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Comportamento

Da ficção, o câncer virou dor real e atriz percebeu que a vida imita a arte

Mamografia que apontava suspeita ficou guardada na gaveta por 8 meses, mesmo ela falando de prevenção todos os dias

Paula Maciulevicius | 16/10/2016 07:05
Aos 56 anos de idade e mais de 30 de teatro, Conceição deixa personagem de lado e entra em cena na hora de falar do câncer. (Fotos: Paula Maciulevicius)
Aos 56 anos de idade e mais de 30 de teatro, Conceição deixa personagem de lado e entra em cena na hora de falar do câncer. (Fotos: Paula Maciulevicius)

Depois de anos rodando o Estado com a peça "Margarida, Cravo e Rosa", Conceição Leite viu que a vida imita a arte, da pior maneira possível. Da personagem que alerta sobre o câncer de mama, ela se tornou protagonista fora dos palcos, ao descobrir, oito meses depois de ter feito a mamografia, que estava com câncer. Aos 56 anos de idade e mais de 30 de teatro, sem cabelos e ainda tendo uma rotina de exames pela frente, ela renovou o espetáculo se colocando em cena.

Sua história agora faz parte da peça, que o Lado B acompanhou sendo apresentada pela Curumins Companhia Teatral para as mulheres que trabalham na Funcional Serviços Terceirizados, para este Voz da Experiência. Conceição fala primeiro como Rosa, para depois ser ela mesma, a paciente que descobriu o câncer em maio do ano passado e ainda está em tratamento. 

(Palmas)

"Ninguém quer ouvir falar de câncer, de câncer de mama. Esse espetáculo Margarida, Cravo e Rosa percorreu todas as cidades de Mato Grosso do Sul, fomos também para Belo Horizonte, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Apresentamos inúmeras vezes e acredito que com esse trabalho, muitas mulheres assistiram, riram e se conscientizaram da necessidade, da importância de ir ao médico e se prevenir. De fazer o autoexame e o exame clínico de mama, porque quando descoberto bem no comecinho, a chance de cura é enorme.

Como personagem, ela conscientiza mulheres há uma década e ano passado se descuidou.
Como personagem, ela conscientiza mulheres há uma década e ano passado se descuidou.

Eu sou atriz, diretora de teatro e escrevemos essa história. Muitas vezes na vida a gente sabe, a gente é bem informada, mas não faz. Eu sou uma pessoa responsável, que ama a vida, eu amo viver, amo o que eu faço. Sou uma guerreira, eu saí inúmeras vezes, apresentei teatro de manhã, de tarde e de noite em diversos espaços. Muitas vezes falei: previnam-se, mas em busca da minha vida, do corre corre, eu fiz mamografia várias vezes, só que ano retrasado, com vontade de trabalhar e sem medo de nada, eu esqueci a última na gaveta.

Quando eu chegava de viagem dizia: 'essa semana eu vou', 'amanhã eu vou, amanhã, amanhã, amanhã...' E oito meses se passaram. Quando o médico que me atendeu, um brilhante profissional abriu, examinou tudo, fiz punção e no meu caso, não deu muito certo, e então ele passou para a biópsia.

Eu sempre fui confiante e corajosa, mas infelizmente, uma semana depois, foi detectado o câncer de mama em mim. Eu? Uma pessoa bem informada? Cuidadosa? Só que em busca de trabalhar, eu esqueci... E deu câncer de mama grau 3, com pouco tempo de vida, pouca chance de viver.

E assim eu sofri uma cirurgia, que me deixou acamada por vários dias, sem nem pensar em trabalho, mas com o apoio da minha família, dos meus amigos: 'Conceição, isso vai sair da sua vida... Não se desanime, não se desespere...' Aquilo me fortaleceu. Cada sorriso de amigo que me visitava, me telefonava, fortalecia a minha fé.

Os meses se passaram e o tratamento é muito difícil. A gente passa por quimioterapia, que não é biscoito. É sofrível demais e eu perguntava: 'mas como eu? Por que não corri cedo? Por que eu não vi?' Por isso, agora mais do que nunca, eu peço a vocês que se cuidem. Cuidem da saúde de vocês, porque cada uma de nós temos a nossa história, os nossos amores que sofrem e se alegram conosco.

Muitas pessoas ficaram preocupadíssimas com a minha saúde, eu fiz e tenho muito o que fazer ainda na minha vida. Eu estudo teatro para viver, para falar de amor e muitas vezes eu quero viver.

Eu, como toda pessoa, dizia: 'nunca vai acontecer comigo'. Talvez seja isso. Me descuidei quando fiz a mamografia e não levei imediatamente ao médico. Fiz, deixei na minha gaveta por oito meses, porque nunca me passou pela cabeça ter algum problema.

O câncer chegou e ela teve de fazer mastectomia na mama esquerda.
O câncer chegou e ela teve de fazer mastectomia na mama esquerda.

Pelo menos em mim, ele não me deu nenhuma dor, não tinha nenhum sinal. E eu assistia as palestras, imagina? Todo município que nós íamos com a peça, levávamos médicos e palestras. Mas eu sempre me senti muito forte, muito saudável, sempre criando, apresentando. Nunca passou pela minha cabeça que pudesse acontecer comigo.

Mas aconteceu e descobri num estágio tão avançado que fiz mastectomia na mama esquerda. E depois de todo processo de cirurgia, fiz a quimioteraia que é muito difícil. A pessoa tem que ser muito corajosa. Eu suportei e acredito que hoje esteja curada. Vou passar por exames.

Muitas mulheres são conscientes, bem informadas e vão achando que não vai acontecer. Foi alimentação? Não sei. Eu não tinha parentes que tivessem tido, nunca fui triste, revoltada com a vida, pelo contrário, sempre fui alegre, disposta e esperançosa. Fator emocional? Não sei. 

No começo eu fiquei muito triste comigo mesma. Senti que não valeu de nada o meu trabalho. Mas depois percebi que é humano a gente pensar que nunca vai acontecer conosco. Então, comecei a fazer o exercício de me perdoar e usar isso para alertar ainda mais mulheres. 

Hoje me sinto curtada, feliz e pronta para a vida".

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