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Comportamento

Bairro mais fofo da cidade, por muito tempo também foi um dos mais esquecidos

No Google Maps, Rua da Mônica, Rua da Magali e Rua do Franjinha fazem parte da "Vila da Turma da Mônica", mas de divertido não há muita coisa

Kimberly Teodoro | 17/10/2018 09:15
As poucas placas indicando os nomes das ruas foram feitas pelos moradores (Foto: Kimberly Teodoro)
As poucas placas indicando os nomes das ruas foram feitas pelos moradores (Foto: Kimberly Teodoro)

Já imaginou morar na do Rua do Chico Bento? Na Rua da Mônica, da Magali, do Franjinha, do Cebolinha, do Cascão, do Horácio, da Pipa ou do Anjinho? Para quem cresceu na companhia da Turma da Mônica, parece até um cenário de histórias em quadrinhos, mas a realidade é bem diferente dos desenhos do cartunista Maurício de Sousa.

O bairro ainda é novo e nem os moradores mais antigos sabem a resposta sobre a origem fofa dos nomes das ruas. Mas é a alegria da criançada, que gerações depois da publicação da primeira tirinha da baixinha dentuça e seus amigos, em 1959, ainda conhecem e se divertem com o desenho.

Dirce mora há 13 anos na Rua do Chico Bento e ainda se lembra dos tempos de abandono (Foto: Kimberly Teodoro)
Dirce mora há 13 anos na Rua do Chico Bento e ainda se lembra dos tempos de abandono (Foto: Kimberly Teodoro)

Alguns moradores acreditam que a escolha dos nomes foi uma homenagem de um fã dos quadrinhos brasileiros. Outros falam até de uma deputada chamada Mônica (que nunca existiu por aqui) que batizou as ruas inspiradas no próprio nome. Teve gente que nunca havia pensado no assunto e prometeu ligar à prefeitura para descobrir.

Mais importante que saber a resposta é o clima de companheirismo por lá, aquele sentimento que em muitos outros lugares já se perdeu, mas ali nas casas, em rua com nome de desenho animado, as pessoas ainda se ajudam e conhecem uma às outras.

Como as ruas são tranquilas, os moradores se reúnem no fim da tarde para o tradicional tereré, crianças jogam bola e andam de bicicleta nas ruas.

Muitas casas ainda estão em construção, apagando na base do tijolo por tijolo o abandono que acompanhou os moradores até 2007, quando as ruas de terra finalmente foram asfaltadas e os últimos traços do lixão que funcionava no lugar foram apagados, conta Dirce Ferreira de Oliveira, moradora local há 13 anos.

Por que nomes tão fofos? Nem os moradores mais antigos sabem a resposta, mas nem por isso as ruas perdem o encanto (Foto: Kimberly Teodoro)
Por que nomes tão fofos? Nem os moradores mais antigos sabem a resposta, mas nem por isso as ruas perdem o encanto (Foto: Kimberly Teodoro)

Ela ainda se lembra da época em que a Rua do Chico Bento só tinha duas casas, a dela e a da vizinha Vanilza do Nascimento, que mora há tanto tempo quanto ela na região. “Já aconteceu de entrar uma agulha dessas de seringa de hospital no meu pé, tinha muito entulho por aqui no começo, foi a Vanilza que tirou a agulha pra mim. Agora as coisas estão melhor”, lembra ela, sem saudade dos tempos de descaso.

Quando os novos moradores começaram a chegar, Dirce conta que recebia e estocava os materiais de construção como cimento e areia que não podiam ficar expostos à chuva. “Na época de construir minha casa, a Vanilza guardava as coisas pra mim, agora quando os novos vizinhos precisaram fizemos o mesmo”, conta Dirce.

Em Campo Grande bairro tem ruas com nomes de personagens de gibi que encantam e divertem há gerações (Foto: Kimberly Teodoro)
Em Campo Grande bairro tem ruas com nomes de personagens de gibi que encantam e divertem há gerações (Foto: Kimberly Teodoro)
Ainda há muitas casas vazias, mas aos poucos o bairro da Turma da Mônica ganha novo fôlego (Foto: Kimberly Teodoro)
Ainda há muitas casas vazias, mas aos poucos o bairro da Turma da Mônica ganha novo fôlego (Foto: Kimberly Teodoro)

Na hora de passar o endereço para quem é de outros cantos da cidade, todo mundo fica encantado e até faz graça. Mas a primeira reação, segundo Adail Barbosa Leite, o florista da Rua do Horácio, é achar que o bairro é “no fim do mundo”. A maioria fica surpresa ao descobrir que as ruas da Turma da Mônica ficam no fim da Avenida Presidente Castelo Branco, há 15 minutos do Centro.

Com a vida marcada por uma tragédia, Luzia Antônia da Silva mora na região há 9 anos. Largou a chácara em que morava em Coxim, no interior do estado e escolheu um cantinho no fim da Rua do Cebolinha para recomeçar depois da morte da filha. Hoje, ela conhece todos os vizinhos e faz amizade fácil com os recém chegados. Todas as tardes, ela e a amiga Benedita Lima, que mora na casa ao lado, vão até outro terreno que Luzia, duas quadras abaixo, na Rua do Cascão, onde ela planta verduras e ervas medicinais.

Amizade de vizinhas, Luzia e Benedita passam as tardes cuidando do lote na Rua do Cascão  (Foto: Kimberly Teodoro)
Amizade de vizinhas, Luzia e Benedita passam as tardes cuidando do lote na Rua do Cascão (Foto: Kimberly Teodoro)

Mistério mesmo fica por conta da casa de madeira na Rua da Magali, que muitos moradores apontam como sendo a mais antiga do bairro.

Com um jardim que ocupa a maior parte do terreno coberto por plantas e árvore frutíferas, o lugar parece ter um toque de magia feito de simplicidade. Infelizmente, a senhora que por muitos anos viveu ali se mudou recentemente, sem que alguém soubesse seu paradeiro.

A grande parte das casas está disponível para alugar ou à venda, mas o movimento aumenta aos poucos, à medida que os imóveis vazios recebem os novos habitantes.

Com outro fôlego, as mobilizações para resgatar a história das ruas e trazer melhorias ao bairro aumenta, ainda não há uma associação de moradores, mas eles prometem que esse é o próximo passo para “oficializar” a união da comunidade.

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Encoberta por jardim cheio de mistérios, segundo os vizinhos a casa da Rua da Mônica é a primeira do bairro. (Foto: Kimberly Teodoro)
Encoberta por jardim cheio de mistérios, segundo os vizinhos a casa da Rua da Mônica é a primeira do bairro. (Foto: Kimberly Teodoro)
Com ruas tranquilas, o bairro resgata políticas de boa vizinhança perdidas em muitos lugares (Foto: Kimberly Teodoro)
Com ruas tranquilas, o bairro resgata políticas de boa vizinhança perdidas em muitos lugares (Foto: Kimberly Teodoro)
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