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Comportamento

Ela herdou um trem do pai e vive há 25 anos incentivando a imaginação

Paula Maciulevicius | 30/11/2013 07:05
Trem nos trilhos, em 1996 chegou a ver de a família estrear o Expresso 96. A segunda locomotiva da família. (Fotos: Marcos Ermínio)
Trem nos trilhos, em 1996 chegou a ver de a família estrear o Expresso 96. A segunda locomotiva da família. (Fotos: Marcos Ermínio)

As ruas dos bairros mais afastados viram trilhos para a Maria Fumaça “Expresso 96”. O apito anuncia que o trem está chegando e que se prepare o passageiro para embarcar na imaginação.

De cidade em cidade, a locomotiva leva encanto e resgata até o último passar do vagão, a história trazida pelo trem. A maquinista é mulher. Rosângela Rodrigues Tavares, de 48 anos, ganhou a Maria Fumaça de presente do pai, o segundo feito pelas mãos da própria família. Há 25 anos, ela viaja pela fantasia de levar aos quatro cantos do País, a paixão que sente no peito. A batida das rodas na estrada de ferro.

“Venho de uma família de caminhoneiros. Eu aprendi isso e não sei fazer outra coisa, só estrada mesmo. Falo que já tinha óleo diesel na minha mamadeira”, brinca.

Nesta sexta-feira ela encerrou a viagem em Campo Grande, mas já engata outra, na cidade onde tem residência, em Londrina. Durante todos os dias da semana que terminou, Rosângela passou por bairros de periferia da Capital no trabalho de divulgação da marca Refriko.

A profissão no documento é motorista profissional. Nos trilhos, maquinista. O Expresso 96 tem no nome o ano de término. Foram 12 meses para que o pai dela transformasse um caminhão Mercedes 1113 na locomotiva. Cada rebite tem o sangue que corre nas veias, no ritmo de um trem que está sempre em partida.

“A nossa história começou nos trilhos do trem e na fantasia não se pode deixar morrer essa história”, diz.
“A nossa história começou nos trilhos do trem e na fantasia não se pode deixar morrer essa história”, diz.

Em uma volta se faz uma viagem ao mundo, independentemente do trajeto do maquinista. Na Maria Fumaça de Rosângela, não precisa nem fechar os olhos. Em vermelho e preto, a locomotiva é exatamente a réplica daqueles que um dia chegaram à esplanada ferroviária.

O primeiro trem da família foi na década de 80. Ficou pronto em 1981. Exigiu além de técnica, persistência. “Foi uma época difícil, não tinha onde fazer e nem exemplo a seguir”. Era um sonho do pai. Talvez por isso, o desenho e o manual de como fazer estivessem na cabeça há muitos anos.

Trem nos trilhos, em 1996 chegou a ver de a família estrear o Expresso 96. “Aquele ele vendeu depois e fez este maior e um outro para o meu irmão”.

O vagão pode transportar até 60 passageiros para onde cada criança quiser ir. “Eu costumo brincar que quem viaja, viaja no encanto e na magia. Eles entram na cabine e me perguntam, como faz a fumaça? Eu ponho o carvão aqui e ele solta”.

É com tanto amor ao maquinário que Rosângela conta sua história que é passível de se acreditar que por trás dos 48 anos de idade, tenha uma pequena menina que brinca pelos trilhos da própria imaginação, fazendo do trabalho de motorista, o brinquedo preferido.

Na razão de uma adulta, ela sabe que as crianças de hoje vão crescer um dia e ver que não é nada disso. Que não trem, mas que era o que os levou para uma viagem de Maria Fumaça. “Lá na vida adulta, eles vão lembrar, eu andei de trem. Eu faço isso há anos e sempre é muito gratificante, a gente não imagina o que se passa na cabeça de uma criança que vê um trenzinho na rua, mas eles pulam de alegria e a gente vê que um trem lá de trás, do tempo dos avós, ainda faz a diferença”.

Pela estrada de ferro, Rosângela leva a história que começou nos trilhos. Quando passageiros chegavam à cidades recém descobertas, cargas abasteciam locais. Comida, aprendizado, mercadoria, dinheiro e um passado passaram pelo apito das locomotivas. “A nossa história começou nos trilhos do trem e na fantasia não se pode deixar morrer essa história”.

O pai de Rosângela tem hoje 76 anos e o maior orgulho de ter deixado esse legado à ela e ao irmão.

A passagem por Campo Grande acabou na sexta-feira ela encerrou a viagem em Campo Grande, mas já engata outra, rumo à Londrina.
A passagem por Campo Grande acabou na sexta-feira ela encerrou a viagem em Campo Grande, mas já engata outra, rumo à Londrina.
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