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Comportamento

Arquiteta recria camarim onde a mãe se arrumou para casar 38 anos depois

Paula Maciulevicius | 09/12/2013 06:51
Os dias se encontraram mesmo com quase 40 anos de diferença na mostra de arquitetura e decoração “Morar Mais por Menos”. (Fotos: Cleber Gellio)
Os dias se encontraram mesmo com quase 40 anos de diferença na mostra de arquitetura e decoração “Morar Mais por Menos”. (Fotos: Cleber Gellio)

O grande dia havia chegado. O calendário marcava 19 de setembro e o relógio se aproximava das oito horas da noite. No camarim, os últimos preparativos. No espelho, uma noiva se olhava diante do mais belo vestido. Branco, com flores e uma faixa laranja. Nas mãos o buquê. No chão, o barulho do salto do sapato era dos passos rumo à igreja São José. O que ficava para trás? “Pepino Giordano e senhora e Salvador Gomes de Barros e senhora, convidam para a cerimônia religiosa do enlace matrimonial de seus filhos, Rosana Mara e Eduardo. O convite.

“Não importa o preço do seu vestido, é o dia para você se sentir uma rainha”. As palavras são da arquiteta Annelise Giordano, que 38 anos depois recriou o cenário de um dos dias mais felizes da mãe, a dentista Rosana Mara, no camarim da noiva. “Era só se arrumar e sair. Era essa a nossa intenção, uma poltrona confortável, uma cor aconchegante e espelhos”, explica.

Os dias se encontraram mesmo com quase 40 anos de diferença na mostra de arquitetura e decoração “Morar Mais por Menos”, em exposição no Rádio Clube Cidade. O espaço, assinado por Annelise Giordano e a sócia Gelise Almeida, foi uma homenagem à mãe e ao próprio clube, que marcou as três gerações da família. Annelise trouxe o vestido, véu, convite e as fotos para onde a mãe se casou, em 1975.

Arquiteta trouxe o vestido, véu, convite e as fotos para onde a mãe se casou, em 1975.
Arquiteta trouxe o vestido, véu, convite e as fotos para onde a mãe se casou, em 1975.

“O Rádio fez muita importância na minha família, desde meus avós, meus pais que casaram lá. Foi um dos primeiros casamentos realizados em uma sexta-feira e o vestido, feito em São Paulo. Tinha todo o glamour da época e era no Rádio, onde tudo o que tinha, era lá”, explica.

Na hora de pegar o espaço da mostra, veio tudo à cabeça, como se Annelise tivesse vivido aquele momento dos pais. “Era o camarim com banheiro feminino, não tinha como não fazer e como eu sabia que ela tinha guardado o vestido...”

No espaço, quem entra dá de cara com um branco impecável, o vestido mais parece ter saído ontem da loja e não 38 anos atrás. O véu está esticado só esperando vestir à noiva. Pelas paredes, fotos daquele grande dia, ao lado dos pais, padrinhos e convidados.

“Ela nunca tinha tirado o vestido pra gente, estava intacto”, completa a arquiteta. Ao ver tudo pronto, as lágrimas vieram ao rosto. Ela conseguiu fazer exatamente o camarim que queria, de uma noiva prestes a se casar.

A noiva homenageada, Rosana Mara Giordano de Barros, hoje tem 60 anos e quase quatro décadas de casada.
A noiva homenageada, Rosana Mara Giordano de Barros, hoje tem 60 anos e quase quatro décadas de casada.

A noiva homenageada, Rosana Mara Giordano de Barros, hoje tem 60 anos e quase quatro décadas de casada. Para manter o vestido exuberante assim, seguiu à risca a orientação da época. “Envolver em um papel azul e guardar envolto dentro de um saco e assim, ele se manteve”, entrega o segredo. Com o véu, até ela se surpreendeu.

“Eu achei meu vestido lindo, acho que toda noiva se acha bonita. A faixa laranjada, não era comum, as flores. E foi o primeiro desenho, eu gosto da manga, o vestido tem que comportar o seu tamanho e o seu jeito de ser, detalha.

Na casa onde mora, as paredes são forradas de fotos, boa parte delas, registros das festas no Rádio Clube que retratam uma mulher conservadora e apaixonada pela família e o que pertenceu a ela. Não digo nem de objetos, mas de memórias, de sorrisos.

O camarim foi uma surpresa. Nos dias que antecediam à inauguração da mostra, a filha pediu o vestido emprestado. “Eu falei empresto, pode pegar, está em cima do armário. Mas não me atinei, o sapato eu não tinha mais, mas tinha o restante todo”, descreve.

Aquele dia 19 de setembro voltou à memória quando a noiva, hoje casada, entrou no camarim. Não para se arrumar, mas ver o trabalho da filha.

“Levei um susto, olhei e disse esse é o meu vestido, ele estava ali. Me emocionei demais, jamais podia imaginar que ela tivesse a capacidade de passar para um momento profissional uma história de família, associada a um clube que fez parte da nossa vida”.

O que Rosana viveu foi cada segundo da festa de casamento em 1975. As imagens dos 900 convidados, do salão decorado, da música, da compoteira feita com as mesmas flores do vestido. “Veio nitidamente todos os momentos do meu casamento. Foi muito bom recordar e passar tudo aquilo”.

Ao mesmo tempo, ela viveu uma nostalgia, de quem queria ter de volta aquele tempo, com o desejo de que o resgate da mostra, que se finda no próximo dia 15, pudesse ser mantido. É como diz a frase de uma das almofadas do camarim: “o melhor da vida é o passado, o presente e o futuro”.

O que Rosana viveu foi cada segundo da festa de casamento em 1975. As imagens dos 900 convidados.
O que Rosana viveu foi cada segundo da festa de casamento em 1975. As imagens dos 900 convidados.
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