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Comportamento

Após 5 anos, Adriana deixa prisão para 1º Natal em família e vê o quanto perdeu

Adriana foi parar atrás das grades condenada por assalto a mão armada, mas conseguiu direito de ficar 4 dias em casa no Natal

Thailla Torres | 25/12/2017 08:40
Em casa, alegria é receber o abraço da família.
(Foto: André Bittar)
Em casa, alegria é receber o abraço da família. (Foto: André Bittar)

"Graças a Deus", grita a primeira a sair. Com algumas sacolas na mão, mulheres avistam o portão enorme que será aberto em questão minutos. Por último, chega Adriana Keli Pinto, de 25 anos, para compor o grupo que vai deixar para trás o Estabelecimento Penal Feminino de Regime Semiaberto de Campo Grande. É apenas uma saída temporária de Natal, direito que ela conquistou pela primeira vez depois de 5 anos presa.

Ao receber o aviso de "liberdade", Adriana sai toda arrumada, de tênis e mochila nova, que ganhou de presente da família. Do lado de fora, só há um carro a espera. É a irmã mais velha, também ansiosa para rever o sorriso que há muito tempo não está presente na família.

Adriana chora ao ver que tanta coisa mudou dentro de casa. (Foto: André Bittar)
Adriana chora ao ver que tanta coisa mudou dentro de casa. (Foto: André Bittar)

O abraço vem tão forte, que por alguns minutos ela parece esquecer de onde está saindo. "Que alegria. Só quero ir pra casa, vamos?", diz logo entrando no carro. Adriana recebeu autorização da direção do presídio para conceder entrevista e aceitou que o Lado B fosse até sua casa, acompanhar a chegada para o Natal em família.

Ela chegou à residência que fica no bairro Aero Rancho, às 7h30 da manhã. Vai ficar 4 dias por lá. Exceto a irmã, o restante da casa estava dormindo. Mas ela diz não se importar com ausências,  descrevendo a chegada como a mais esperada de sua vida. "Um alívio, só consigo sentir um alívio, era tudo que eu mais queria", resume.

Adriana foi parar atrás das grades em 2012, condenada por assalto a mão armada. "Eu tinha saído com uns guris. Estava todo mundo vindo embora para casa caminhando, quando vimos uma casal empurrando uma moto e eles tiveram a ideia de roubar. Mas a moto estava estragada e a gente nem sabia. Um deles era quem estava armado", começa a lembrar sobre o que a fez perder a liberdade.

Adriana diz que sua participação foi apenas de conivência. Diz que naquele momento não pensou nas consequências. No fim do mesmo dia ela foi pega pela polícia, depois que uma das vítimas a reconheceu como assaltante.

Foram poucos dias na delegacia até ser encaminhada para o presídio, em regime fechado. "Me bateu um desespero. Você acorda e só vê grade na sua frente, gente que você não reconhece e te perguntando o tempo todo o que você fez fora da cadeia", conta.

Ao ganhar a "liberdade" por 4 dias, ela correu para encontrar a irmã. (Foto: André Bittar)
Ao ganhar a "liberdade" por 4 dias, ela correu para encontrar a irmã. (Foto: André Bittar)
E o abraço era o presente que ela mais esperava. (Foto: André Bittar)
E o abraço era o presente que ela mais esperava. (Foto: André Bittar)

A condenação de Adriana foi de 2 anos, afirma. Mas o mal comportamento fez com que ela perdesse o direito de sair no tempo esperado."Eu não queria ficar lá e tive quatro quebras", diz se referindo as vezes que fugiu da cadeia. "O juiz ia me dar condicional, mas por conta disso tudo não me deu", acrescenta.

Agora, Adriana jura que está arrependida e pretende voltar como foi combinado na saída temporária. "Não quero fugir mais. Vou ficar lá e passar o que tiver que passar para vir embora. O advogado já me falou que falta pouco", garante.

As emoções do primeiro dia de "folga"da cadeia começam ao ver que tudo está diferente. Durante a entrevista, a família vai chegando, fica de canto só observando Adriana falar, bem humorados diante da festança programada naquele sábado. "Eu sou a mais animada daqui, a gente vai fazer muita festa". diz Adriana que é a caçula das três irmãs.

Mas o sorriso dá lugar ao choro quando ela vê chegar os sobrinhos. "Não reconheço mais, perdi a infância deles, já está todo mundo com a voz grossa", diz chorando.

São das crianças que Adriana mais sente falta desde que chegou no presídio. "Era eu quem cuidava deles, levava pra escola e  brincava com eles na rua. Eu sinto muita falta".

Mas diferente de Adriana, nem todas as mulheres tinham familiares a sua espera na porta do presídio.
Mas diferente de Adriana, nem todas as mulheres tinham familiares a sua espera na porta do presídio.

Entre as coisas mais simples, assistir filme na sala é a vontade que nunca passou. "Quando eu estava aqui fora, sentava na sala com todo mundo pra assistir DVD. Eu tinha uma coleção deles e era nossa alegria".

Cinco dias fora da prisão parecem pouco, mas para Adriana, é um tempo precioso com a família. "Não aguento ficar lá por muito tempo, quero minha liberdade e demora muito a nossa saída. Mas isso daqui acho que me dá forças pra continuar a cumprir minha pena"

A única dificuldade, na visão dela, é lidar com o olhar desconfiado das pessoas, principalmente de quem acha que a saída é privilégio para bandido. "Elas olham e perguntam: e aí quando vai voltar pra cadeia? Achando que eu vou aprontar de novo. Mas eu não vou".

Por esse motivo ela faz questão de dizer que nem todo mundo vai errar ao deixar a prisão para viver o Natal em família. "Não, nem todo mundo é bandido, a gente merece uma chance de sair, de fazer as coisas diferentes de novo. Porque a gente sente muita falta da família e das crianças que eu perdi a chance de ver crescer"

Depois do Natal, Adriana garante que vai voltar à prisão, porque só quer a sua vida de volta. "Quando alguém fala que eu não tenho jeito, só me faz pensar que eu tenho jeito sim. A gente escolhe todo dia o que faz e eu não quero mais escolher estar lá dentro por ter feito coisa errada. Quero sair, ter meus estudos e seguir minha vida de boa. Fazer um jantar, assistir filme na sala e jogar bola, coisas que nessa vida não tem preço".

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