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Comportamento

Fama ruim faz morador andar muito, porque após 18h motorista de aplicativo some

Frustração ao chamar motorista é um dos dilemas em bairros taxados como perigosos

Danielle Valentim | 19/07/2019 09:03
Jardineiro José Roberto Areco, de 47 anos, que mora na mesma rua defende que depende do horário. (Foto: Kísie Ainoã)
Jardineiro José Roberto Areco, de 47 anos, que mora na mesma rua defende que depende do horário. (Foto: Kísie Ainoã)

Até que ponto a criminalidade transforma a rotina de um bairro? A fama da violência em Campo Grande há tempos passou das antigas brigas de gangues para locais dominados pelo tráfico. Em meio à periculosidade, quem não tem nada a ver com crime passa pelo constrangimento de ouvir “que o bairro só tem bandido” na hora de chamar um entregador ou um motorista de aplicativo.

O isolamento forçado não afeta apenas moradores. Nesta semana, equipe do Lado B ficou “plantada” em um ponto do Bairro Los Angeles tentando conseguir uma viagem por aplicativo, às 19h. A conversa que era intermediada por um terceiro jornalista tinha o intuito de convencer o motorista a não cancelar mais uma vez a corrida.

Depois de caminhar por três quadras até uma via asfaltada próxima, a repórter e o fotógrafo conseguiram mandar um novo endereço e finalmente serem pegos por um condutor, às 19h30. Assim que as portas foram travadas e o percurso iniciado, o motorista desabafou sobre o medo de aceitar corrida naquela hora.

Tanto a Polícia Civil como as empresas de tecnologia - que mapeiam lugares considerados de risco - se baseiam no índice de registro das ocorrências dos locais. O dados comprovam que a criminalidade está por toda a parte, mas que ainda há pontos mais críticos.

A reportagem visitou bairros localizados na região sul e colheu depoimentos de quem enfrenta isso no dia a dia. Segundo eles, se trata de um problema que não se restringe apenas a locomoção, mas até nas entregas. Pedidos de um lanche pizza? Também costumam não chegar.

No Uirapuru, José reconhece a periculosidade.(Foto: Kísie Ainoã)
No Uirapuru, José reconhece a periculosidade.(Foto: Kísie Ainoã)
“Acho que eles têm medo. Eles chegam aqui e correm", diz Carlos. (Foto: Kísie Ainoã)
“Acho que eles têm medo. Eles chegam aqui e correm", diz Carlos. (Foto: Kísie Ainoã)

O peão José Moreira da Silva, de 46 anos, reclama da falta de assistência no Uirapuru, um tipo de setor do Bairro Los Angeles. Na região, até mesmo os moradores reconhecem a periculosidade.

“A rua aqui é a Lauro Muller, sem asfalto como vocês podem ver, o ônibus demora, o socorro não vem e piorou os motoristas de aplicativo piorou. Eu trabalho em fazenda e quando preciso não tem”, pontua.

Na Rua Florência José Pereira, que corta os bairros Mário Covas e Campo Nobre, o problema não é diferente. “Acho que eles têm medo. Eles chegam aqui e correm. Aí a gente tem de sair daqui e ir na Avenida. Se tiver passando mal morre”, conta Carlos Eduardo.

Já o jardineiro José Roberto Areco, de 47 anos, que mora na mesma rua defende que depende do horário. “De dia eles vêm, mas deu 18h esquece. Mas depende muito do endereço. Aqui as vezes eles cancelam, aí temos que ir no asfalto. Aí eles mandam na observação que perderam o sinal”, frisa.

Na Rua Paca não vão nem durante o dia. A moradora Gisele Adones, de 32 anos. “É muito difícil. No próprio grupo deles, eles já avisam para ninguém vir aqui”, pontua.

Na Rua Paca não vão nem durante o dia. (Foto: Kísie Ainoã)
Na Rua Paca não vão nem durante o dia. (Foto: Kísie Ainoã)
Com bebê de poucos meses e no bairro Morada do Sol há um ano, Daiane Machado, de 29 anos, já passou muita raiva.(Foto: Kísie Ainoã)
Com bebê de poucos meses e no bairro Morada do Sol há um ano, Daiane Machado, de 29 anos, já passou muita raiva.(Foto: Kísie Ainoã)

Morando na mesma rua e com um bebê de 3 meses, Adrieli da Silva Albuquerque, de 19 anos, já precisou usar e teve a viagem cancelada. “Aqui a gente pede na rua de cima. Na porta de casa eles não vêm buscar. É bem difícil”, conta.

Com bebê de poucos meses e no bairro Morada do Sol há um ano, Daiane Machado, de 29 anos, já passou muita raiva. “Não é só à noite. Eu tinha que ir trabalhar e às vezes precisava, mas às 5h eles também não vêm. Ainda bem que meu marido tem carro e se precisar levar meu filho no médico tenho como ir”, pontua.

Mãe de três filhos, Eduarda Emili Ferreira, de 21 anos, sabe bem como é precisar. (Foto: Kísie Ainoã)
Mãe de três filhos, Eduarda Emili Ferreira, de 21 anos, sabe bem como é precisar. (Foto: Kísie Ainoã)

Já no Vespasiano Martins, especialmente na Rua José Pacheco do Amaral, o transporte por aplicativo é outra lenda. Mãe de três filhos, Eduarda Emili Ferreira, de 21 anos, sabe bem como é. “Depois das 19h esquece. Eles cancelam. É muito difícil conseguir. Já precisei várias vezes e tive que desistir. Eles cancelam e às vezes mandam mensagem dizendo que já olharam no mapa e que a rua é perigosa”, finaliza.

Em Campo Grande, além dos táxis e mototáxis três grandes empresas oferecem o serviço de transporte por aplicativo. Todas buscam soluções para a melhora do app e divulgam mapeamento de bairros perigosos aos seus parceiros. Um levantamento que é feito a partir do maior número de registros de assaltos.

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