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Comportamento

Figueira de 70 anos do Coronel Antonino fez “nascer” a Rua do Rosário

Nem asfalto tirou árvore que correu risco de ser derrubada, mas ganhou protesto de moradores

Alana Portela | 18/05/2019 07:25
A figueira está no meio da rua do Rosário (Foto: Henrique Kawaminami)
A figueira está no meio da rua do Rosário (Foto: Henrique Kawaminami)

A figueira com mais de dez metros de altura é um dos bens mais antigos do bairro Coronel Antonino e foi a “semente” para criar a rua do Rosário, em Campo Grande. A árvore tornou-se um patrimônio histórico da região e os moradores até fizeram um protesto para evitar que ela fosse derrubada. Na época, queriam tirá-la para pavimentar a rua, que havia acabado de ser desmembrada do Club Campestre Ipê, onde era uma fazenda.

O corretor de imóveis, Ari Ferreira, 68 anos, explica que a figueira era parte da fazenda de Amadeu Mena Gonçalves, que adorava árvores. Mas com o tempo, o local foi sendo loteado. “Essa área, desde a avenida Mato Grosso até a Estrela do Sul, era o loteamento da Vila Rosa, Vila Célia, Vila Silvia, bairro Coronel Antonino e do Clube Campestre Ipê. Isso pertencia à família do Coronel Antonino, pai do Amadeu, que passou a lotear em 1949. Acredito que o próprio Amadeu quem plantou a árvore porque aqui era a sua paixão”, conta.

Ari acredita que a figueira tenha 70 anos, pois ela já estava no local antes do loteamento e recorda que naquela época, Amadeu havia combinado que quem comprasse um lote, seria sócio do clube. “Ele fundou o local, foi sócio e por volta de1970 entregou para a sociedade. A árvore parou de pertencer à fazenda quando passaram asfalto, isso foi gestão do ex-prefeito Levy Dias em 1977”, relata.

Foi nesse tempo que a conversa sobre derrubar a figueira começou e logo gerou a revolta dos moradores. “Quiseram tirar ela daí, mas a população não deixou. Lembro que fizeram um movimento para protestar, entraram na frente. Depois desistiram e não falaram mais nisso”, disse. Apesar da manifestação, a rua foi asfaltada, porém a árvore permaneceu no meio e divide a via até hoje.

Ari Ferreira conta que a figueira pertencia ao Club Campestre Ipê (Foto: Alana Portela)
Ari Ferreira conta que a figueira pertencia ao Club Campestre Ipê (Foto: Alana Portela)

Ari comenta que quem fez o loteamento da fazenda foi Amadeu e que começou a trabalhar com ele em 1972. “O seu Amadeu era sócio da imobiliária Cacique, onde trabalho até hoje e deixou os documentos lá. A árvore se tornou pública, mas ninguém chegou a machucá-la. Muitos sentavam embaixo dela, de vez em quando dormia e até hoje aparece um morador de rua para dormir ali”, conta.

Para ele, a figueira faz parte da história do bairro. “Gostamos dela, é um ponto de referência. A região ganhou novos moradores, mas acredito que se quiserem derrubar novamente, devem fazer alguma coisa”, afirma. Amadeu era gaúcho, foi casado com Célia da Rosa Gonçalves e deu o nome da rua onde a figueira está no meio, de Rosário em homenagem a seu estado de origem.

“Quis homenagear Rio Grande do Sul, tanto é que tem ainda a rua do Livramento, Jaguarão, Porto Alegre. O bairro Vila Célia foi em homenagem à esposa, a Vila Rosa em tributo a família Rosa que também era da mulher dele. Tem a Vila Silvia por conta da irmã da Célia. No clube também tinha bastante ipê, o Amadeu gostava muito do campo”, recorda.

A Figueira está no meio da rua do Rosário e tem mais de dez metros (Foto: Henrique Kawaminami)
A Figueira está no meio da rua do Rosário e tem mais de dez metros (Foto: Henrique Kawaminami)

Símbolo - A figueira que está no meio da rua do Rosário, quase no cruzamento com a rua Riachão. A árvore além de marcar a história do bairro, também faz parte da vida da empresária Cristina de Oliveira, 50 anos, que cresceu no local e brincou diversas vezes ao pé frondoso.

Para ela, a figueira representa força e vida. Sua ligação com a árvore é tão forte que até mudou-se de casa para morar mais perto dela e ter o privilégio de ouvir o canto dos pássaros pela manhã. Ao falar na planta, Cristina recorda a sua infância.

“Brincávamos nela. Na época, a rua não tinha asfalto e o Clube Ipê não era desmembrado, então tudo fazia parte dele. Era a árvore mais frondosa e quando chegou o asfalto, queriam tirá-la”. Cristina foi um dos moradores que participou do protesto na época. “Fui uma das pessoas que lutou para que continuasse aqui, porque faz parte da minha vida. Falei que se derrubassem, teriam que me derrubar junto”, completa.

