ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, SEXTA  10    CAMPO GRANDE 23º

Comportamento

Antes de morrer, Alaíde deixou bilhete de amor para neta encontrar

Recadinho hoje virou artesanato na parede da neta, que lembra todos os dias o carinho da avó.

Thailla Torres | 15/06/2021 07:39
Recadinho da avó Alaíde encontrado pela neta Thaylla. (Foto: Arquivo Pessoal)
Recadinho da avó Alaíde encontrado pela neta Thaylla. (Foto: Arquivo Pessoal)

A imagem que a internacionalista Thaylla Martins, de 31 anos, tem da avó é mais que o grau de parentesco. Melhor amiga, parceira, confidente, a síntese do amor incondicional. Por isso, encontrar um bilhetinho dela após sua morte foi um dos momentos mais emocionantes vividos pela neta. O recadinho escrito à mão para que ela encontrasse hoje está pregado na parede em forma de artesanato e fala muito sobre o amor das duas.

Dona Alaíde foi quem criou Thaylla durante 9 anos. “Eu era bem neta de vó. Usava vestidinho e arco no cabelo para ir à igreja com ela aos domingos. Fazia sorvete caseiro, bolo, pastel e “dirigia” sua máquina de costura enquanto ela fazia as coisas dela. Além disso, fui alfabetizada por ela, entrei na escola sabendo ler e escrever e só podia sair pra brincar depois que ela tomasse a tabuada, e o 7x9 sempre complicava meu dia”, lembra carinhosamente a neta.

Thaylla e dona Alaíde. (Foto: Arquivo Pessoal)
Thaylla e dona Alaíde. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com o passar dos anos essa relação tornou-se ainda melhor. “Minha avó era a minha melhor amiga. Hoje eu tenho certeza disso. A única pessoa que eu conto as coisas com a mesma facilidade que contava pra ela é a minha terapeuta. Minha avó não julgava. Contei desde a minha primeira vez, até as coisas erradas que eu fazia”.

Quando seu avô ficou doente e a avó decidiu voltar para Ponta Porã para ter uma vida mais tranquila, Thaylla nunca deixava de ir. “Toda oportunidade minha de estar com eles eu estava. E minha avó ainda tinha aquela mania de passar dinheiro pra mim, como se estivesse passando drogas”, ri.

Já quando o avô faleceu, Alaíde voltou a morar com Thaylla, e isso foi o que a tirou da tristeza. “Depois que me separei, ela foi morar com a minha mãe e eu sozinha. Quando eu chegava, ela dizia: “ô benzoca que bom que você chegou, estava penando em você”. Conforme fui crescendo, ela foi diminuindo, mas mesmo assim, nossos abraços sempre foram do mesmo tamanho”. Descreve a neta.

Nem um câncer no pâncreas fez dona Alaíde perder a vontade de viver. “Ela falava que o câncer a deixava saudável, porque ela visitava médicos e enfermeiros e já tinha vencido 3 durante a vida. Mas esse último foi pesado. Passamos 14 dias no hospital. Vivi altos e baixos com ela, mas ela sempre de bom humor e me dando bronca quando eu pedia alimentação pastosa ao invés da sólida. Fiz contrabando de comida até onde pude para que ela matasse a vontade dela, desde os pés de frango caipira até o ovo cozido”.

Bilhete foi bordado com a mesma letra da avó pela artesã Maria Ayslane. (Foto: Arquivo Pessoal)
Bilhete foi bordado com a mesma letra da avó pela artesã Maria Ayslane. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando a avó se despediu da vida por conta de uma metástase, foi revirando as coisas dela que Thaylla conseguiu aliviar a dor e encher o coração só de saudade. “Até meu cabelo doía com a morte dela. Mas 4 dias depois encontrei esse bilhetinho. Então eu finalmente consegui chorar. Chorei o amor gigante que a gente viveu, chorei porque não ia ter mais ninguém para eu pedir benção ou fazer festa quando eu chegasse. Por muitos anos, eu vivi com esse engasgo no peito”.

O bilhete datado em 2013, acredita Thaylla, era para ser entregue dias depois, um exercício da igreja que dona Alaíde costumava fazer para declarar seu amor às pessoas queridas. “Sinto que o bilhete é a prova de tamanho do amor dela. E saber que alguém te quer bem e que passou sua vida colocando você nas orações, é o que me dá força para enfrentar as tempestades da vida, mesmo que a gente ache que não tem força”.

E para garantir que essa força chegue à rotina todos os dias, Thaylla pediu para que a artesã Maria Ayslane bordasse eu ter forças e lembrar de todo amor dela. “Hoje, o bilhete está na minha parede, bordado com a letrinha dela e com muito amor. Assim é impossível eu não me sentir menos que a neta da Dona Alaíde”, finaliza.

Curta o Lado B no Facebook. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.

Nos siga no Google Notícias