Celso deixou humor como herança e acreditou em Bonito à primeira vista
Entre piadas e visão empresarial, Celso Poli, fundador do Zagaia, viveu uma vida feliz

Até na cama do hospital, minutos depois de sofrer um infarto, Celso Poli não largou o hábito que o acompanhou por 83 anos: a piada pronta. “Agora quem vai cuidar da Cidinha?”, perguntou se referindo a esposa e arrancando riso nervoso dos filhos, quando já não havia muito espaço para rir. Foi assim até o fim, um homem que acreditava que o bom humor não era apenas tempero da vida, mas também cura possível.
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Celso morreu na última quinta-feira (4), em Campo Grande, deixando não só a família, três filhos, sete netos e um bisneto de dois meses, mas também uma legião de funcionários, hóspedes do Zagaia Eco Resort e amigos que aprenderam com ele a lição que repetia em casa: “Tá com medo, vai com medo. Tá com preguiça, vai com preguiça.”

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A história dele começa em São Paulo, mas ganha corpo quando a família, em Bandeirantes (PR), precisou se reinventar. O avô de Luciane Poli, filha de Celso, deixou uma fazenda com nascente de água mineral. E foi desse acaso que nasceu o primeiro hotel da família, há 52 anos: os Termas de Jurema.
“Meu pai pensou: vamos construir chalés, a Cida sabe cozinhar e vamos fazer um hotel. Não existiam hotéis por aqui. Eles inventaram até acordeom no jantar”, lembra Luciane. Celso ensaiava garçons para que fizessem pequenos shows e mergulhava em filmes que amava, paixão que mais tarde o levaria a abrir até uma locadora em Bonito, para que os moradores pudessem “viajar pelo cinema”.
Visionário, Celso entendeu cedo que Jurema, tocada por quatro sócios, não daria conta dos sonhos. Rodou o Brasil atrás de terras. Até que um hóspede falou de um lugar distante, sem asfalto para chegar. Bonito, nos anos 1980, não tinha nada.
“Eu mesma falei: ‘Pai, aqui não tem nada’. E ele respondeu: ‘A gente tem que crescer junto com o destino’”, conta Luciane. Foi assim que nasceu o Zagaia Eco Resort, que em 2025 completa 30 anos. Hoje, são mais de 200 funcionários, somados a outros 800 nos Termas de Jurema.
Celso fazia questão de que todos crescessem juntos, o azulejista que trabalhou na obra ganhou dele um curso de inglês e hoje é sommelier; a telefonista virou gerente operacional. “Ele não fazia questão de segurar conhecimento”, resume a filha.
Se o Zagaia sofria com baixa temporada, Celso inventava solução: transformava o jantar em festa para os próprios funcionários. Queria que cada um soubesse o que era ser hóspede, para depois entender o que se esperava no atendimento.
Essa igualdade, que implantou como cultura, reverbera até hoje. Na semana da sua morte, a família recebeu ligações de ex-funcionários e mensagens que repetiam a mesma palavra: gratidão.
Mesmo afastado da direção havia cinco anos, Celso nunca largou as contas. Ligava diariamente para Luciane, que segue à frente de Jurema, enquanto os irmãos Guilherme e Celso Henrique cuidam do Zagaia.
“Fazia tudo de cabeça, autodidata. Aprendeu inglês sozinho, era louco por tecnologia. Se intitulava nosso ‘palpiteiro-mor’”, diverte-se a filha.
Foram 58 anos ao lado de Cidinha, três filhos criados na lida do hotel e uma filosofia que virou família: a vida é dura, mas pode ser leve se a gente rir dela.
Quando o Plano Collor congelou o dinheiro da poupança e Luciane ligou chorando, dizendo que ninguém iria ao hotel, ouviu do pai a lógica que guiava seus negócios: “Ninguém guarda dinheiro para ficar doente, mas para passear todo mundo guarda.”
Celso partiu em paz, “como queria, sem ficar preso a um hospital”, conta a filha. No velório, o choro se misturou a piadas, jeito que a família encontrou de honrar quem ensinou que viver é rir, mesmo quando a vida insiste em ser grave.

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