104, FM Educativa, também não toca chamamé há 1 ano e meio. “Reformulamos a grade e decidimos cortar”, justifica sem rodeios o gerente da emissora, Fábio Aquino.

A rádio do governo chegou a criar o programa Hora do Chamamé. Durou 7 anos e meio e acabou sem deixar vestígios.

“Criei porque sou filho de argentino com paraguaio, cresci ouvindo. Esse é ritmo sul-mato-grossense. É o que nos identifica, é como axé na Bahia”, lembra o ex-apresentador, Orivaldo Mengual.

Até nas AMs não há espaço, diz o apaixonado por Chamamé. “Toca de vez enquando, aos domingos, mas é muito pouco”, reclama.

Arquivos e novas produções não faltam. Há Jandira e Benites, Zé Corrêa, Amambay e Amambaí, Elinho do Bandoneon, Dino Rocha... e também tem gente mais nova, como Humbero Yule e Maurício Brito. Mas as músicas hoje só tocam em bailes ou rodas de viola.

Sem no dia 19 de cada mês, há festa no Centro Cultural do Chamamé. (Foto: Divulgação).
Sem no dia 19 de cada mês, há festa no Centro Cultural do Chamamé. (Foto: Divulgação).

Para sempre - No ano passado, Rio Brilhante teve Festival de Chamamé e durante três dias reuniu chamamazeiros de todo Estado.

Em Campo Grande, há o Centro Cultural do Chamamé, um espaço interessantíssimo que tem nesta quarta-feira a principal festa do ano. O dia 19 de setembro é o Dia do Chamamé, primeiro instituído na Argentina, depois em Mato Grosso do Sul.

Hoje, a comemoração terá de gastronomia a conversa regada a tereré, que neste calor vai substituir o chimarrão argentino.

“Chamamé não é só música, é um jeito de viver só nosso”, comenta o criador do espaço, Orlando Rodrigues. Ele não toca, não canta, dança pouco, mas é um “entusiasta” de tirar o chapéu.

Vendeu dois terrenos, a contragosto da esposa, para comprar outro no bairro Chácara Cachoeira e construir uma oca de alvenaria, com grandes portas de madeira e tijolos com nome de duplas e músicos que fizeram a história do ritmo.

“Meu pai trabalhava no Matadouro Municipal e em dia de sábado, depois do expediente, virava uma festa ali, com chamamé, chimarrão”, conta.

Para ficar “ainda mais bonito”, Orlando mandou imprimir também nos tijolos a figura do bandoneon, instrumento que parece uma sanfona, o símbolo do Chamamé.

É um amor pelo ritmo, justificado pela história; “É a mais autêntica identidade de Mato Grosso do Sul, começou na colonização, na extração de erva mate”, diz.

Sobre tocar ou não nas rádios, Orlando parece tranquilo. “Não acho que precisa tocar, porque quem gosta mesmo de boa música vai ouvir sempre. Já passou a moda do vanerão, agora é o sertanejo. O Chamamé não vai passar nunca”.

Para o Dia do Chamamé hoje, todos são convidados, a partir das 19h30. O Centro Cultural fica na rua Alfazema, nº33 - Chácara Cachoeira.

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