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Comportamento

Banda leva o blues para Presídio Feminino, lugar onde a trilha é bem diferente

Anny Malagolini | 10/05/2014 07:13
Banda pediu e teve autorização para tocar na tarde de sexta para as presas.(Foto: Marcelo Victor)
Banda pediu e teve autorização para tocar na tarde de sexta para as presas.(Foto: Marcelo Victor)

O blues chegou contido na tarde de sexta-feira ao Presídio Feminino Irmã Irma Zorzi, com pouca gente conhecendo a levada da banda Whisky de Segunda. Mas depois de algumas música, a mulherada se animou em um dia para quebrar a rotina.

A ideia de se apresentar num lugar onde ninguém quer passar perto, segundo o vocalista do grupo, Robson Rodrigues, surgiu por conta de um show que o ícone do estilo, o músico B.B King fez em uma penitenciária nos Estados Unidos. “Isso é resgatar as pessoas, mostrar que o que acontece lá fora é melhor do que a vida aqui dentro”, justifica.

Jefferson lembra das críticas que o grupo recebeu com o anúncio da apresentação no local. “Disseram que elas não merecem isso. Mas a proposta, não só da banda, como do blues, é mudar vidas”, argumenta.

Eles mesmos articularam a apresentação, pedindo a autorização para a diretoria a penitenciária e, sem cobrar nada, armaram a tarde de blues, apenas como uma forma de homenagem aos Dia das Mães.

No ano passado, a banda fez parte do projeto “Tour Urbana” e por isso já havia se apresentado em espaços públicos inusitados da cidade, como terminal de ônibus. "É uma forma de levar a finesa do blues a lugares improváveis", diz o vocalista.

No final do show, algumas detentas receberam rosas (Foto: Marcelo Victor)
No final do show, algumas detentas receberam rosas (Foto: Marcelo Victor)

Com o repertório, o grupo apresentou às presas dez músicas, de B.B King a Eric Clapton. Entre as 80 detentas que foram assistir ao show, nenhuma conhecia as letras ou a própria banda.

O som era novidade para a maioria. Teve gente que não gostou e admitiu: “prefiro ouvir funk”. Mas muitas outras não resistiram ao ritmo do Mississipi e, mesmo sob aviso de permanecerem sentadas, se levantaram.

Luciana Siqueira de Lima, de 29 anos, foi a primeira a dançar. “Tem que aproveitar quando tem algo diferente, não tenho vergonha disso. É a oportunidade de conhecer algo diferente perto da repetição vivida aqui”.

Funk, sertanejo, pagode são os ritmos variados que formam a trilha sonora no Presídio Feminino. Cada cela pode ter até dois rádios e o gosto popular é o que toca nas emissoras sintonizadas pelas presas, com o sertanejo predominante.

“Fiquei surpresa quando vi que seria blues. Eu nunca vi um show desses, é diferente, mas eu gostei”, comemora a detenta Juliana Lira, de 28 anos, que está há dois presa por roubo e furto.

Vão se passar sete anos até que Sara Heloísa Fontana, de 19, volte para as ruas. Presa por tráfico em 2013, a perspectiva da jovem não é grande.

Emocionada com a música ela para e pensa longe: “Demorei tudo isso para ouvir esse tipo de música, deve ter muita coisa no mundo para eu conhecer e isso me dá mais ânimo de encarar tudo e poder ir embora, mesmo que demore”, garante.

Por fim, as meninas ganharam rosas vermelhas e até posaram para foto de registro do dia em que o blues entrou na vida delas.

Foto com a banda, para marcar um dia especial. (Foto: Marcelo Victor)
Foto com a banda, para marcar um dia especial. (Foto: Marcelo Victor)
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