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Comportamento

Decididas e cheias de cachos, meninas criam encontro de crespos no Parque

Naiane Mesquita | 03/11/2015 12:00
Vanessa, Angela, Tay, Sara, Miriã e Juliana se conheceram na internet e agora realizam evento sobre cabelos cacheados e crespos na Capital (Fotos: Marcos Ermínio)
Vanessa, Angela, Tay, Sara, Miriã e Juliana se conheceram na internet e agora realizam evento sobre cabelos cacheados e crespos na Capital (Fotos: Marcos Ermínio)

Mais do que um simples cabelo, para algumas meninas assumir os cachos é mostrar o orgulho que elas têm de carregar no sangue a raça negra. De cabelos cacheados ou crespos, jovens de 20 a 30 anos decidiram se unir por meio das redes sociais e realizar um encontro que tem como objetivo divulgar o pensamento livre, o enfrentamento ao preconceito e até como fazer um turbante perfeito envolvendo os fios encaracolados.

O Encontro de Crespos e Cachos MS 2015 será realizado no dia 29 de novembro, às 15 horas, no Parque das Nações Indígenas em Campo Grande. O evento é aberto tanto para meninas quanto para meninos e começa com uma roda de conversa apresentando o encontro e em seguida com o tema “Meu cabelo, um ato político”.

“Esse movimento não é por causa do cacheado em si, vai além do enfrentamento de que para ser bonita precisa ter cabelo liso. Queremos honrar a nossa pele, crespo e cacheado não é questão de moda, mas sim de assumir a nossa identidade, é um ato político”, afirma Sara Arinos, 18 anos.

A estudante conheceu outras meninas que pensavam da mesma forma por meio das redes sociais e juntas tiveram a ideia de criar o grupo e o encontro. “Na verdade, nós nos conhecemos em um grupo de cacheadas no Facebook. Vimos que todas eram aqui da cidade e criamos um grupo nosso, falamos sobre cabelo e também sobre assuntos do cotidiano”, explica a maquiadora e blogueira Juliana Dimas, 30 anos.

Até agora na pagina do evento tem mais de 500 confirmações, mas as meninas esperam cerca de 100 pessoas. “Ficamos surpresas com a repercussão. Vamos confiar que pelos menos 100 vão”, acredita Sara.

Para elas, cada confirmação significa muito. “Esse é o intuito do grupo, ajuda muito saber que tem mais gente com o desejo de assumir os cachos, de se sentir bem com o cabelo, com a identidade”, defende Angela Batista, 22 anos, professora de literatura.

Com os cabelos assumidamente crespos, ela diz que na sala de aula, a identidade faz muito sucesso. “Meus alunos adoram. Quando vou com ele preso pedem para soltar, já tive que ensinar como usar o turbante, é muito legal”, ressalta.

Essa reação é quase uma novidade para as jovens, que já ouviram muito desaforo na rua. “Tem gente que faz cara de nojo, que grita na rua, diz que o cabelo é horroroso”, diz Vanessa Pereira, 20 anos, design de moda.
Todas confirmam.

“As pessoas não aceitam ainda, tem dificuldade. Mas, é uma coisa que está sendo inserida, incomoda a cultura do cabelo cacheado e crespo”, frisa Tay Pereira, 20 anos, auxiliar administrativa. Uma das ministrantes do curso de turbante, ela ressalta que sempre que dá vai com o acessório no trabalho e não liga para as críticas negativas.

Juliana que é blogueira e acostumada com o mundo da moda acredita que o principal problema ainda está na mentalidade do campo-grandense. “A aceitação em Campo Grande é menor, é mais fechado que em São Paulo e no Rio de Janeiro. Lá, os movimentos são diferentes, muito mais articulados, muito mais empoderados”, defende.

Dar poder para as mulheres, negras, cacheadas ou lisas parece ser o principal objetivo das jovens que cresceram acreditando que merecem muito mais. “Já ouvi do meu pai que eu deveria alisar meu cabelo para conseguir um emprego. Aliso desde os cinco anos de idade, quando decidi assumir os cachos eu nem sabia como meu cabelo era, qual a estrutura que ele tinha”, relembra Angela.

Até os recentes ataques racistas aos cabelos e cor da pele da atriz Tais Araújo na internet não desanimam as meninas, pelo contrário. "Quem sabe por ela ser famosa, tem mais poder de voz, a causa seja mais discutida", acredita Juliana. Frases como "me empresta seu cabelo para lavar louça" ou "te pago com banana" foram escritos em uma foto no perfil da atriz global. Tais respondeu com um comunicado afirmando que vai entrar na justiça contra os ofensores.

Para evitar que mais meninas crescam e sofram acreditando que não tem um cabelo bonito, as meninas darão várias dicas no grupo e no dia do evento. Uma delas é como usar um turbante. Para o Lado B, a Tay Pereira topou ensinar o passo a passo para fazer um bem estiloso. Confira:

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Informações sobre o encontro na página do evento.

1º passo: abra o lenço e una as pontas na frente, deixando o cabelo atrás bem preso
1º passo: abra o lenço e una as pontas na frente, deixando o cabelo atrás bem preso
2º passo: trance as pontas
2º passo: trance as pontas
3º passo: uma deve ir para cima e outra para baixo, como na imagem, sempre esticando bem o turbante
3º passo: uma deve ir para cima e outra para baixo, como na imagem, sempre esticando bem o turbante
4º passo: comece a esconder as pontas
4º passo: comece a esconder as pontas
5º passo: vá escondendo as pontas sem se preocupar com o cabelo que sobrou em cima
5º passo: vá escondendo as pontas sem se preocupar com o cabelo que sobrou em cima
6º passo: para finalizar esconda todo o cabelo
6º passo: para finalizar esconda todo o cabelo
Para as jovens, o turbante carrega uma história muito além da moda atual
Para as jovens, o turbante carrega uma história muito além da moda atual
Decididas e cheias de cachos, meninas criam encontro de crespos no Parque
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