De amar mais, até beber menos, criança vira gente grande puxando orelha dos pais
Na brincadeira, eles "entregam" os pais quando ensinam, brigam e repreendem igual gente grande. Quem tem filhos sabe que não precisa de multa para entender que furar o sinal vermelho é infração em qualquer hora do dia. No carro, os pequenos fazem um alarde tal qual o apito do agente de trânsito. E na rotina de casa, a bronca vem se a mãe bebe cerveja, fala palavrão, se fica muito no celular e o principal: se esquece de amar. No feriado, o Lado B foi à Praça Ari Coelho saber dos pequenos o que eles têm ensinado aos pais.
No parquinho, a lição está em não mentir, porque Thallita já está grande. Aos 11 anos, a menina conta que percebe quando a mãe tenta passar ela para trás e se nega contar alguma história. "Na idade dela a gente já não consegue esconder. Ela fala: eu não sou mais criança'", reproduz a mãe, Rosilene da Silva, de 33 anos. "Eu percebo e digo: 'mãe, fala a verdade logo'", responde a menina.
E nem precisa chegar à fase da pré-adolescência para perceber e ensinar aos pais que mentir, é feio. Dia desses, a comerciante Maria Dilva da Silva, de 34 anos, se atrasou e não conseguiu levar o filho Luís Felipe, de 3 anos, para ver o Homem de Ferro numa loja e resolveu mentir. "Eu falei que ele tinha ficado doente e não tinha ido. Só que ele viu na TV e perguntou: 'mamãe, você tá mentindo?' E eu não sabia onde enfiar a cara", lembra. A risada vem ao rosto, mas é de vergonha de ter tido a atenção chamada pelo garotinho de 3 anos.
E na casa de Emilly e Rosilda, a pequena de 7 anos é quem precisa ensinar a mãe a reclamar menos. "Ela precisa parar de encher o saco", brinca a garotinha. A mãe explica que entende o motivo do pedido/bronca da filha. "Eu sou nervosa mesmo, ela fala que eu reclamo de tudo, mas é que ela deixa as coisas fora de lugar", diz a secretária Rosilda dos Santos, de 45 anos.
Mas além do nervosismo, a mãe sabe que no fundo, a filha troca a reclamação pela companhia. "O que ela me ensina é isso, a ter mais calma. Às vezes não tenho tempo e ela pede para eu brincar com ela, sentar com ela", admite a mãe.
Donos de respostas fofas, tais quais o sotaque mineirim, os irmãos Monyke e Vinícius brincaram com as respostas, mas falaram muito sobre como os pais podem aprender com a inocência deles. Mais velho, Vinícius diz que ainda está ensinando a mãe, Marizete, a gostar do Atlético Mineiro. A resposta desperta sorrisos da família toda.
Monyke emenda dizendo que uma das broncas que precisa dar na mãe e também na tia é sobre o celular. "Você fala, fala, fala e elas estão assim: aham, aham", imita a garotinha de 5 anos.
Quando questionada sobre o que tem ensinado a mãe, ela responde: a amar. "Por que? Porque é uma coisa importante que ela me ensinou". Mas se a mãe lhe ensinou, porque é que ela precisa ensinar de volta? Essa resposta, Monyke balança a cabeça e diz que não sabe, mas a mãe entende.
"É pela parte afetiva mesmo. Eu vinha trabalhando muito, agora que parei e estou tendo mais tempo", assume a recepcionista MarizeteViiera Sena, de 32 anos. E no tempo a mais, a mãe tem aprendido a amar como Monyke quer ensinar.
