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Comportamento

Após 6 décadas, ex-alunos do Dom Bosco se reúnem em encontro de velhos amigos

Paula Maciulevicius | 31/03/2014 06:55
A foto que atrai toda atenção já tem 62 anos. E eles todos se "procuram" nela até hoje. (Fotos: Cleber Gellio)
A foto que atrai toda atenção já tem 62 anos. E eles todos se "procuram" nela até hoje. (Fotos: Cleber Gellio)
Fuad Anache e Radi Jafar, ex-alunos e hoje organizadores do encontro dos anos 50.
Fuad Anache e Radi Jafar, ex-alunos e hoje organizadores do encontro dos anos 50.

A cor dos cabelos já está tomada pelo branco. O andar já não é o mesmo dos tempos em que jogavam futebol. Mas as risadas e as conversas atravessaram as salas de aula do colégio Dom Bosco da década de 50. Hoje, avós, alguns já bisavós, voltam ao tempo tentando se encontrar nas crianças da foto de 1952. Neste final de semana, ex-alunos do Dom Bosco dos anos 50 se reuniram na Estância Chaparral, no Jardim Anache, em Campo Grande. O reencontro foi com o próprio passado, pelos olhares dos velhos amigos.

Há duas décadas eles firmaram o compromisso de se juntar pelo menos uma vez por ano. A reunião começou pequena, mas tomou a mesma proporção da saudade de uma época que não volta mais e logo teve de ganhar um local adequado. No cálculo de grandes encontros, este foi o sexto, que conseguiu trazer colegas do Rio de Janeiro.

Para organizar o passado num presente, eles criaram até uma diretoria composta por oito integrantes que entram em contato com todos os ex-colegas, marcam a data e definem o cardápio. “Isso aqui temos há 20 anos, é o encontro dos ex-alunos do Dom Bosco dos anos 50”, apresenta um dos organizadores do evento, o cirurgião vascular Radi Jafar, hoje com 75 anos. Ele também é o responsável por juntar todo acervo fotográfico, preparar um vídeo contando a história cronológica dos tempos de colegial e registrar os sorrisos de agora.

“Tem gente de 80 anos aqui. Somos um grupo que reside em Campo Grande e que procura se reunir uma vez por ano. Todos aqui fazem questão, querem reencontrar a turma do seu passado e é uma sensação gostosa, se não faz, a gente acaba indo embora sem rever aqueles amigos do passado”. As palavras do cirurgião dentista Fuad Anache, de 78 anos, resume tudo. O grupo prefere o encontro com risos e nostalgia, às lágrimas de uma despedida.

A fotografia que atrai olhares é esta. Em 1952, meninos com uniforme de gala após desfile de 7 de setembro.
A fotografia que atrai olhares é esta. Em 1952, meninos com uniforme de gala após desfile de 7 de setembro.
Nilson Torraca, dentista, hoje com 79 anos, leva fotografias a todos os encontros.
Nilson Torraca, dentista, hoje com 79 anos, leva fotografias a todos os encontros.

A reunião é de meninos. De mulheres, só as esposas. Naquele tempo, os homens estudavam no Dom Bosco e elas no colégio das Irmãs, o Nossa Senhora Auxiliadora. Somente nos anos 60 é que o Dom Bosco abriu as portas para as meninas. As músicas que embalam a tarde são nostálgicas, mas o que ia derramar lágrimas ainda estava por vir. Com 1h de duração, um vídeo mostra o antes e depois daquela turma. Desde os desfiles pela 14 de Julho, aos jogos de futebol.

No bolso, o dentista Nilson Torraca de Almeida, de 79 anos, tem em um embrulho de presente, fotos em preto e branco. A admissão ao colégio Dom Bosco foi no fim de 1948. “Comecei o primeiro ginasial em 49, trouxe fotos. Olha só isso foi em 51, 52, faz tempo. O homem envelhece mais depressa, você vê, só tem velho aqui”, brinca.

