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Comportamento

Como é ser eleita entre 100 mil e poder salvar a vida de quem tem leucemia?

Ângela Kempfer | 28/01/2014 06:51
Luciana viaja em fevereiro para fazer a doação em São Paulo.
Luciana viaja em fevereiro para fazer a doação em São Paulo.

A notícia demorou mais de um mês para ser confirmada e quando veio fez Luciana Saldanha comemorar como se fosse ela a maior interessada. A fisioterapeuta de 29 anos é uma entre 100 mil doadores que terá o privilegio de salvar a vida de uma pessoa com leucemia.

No dia 6 de fevereiro, ela viaja para São Paulo para o procedimento de retirada da medula óssea. Não sabe para quem vai doar, mas já se sente privilegiada. “É uma honra...me sinto iluminada”, diz.

Depois de tudo 100% acertado, ela chegou a enviar e-mail com pergunta sobre quem seria o receptor, mas não obteve resposta. “Eles só vão dizer se deu certo o transplante ou não. Mas não interessa mais nada além disso”, garante

No caso de Luciana, a chance de compatibilidade entre as células dela e do receptor era muito menor que quando a doação vem de parente. Enquanto na família é possível encontrar um doador entre 100 pessoas, quando não se trata de parente a probabilidade cai para 1 em 100 mil.

Por isso, ser “escolhida” na seleção natural é algo tão relevante para a fisioterapeuta que diz nunca ter tido sorte com jogos, nem financeiramente. “Mas a cada dia vejo que tenho a maior sorte que dinheiro nenhum paga”, comenta.

Luciana é doadora de sangue há cerca de 4 anos. Começou a frequentar o Hemosul, em Campo Grande, porque via a necessidade no meio em que trabalha. Mesmo assim, só no ano passado resolveu se cadastrar no banco de medula óssea. “A pessoa pensa que tem de viver lá fazendo doação, mas não precisa. Quem doar uma vez já fica no banco de doadores de medula”, explica.

Há quase 3 meses ela recebeu uma carta dizendo que alguém na fila de doação era compatível. “Não acreditei e fui até o Hemosul ver se era verdadeira e confirmei”, lembra.

A fisioterapeuta aceitou a “responsabilidade” e passou por todos os exames necessários, inclusive, radiografias do tórax e da face. “Fiz testes de todos os vírus e todos os tipos de exames para ver se eu não tinha problema nenhum. Eles até pagariam se eu não tivesse plano de saúde.”

O processo foi rápido, ao contrário do resultado. “Fiquei o mês de dezembro inteiro esperando a resposta e quando eu pensei que alguma coisa tinha dado errado, veio a confirmação em janeiro de que eu poderia doar”.

Feliz da vida, Luciana passou a perguntar sobre procedimento e descobriu as falhas que podem levar tanta gente a ficar anos à espera e até morrer por falta de um doador. “Aqui em Campo Grande, por exemplo, não fazem a coleta da medula óssea. Tenho de ir para São Paulo. Acho isso um absurdo”.

Para a doação de maneira mais simples, ela teria que ficar cerca de um mês entre Campo Grande e São Paulo, para tomar a medicação que libera a medula na rede sanguínea para ser coletada como uma transfusão normal.

Como Luciana trabalha por conta própria, esse sistema seria inviável. Então, ela optou pela intervenção cirúrgica, onde são feitas entre 4 a 8 punções na região pélvica para aspirar a medula. “A outra era só uma picadinha na veia, mas ia demorar muito entre idas e vindas. Não queria desistir, por isso optei por essa outra forma, que é mais complicada, tem anestesia”, diz.

A desinformação é outro fator que complica, na avaliação dela. “A família ficou com dúvidas. Meu marido fez perguntas. As pessoas acham que é um procedimento na coluna vertebral, que tem riscos. Vejo até colegas da Saúde dizendo que têm medo de agulha. Não consigo entender. É tudo muito simples, sem risco algum para quem doa”, defende.

Para Luciana, a possibilidade de salvar alguém foi maior que qualquer medo. A avó morreu de câncer há 5 anos, um sofrimento difícil de esquecer. “Me coloco no lugar das pessoas que precisam. Sei como é o sofrimento da família. Nunca fui de mudar o mundo, mas sempre fiz minha parte”, argumenta.

A medula óssea é um tecido líquido, encontrado no interior dos ossos, responsável pela produção de hemácias, plaquetas e leucócitos. A produção destas células é importante porque evitam que tenhamos anemia, sangramentos e os leucócitos irão defender o organismo, evitando as infecções.

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