Cristina recorda diz que árvore se tornou símbolo de força e vida (Foto: Henrique Kawaminami)
Cristina recorda diz que árvore se tornou símbolo de força e vida (Foto: Henrique Kawaminami)

Cristina afirma que a árvore é patrimônio do bairro. “Os galhos aumentaram de tamanho, ficou mais alto e é um exemplo de força e vida. Tenho uma ligação com ela, tanto que quis morar mais próximo dela. É o pé mais lindo visto de manhã, tornou-se abrigo de vários pássaros, é sombra para rua, oxigênio renovado e a beleza”, disse.

Ela diz que a árvore merece cuidados. “É algo da natureza que deve ser preservado, respeitado e amado. Minha mãe casou no Club Ipê, a festa foi no salão social e a árvore estava alí”, lembra.

A empresária mora na casa que fica de esquina para a Figueira e conta que dá para ver os galhos dela da varanda de sua residência. “Quando coloco a rede na minha varanda, ao amanhecer, não existe nada melhor do que chegar em casa e contemplar os galhos balançando, os pássaros fazendo festa, tem tucanos”.

Segundo Cristina, de manhã é possível notar araras vermelhas e azuis, e a revoada de periquitos, fazendo barulho, brincando e voando por toda parte. “Ficam camuflados por causa da tonalidade das folhas, mas vemos que eles fazem aquela festa”, disse.

Entre as lembranças do seu passado está a brincadeira de esconde-esconde. “Ficávamos no tronco e subíamos. Pendurávamos nos galhos. Tinha criança que colocava balanço, os pais iam lá amarravam cordas para fazer os banquinhos de pneus de carros”.

Cristina relata que com o passar dos anos, as crianças deixaram o costume de se divertir na figueira. “Agora, faz parte do paisagismo da rua”, disse.

Cristina conta alguns fatos envolvendo a figueira Foto: Henrique Kawaminami)
Cristina conta alguns fatos envolvendo a figueira Foto: Henrique Kawaminami)
As folhas dos galhos continuam vivas (Foto: Henrique Kawaminami)
As folhas dos galhos continuam vivas (Foto: Henrique Kawaminami)

Tragédia - Segundo a empresária, o que pode ter deixado a Figueira com uma má impressão é uma tragédia que aconteceu há três décadas. “Houve no passado triste com essa árvore. O salão de festas fazia discoteca, foi o auge, os jovens vinham e dançavam. Aconteceram algumas brigas de gangues, rivalidades de bairro e teve um assassinato. Infelizmente o corpo ficou embaixo da Figueira até chegar o socorro. Depois as pessoas acharam que o pé era mal-assombrado”, relata.

Cristina conta que não dá mais para sentar embaixo da árvore, por causa do trânsito e que não gostaria que a figueira fosse retirada da rua do Rosário. “Acho um crime ambiental se for arrancá-la, pois está aí viva e maravilhosa há tantos anos. Merece ficar”.

“Precisamos reivindicar para que ela continue aqui. É oxigênio e abrigo para os pássaros. Já fomos a segunda maior cidade brasileira em relação ao índice de árvores e não podemos perder isso”, destaca a empresária.

Francisco Espíndola diz que o bairro é privilegiado por conta da Figueira  (Foto: Henrique Kawaminami)
Francisco Espíndola diz que o bairro é privilegiado por conta da Figueira (Foto: Henrique Kawaminami)

Referência - Francisco Espíndola mora no bairro há 20 anos. Nasceu no Rio Grande do Sul, onde aprendeu a apreciar a natureza, por influência de seus pais. Para ele, a região é o melhor bairro da Capital, e quando tem que passar o endereço fala da Figueira. “Digo que é onde tem uma árvore no meio da rua, e todo mundo conhece. É um ponto de referência de todos”, disse.

Ele conta que todas as pessoas que passam pela rua do Rosário, se encanta com a Figueira. “Falam que isso é lindo, é uma rua de mão dupla. Acidente nunca aconteceu por conta dela, só acho que os motoristas devem reduzir a velocidade porque muitos abusam. Batida de carro acontece em todas as esquinas, menos aqui”, afirma.

Para Francisco, Campo Grande tem o melhor clima por conta das árvores. “É bem arborizado. Lá no Rio Grande do Sul, plantava e meus pais gostavam muito também. Quem mora em cidade do interior adora árvore. Aqui é um bairro ótimo e essa rua é privilegiada”, fala.

Divalci Santos mora no bairro há sete meses e que gosta de tudo que é verde (Foto: Henrique Kawaminami)
Divalci Santos mora no bairro há sete meses e que gosta de tudo que é verde (Foto: Henrique Kawaminami)

Preservação e cuidados - Divalci Santos, 50 anos mora no bairro há sete meses e relata que gosta ver a Figueira na rua, porém é preciso que preserve e cuide dela. “Se caso ver alguém querendo destruir, vou parar e perguntar o que está acontecendo, pois se depender da minha vontade, não tiram e nem maltratam”, disse.

A moradora é cozinheira e pegou gosto pelas plantas, inclusive plantou três ipês na frente de sua residência para que, assim como a Figueira, se tornem ponto de referência no bairro. “Fui criada em fazenda, adoro mato. Com a natureza você deixa o ambiente mais alegre”, conclui.

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Figueira tem mais de dez metros e é um patrimônio histórico do local (Foto: Henrique Kawaminami)
Figueira tem mais de dez metros e é um patrimônio histórico do local (Foto: Henrique Kawaminami)
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