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Comportamento

De Bezerra da Silva aos MC's, vô sambista nunca imaginou ter neto no funk

Paula Maciulevicius | 07/04/2015 06:45
O jovem é o segundo neto e o mais velho dos meninos. Seu Wilson tem 66 anos. (Fotos: Arquivo Pessoal)
O jovem é o segundo neto e o mais velho dos meninos. Seu Wilson tem 66 anos. (Fotos: Arquivo Pessoal)

Desta vez a entrevista foi por telefone. Seu Wilson mora em Corumbá, a 419 quilômetros de distância do neto que trocou a Cidade Branca por Campo Grande ainda criança. Mas nem assim perdeu o contato com o avô. A diferença não está só nos 41 anos entre um e outro. Tem o modo de vestir, mas, principalmente, na preferência musical. De Bezerra da Silva aos MC's, avô sambista nunca pensou que o neto viveria do funk.

A série "De guarda-roupa aberto" desta semana coloca Wilson e Jean para exemplificarem o que o guarda-roupa, ou no caso, a caixinha de som, pode falar sobre um e outro. Wilson Dias dos Santos tem 66 anos, é avô paterno do promotor de eventos de funk na cidade, Jean Medina, de 25. Envolvidos no meio social, entre eventos e festas, o avô vê um reflexo do passado ao olhar para o neto e no fim das contas, o que mudou com o passar das gerações foi só a trilha sonora. 

O jovem é o segundo neto e o mais velho dos meninos. Hoje aposentado, seu Wilson nasceu na Capital, mas foi para Corumbá ainda na década de 70 ser gerente de uma companhia de gás na região. Seguiu o mesmo caminho do pai e se aposentou nela depois de 12 anos de trabalhos dedicados. Viúvo há 7 anos, depois de perder a esposa ele encontrou uma companheira com quem mantém um relacionamento um tanto "moderno". "Ela na casa dela e eu na minha", explica.

Sempre envolvido em festas e eventos sociais, o que mudou com o tempo foi só a trilha sonora. Do samba para o funk. (Foto: Arquivo Pessoal)
Sempre envolvido em festas e eventos sociais, o que mudou com o tempo foi só a trilha sonora. Do samba para o funk. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em casa, a música que sai do aparelho de som geralmente segue o mesmo estilo: samba das antigas. "Nelson Gonçalves, Bezerra da Silva, João Nogueira. Também ouço sertanejo, tem algumas bonitas. Sou meio careta ainda, meio não, inteiro", brinca seu Wilson.

A justificativa dele é mais que válida. O gosto musical não é só pelo ritmo, mas mais pelo que a letra tem a dizer. "Hoje é até difícil falar a repeiro das letras. Você ouve ela hoje e daqui 30 dias não está mais ouvindo. Aquilo cai no esquecimento".

Talvez pela frequência com que as novidades chegam, bombardeando ouvidos que antes se dedicavam às mesmas músicas por décadas é que seu Wilson se mantém apegado ao som do passado. De tempos que nem as letras mais bonitas de hoje poderiam passar o sentimento da época.

Contra o funk, ele brinca que não tem nada. Mas se surpreende sim de ver a preferência do neto. "Eu não tenho nada contra, o funk tem até poesias, mas também tem letras incitantes. Você ouve e aquilo dissipa até para briga", lamenta o avô. "Mas esse é meu ponto de vista, cada um frequenta e sabe o que quer e nem todos os gostos são iguais. O que seria da rosa, se não fosse o espinho?" A comparação já revela um lado mais romântico de seu Wilson.

As lembranças de infância e até mesmo da fase adulta que vem à cabeça do neto é do avô ouvindo samba. "O povo de casa é tudo do samba, meu pai, mãe e avô. Samba mesmo. Bezerra da Silva é o que eu lembro que ele escutava", conta Jean.

Aos olhos do neto, as coincidências estão na facilidade de comunicação com o público. (Foto: Arquivo/João Garrrigó)
Aos olhos do neto, as coincidências estão na facilidade de comunicação com o público. (Foto: Arquivo/João Garrrigó)

O rapaz que aos 10 anos veio morar em Campo Grande recorda que aos 15, trouxe de Corumbá um CD de funk para ouvir na escola. Ainda era novidade por aqui. Quatro anos depois estava fazendo o primeiro evento do estilo. "Nasci em Corumbá, família toda é de lá e o funk entrou, justamente, por Corumbá. Lá eles puxam um pouco do jeito carioca e copiam também", explica.

Apesar de viver o funk, Jean coloca que também gosta do mesmo estilo do avô. "O funk é meu lado profissional, quando estou em família, gosto de escutar outros ritmos: um samba, um sertanejo", pontua.

As primeiras festas a promover em Campo Grande foram de pagode, mas num palpite, Jean resolveu trazer MC Negão. Deu certo e a partir daquele momento ele passou a trabalhar só com funk.

O avô volta à cena para dizer que entre os dois, essa é uma das grande semelhanças. "Quando jovem eu participava dos clubes Libanês, Surian, União dos Sargentos, sempre nas noites. Nisso somos parecidos. Quando eu era jovem, antes de casar e até depois de casar também tive uma vida social muito boa".

As noitadas do avô aconteceram na Capital e também em Corumbá. Em parte por diversão e também pelas responsabilidades, à frente da direção dos clubes das cidades.

Das roupas sociais que seu Wilson a vida inteira usufruiu, o neto só coloca dentro do armário o que é de marca. Hoje numa linha mais de aposentado, o avô não troca a calça jeans e a camisa polo por nada. O neto, não tira a ostentação de cena.

"Eu sou um cara muito vaidoso. Gasto horrores com roupa de marca mesmo, uso porque me sinto bem", classifica Jean. No vestuário estão bonés, relógios, camisas e tênis de grife.

Aos olhos do neto, as coincidências estão na facilidade de comunicação com o público. "Ele é bem comunicativo, assim como eu".

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