Betinha foi leoa imbatível com acordeão e sorriso que não sumia
Mesmo em tempos difíceis, cantora, que começou carreira em 1950, não deixava alegria desaparecer

Nada de acordeão, viola ou música. Apesar da alegria em viver e cantar, Eleonor Aparecida Ferreira dos Santos, ou melhor, Betinha, como ficou conhecida, esteve rodeada de familiares e amigos pela última vez nesta quinta-feira (18), em meio a silêncios, palavras ditas ao pé do ouvido e lágrimas. Apesar do clima, netos, filhos e sobrinhos querem lembrar dela como a Betinha que sempre foi: uma leoa imbatível e feliz, que amava a sanfona e nunca desistiu da dupla com a irmã.
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Eleonor Aparecida Ferreira dos Santos, conhecida como Betinha, faleceu nesta quinta-feira (18). Junto à irmã Beth, formou a dupla Princesinhas da Fronteira, que por mais de 67 anos marcou a música regional, superando desafios em um cenário predominantemente masculino. Nascida em Rio Brilhante, Betinha deixa um legado musical significativo. Multiinstrumentista, ela tocava violão, baixo e acordeão, influenciando gerações de músicos, incluindo familiares. Aos 83 anos, estava internada com anemia isquêmica e partiu deixando quatro filhos, diversos netos e bisnetos.
Nascidas em Rio Brilhante, Beth e Betinha começaram a cantar ainda adolescentes, em meados dos anos 1950, e ficaram conhecidas como as lendárias Princesinhas da Fronteira. De lá para cá, viveram inúmeros desafios, desilusões, foram subestimadas em meio a um ambiente predominantemente masculino, mas nunca perderam a graça de rir de tudo. A história da dupla ultrapassou os 67 anos.
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O neto David Rodrigues, de 40 anos, prefere guardar a lembrança da infância, quando a avó ensinava acordeão, violão e outros instrumentos para ele.
“Ela me criou desde os quatro anos de idade e sempre mostrou, na dificuldade, que a gente podia ver um lado positivo, um lado bom, um lado de força. É isso que eu tô tentando ter aqui hoje. Acho que o que mais vai ser difícil daqui pra frente sem ela é justamente essa questão: tudo era com a casa dela".
Ele conta que a primeira nota no violão foi ela que ensinou. "Minha avó era muito instrumentista, ela tocava violão, baixo, acordeon, e aí ela me ensinou primeiro no violão, depois ela me deu umas aulas de acordeon que eu não aprendi nada, que era muito difícil, era só pra ela mesmo, era pra mim.”

O começo dele na música foi baseado nas aulas de Betinha, no que David via nela. “O que eu queria ser por causa dela. Ela foi minha base musical também. Ela que me colocou nesse caminho.”
O sobrinho e músico Márcio Santos era a pessoa que tocava para elas em eventos e apresentações públicas depois que a idade pegou mais para as duas. Betinha iria completar 84 anos em janeiro e a irmã, Beth, está com quase 90.
“Ela é legado. Porque elas foram baluartes, o cerne da música, principalmente no feminino, quando a coisa era muito difícil. Eu, como músico hoje, tenho orgulho de carregar essa herança genética musical junto com a minha mãe. Apesar das dificuldades, o mais importante é que elas não desistiram. Ele conta que elas tinham alma e espírito de meninas.
Precisavam ver a alegria dela em tocar. Ela já não conseguia pegar o peso do acordeon e eu sempre tocava pra elas, mas a voz não envelhece e a alegria da música e do palco não envelhece nunca.”
Ele conta que a última apresentação grande da dupla foi com a finada Delinha. Elas eram muito amigas. Foi na concha acústica. Elas participaram de grandes projetos depois, mas com muita limitação.
Betinha estava internada em estado grave desde a semana passada. A família chegou a fazer campanha de doação de sangue devido ao diagnóstico de anemia isquêmica. Para Márcio, ela era como uma segunda mãe.
“Elas viviam de uma forma tão unida que pra nós não tem uma mãe, são duas. Eu levo o legado da alegria, austeridade. Sou muito falante e minha mãe, em alguns momentos, brigava comigo e falava que sou filho da Betinha, não dela.” Beth não saiu do lado da irmã e, abalada, não conseguiu falar com a reportagem.
A neta, Elisa Brandão, 24 anos, contou que a avó andava menos alegre desde a partida do tio, em janeiro deste ano, e que falava sobre querer encontrá-lo em breve.

“Agora ela tá feliz, foi ao encontro do meu tio. Ela era uma mulher que conquistava todo mundo, muito carismática. Todos se apaixonavam por ela. Ela foi muito guerreira, sofreu muito na vida, mas sempre teve força pra continuar, pra criar os filhos. Foi uma mãezona incrível, uma avó maravilhosa. Da minha avó, eu só vou lembrar de coisas boas. Ela cumpriu o legado dela aqui na terra e vai fazer muita falta, mas a gente sabe que agora ela foi ao encontro do pai, encontrou o filhinho dela também.”
Essa foi uma das vezes que a neta viu Betinha mais abatida com a vida. Betinha deixa quatro filhos, inúmeros netos e bisnetos. Elisa fala que Eleonor não falava sobre os tempos difíceis da vida.

“Minha avó sempre foi muito grata por tudo, mas a gente sente muito, porque realmente não valorizam elas, né? Elas foram as primeiras aqui e abriram portas para muitos artistas, e é muito triste ver que não foram valorizadas. Minha tia ainda tá aí, mas sofre muito com a partida da minha avó, que elas eram muito juntas. O legado dela vai continuar e a gente nunca vai esquecer. Vamos passar para todos e fica no coração de todos nós.”
Uma das coisas sagradas para Betinha era tomar mate todos os dias e fazer crochê sempre que podia.
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