A foto que recebe os convidados no quadro da entrada veio das lembranças que a mãe de José Maurity Lopes Chaves, de 75 anos, guardou. Bancário aposentado, ele estudou no colégio de 50 até 56. A fotografia foi tirada no dia 7 de setembro de 1952, depois de um desfile em comemoração à Independência do Brasil, de uniforme militar, são centenas de meninos em posição de sentido, sob direção do padre Félix Zavataro. No entanto, o registro só foi encontrado 8 anos atrás.

“Estava com a minha mãe guardado, quando meu pai morreu, minha irmã achou nos documentos. Aqui está toda história de Campo Grande. Engenheiros, médicos, dentistas, bancários, militares”, descreve.

Maurity se aponta na foto. É ainda um menino que tampouco imaginaria um encontro com aquela mesma turma 60 anos mais tarde. Ele tenta traduzir em palavras o que só olhar de saudade carrega quando o senhor de hoje reencontra a criança daquele tempo.

Parte dos amigos no primeiro encontro, em 1993.
Parte dos amigos no primeiro encontro, em 1993.

“Isso me traz felicidade, uma recordação muito grande dos meus pais, meu irmão que estudou lá e já faleceu. Essa foto aqui representa participantes da construção de Campo Grande, nossos pais, avós. Grande parte dos hospitais, colégios, igrejas, sociedade beneficente estão mais ou menos aqui representados pelos seus filhos”, narra.

Nas fotografias, só o coração de quem viveu aqueles sorrisos consegue se reconhecer e distinguir amigos. A imagem foi reproduzida e distribuída a todos, mesmo assim, eles se olham e se procuram ali todas as vezes em que se reúnem.

Em um dos primeiros grandes encontros, o químico industrial Rubens Zarategamon, de 76 anos, achou que estaria em vantagem. Veio de Rio de Janeiro carregado de fotos. “Quando eles me presentearam com essas milhares de fotos, foi um prazer”, conta. Na verdade, o passado que ele tinha em mãos era pequeno em comparação às centenas de imagens já recolhidas. Há 10 anos ele sai do Rio e vem seja a data que for. “Não pode falar. É uma coisa grande para nós essa iniciativa, de incorporar os amigos de época”.

A maioria dos ex-alunos deixaram Campo Grande para cursar faculdade no Rio de Janeiro. Parte regressou, outros só voltam para rever o que ficou para trás. “Você calcula a emoção? Meu coração bate forte quando eu vejo os amigos. Sabe aquele filme americano De volta para o futuro? Nossa história é de volta para o passado. Aqui traduz uma convivência dos melhores anos da nossa vida”. O relato é do dentista Outair Bastazine, de 78 anos.

O encontro, a troca de olhares, risos e por que não lágrimas nada mais é do que enxergar a si mesmo. Reencontrar o menino que fez o colegial e o ginasial na década de 50 corresponde a olhar o que eles foram e no que se transformaram. Os sorrisos talvez sejam também de retribuição. Eles são o que são, graças à uma época, àquela época, aqueles amigos.

Em determinado ponto da festa, é dado a cada um que conseguir, minutos para falar. “Tem gente que não consegue e começa a chorar, não é por tristeza não. É por alegria, por prazer. Meus amigos no Rio de Janeiro dizem que isso de encontrar amigos não existe mais. Eu digo que existe e eu faço parte. Não é comum, hoje é tudo descartável, as pessoas não têm compromisso com a amizade, com a história”, prossegue Outair.

Ele veio na sexta e já ia embora nesta segunda. Foi corrido, foi por pouco tempo, mas era o suficiente. “A gente sai revigorado. Isso faz parte da minha vida e histórias da vida assim, deviam ser enaltecidas. Isso é uma história de mais de 50 anos”.

E outra parte em 2014. Já no 6º grande encontro.
E outra parte em 2014. Já no 6º grande encontro.
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