Aos 75 anos, Maria encarou crossfit para ser o terror dos treinadores

Há 4 anos, Maria da Costa Vilasboa, ou Dona Maria, como é conhecida, resolveu que a idade não a limitaria a fazer nada. Aos 75 anos ela não esconde verdades ao dizer que no box de crossfit onde vai, faz os exercícios que quer, e quando não gosta da atividade vai embora. Apesar de brincar dizendo que os instrutores pegam pesado com ela, a contadora aposentada não deixa de ir um dia para as aulas. Com seu temperamento único, Maria se tornou o "terror" dos instrutores.

O treino têm 1h de duração e são acompanhados de alguns resmungos, respirações profundas e suor. No final, o sentimento é sempre o mesmo: dever cumprido e cansaço. Em entrevista ao Lado B, ela revela que, ao sair da aula,  se sente "mortinha", mas que o verdadeiro cansaço aparece em casa, quando ela relaxa.

Dona Maria sempre fez atividades físicas, mas apostava nas mais leves como caminhadas e pilates. Tudo mudou em 2021, quando os filhos entraram em um box de crossfit na Avenida Mascarenhas de Moraes e levaram ela. No início ela não gostou de nada, e continua, mas admite que os exercícios fazem as dores nas costas melhorarem.

“O negócio é que, se ele manda ela pegar 20kg, ele me manda pegar 10kg. Não gosto, mas venho porque preciso. Melhorou meu problema na coluna, eu tinha muita dor na lombar, procurei o ortopedista e ele disse que minha coluna era perfeita, não tinha nada. Ele pediu para eu fazer atividade física e emagrecer. Essa parte é mais difícil, mas melhorou 80%”, conta Dona Maria.

Logo de cara o médico disse que Maria não poderia ser uma “marombeira”, mas esses planos estavam bem longe da aposentada. Para ela, a atividade é para melhorar a qualidade de vida e emagrecer, parte apontada como mais complicada.

“O médico falou: 'A senhora não vai para o crossfit para ficar marombada, vai para manter a saúde'. Eu nunca quis ficar assim, de jeito nenhum. Acho que eles mandam eu fazer mais, até quando não gosto, eu vou embora”, diz, com seu jeito único de ver as coisas.

Ela acrescenta que não esquece o primeiro dia de aula. "Lembro direitinho. Minha filha me trouxe e o Augusto, treinador, falou para eu fazer o que os outros estavam fazendo. Ele disse que eu tinha boa mobilidade. Não entendia nada daquilo e assim foi. Ele foi só aumentando, ao invés de diminuir".  Até em disputas de crossfit Dona Mraia já participou.

Anos antes Maria era costureira, fazia fardas militares. A inspiração veio do filho que é um. Segundo ela, a saudade fez a coisa toda acontecer. Ela seguiu costurando até o ano passado, quando a vista já não aguentava como antes.

“Antes de fazer cirurgia de catarata, eu costurava fardas, mas começou a ficar difícil, eu não iria ficar rica com isso, então parei. Eu sou contadora, trabalhei muitos anos, aí parei e me dediquei à costura. Comecei a fazer fardas porque meu filho foi para o Exército e foi embora. A saudade e o ninho vazio fizeram eu começar a costurar. Só parei porque estava difícil enxergar a linha na agulha.”

Hoje, Dona Maria garante que faz tudo em casa, e que os exercícios de crossfit ajudaram até nas tarefas mais simples, como limpar a casa ou levantar do sofá.

“Eu acordo sabendo que tenho um compromisso, às vezes dá preguiça, mas venho. Parece que estou no caminho. Todo dia tenho que melhorar brigando com os treinadores”, afirma, com bom humor.

Augusto Aime, um dos treinadores de Dona Maria, explica como o treino funcional tem impactado positivamente sua qualidade de vida.

"Ela faz o mesmo treino que a maioria das pessoas, mas o que ela não consegue fazer, a gente adapta". A prioridade do treinador é garantir que Dona Maria realize os exercícios com segurança, respeitando seus limites. Por exemplo, ela não corre como os outros alunos nem faz saltos em caixas altas, mas, com essas adaptações, ela continua praticando atividades físicas sem risco.

O agachamento, um dos exercícios centrais do treino, também foi ajustado. “A gente diminui a carga, melhora o padrão de movimento e diminui a amplitude para que ela melhore o padrão diariamente, ganhando força”, explica Aime.

Essa abordagem é para melhorar a capacidade funcional de Dona Maria e ajudar ela realizar tarefas cotidianas com mais facilidade, como levantar do sofá sem precisar de apoio e sem sentir tantas dores.

“Desde que ela começou, sempre reclamou de dor nas costas. Os exercícios fortalecem a musculatura e mostram para ela que ela consegue treinar. O medo das pessoas é achar que não podem", diz Augusto.

Quando Dona Maria chegou ao box, ela não conseguia realizar todas as etapas do treino funcional. Inicialmente, ela fazia apenas uma das três fases e logo se sentava. Mas, com o tempo, foi evoluindo.

"Ela fazia uma, ficava sentadinha e depois de uns meses começou a progredir para a segunda etapa. Nos últimos dois anos, ela já faz as 3 etapas. Mesmo com restrições de movimento, ela consegue fazer tudo. A pausa dela é mais longa que a dos outros alunos, mas ela faz tudo. A mensagem é que ela melhorou absurdamente nesses últimos anos.”

O resultado desse processo é visível. A mensagem de Augusto é clara: "Ela melhorou absurdamente nos últimos anos". Para ele, Dona Maria é um exemplo de como a prática constante e orientada pode fazer toda a diferença em qualquer idade.

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