Fotógrafo tenta registrar mulheres fora dos padrões, mas o tiro sai pela culatra

O que é bonito para você? Qual a sua relação com o espelho? Qual padrão de beleza que te encanta?

Por acreditar que “toda mulher pode ser bela sendo ela”, o fotógrafo  Ryan Felipe, de 20 anos, criou o projeto Desnude, que virou matéria do Lado B em setembro do ano passado. Tudo ia bem com o trabalho de fotografias artísticas, clientes não faltavam, mas quando ele se deu conta estava descontente com os rumos que o projeto tomou. A descoberta dele diz muito sobre comportamentos atuais.

“Na verdade foi o contrário do que eu esperava, a procura era muito grande para fazer as fotos. No meio do ano, por exemplo, chegou a ter três meses com a agenda cheia. Mas as pessoas que estavam procurando não estavam ali pela ideia do projeto”, resume.

Ele explica que a proposta sempre foi derrubar padrões de beleza, mostrando que qualquer mulher, comum, com qualquer corpo, poderia sim posar como modelo. Mas na prática a procura foi inversa.

As garotas que buscavam as fotos, com poucas exceções, eram justamente as que corriam atrás de um padrão de beleza proposto pelas capas de revista. “Elas queriam se exibir e não fazer fotos mais artísticas e naturais. Então, aquilo que eu tinha pensado, o que eu estava tentando criticar com as fotos, de valorizar apenas um padrão de beleza, estava acontecendo”, relata.

No Facebook, na página do Desnude, ele postou a insatisfação com o rumo que o projeto tomou com o tempo. Só um tipo de mulher queria aparecer e, justamente, as que tinham um corpo padrão Playboy. isso começou a incomodar Ryan.

O “Desnude” foi criado em Campo Grande para valorizar a beleza fora dos padrões midiáticos e acabou miando. O fotografo aponta como responsável o fato de Campo Grande não estar preparada ainda para projetos mais ousados. Ele busca o nu artístico em fotos cruas, sem produção ou tratamentos digitais, que mostrem todos os tipos de mulheres.

Para ele, o conservadorismo cultural da nossa cidade acabou atrapalhando os planos. “Nunca quis ganhar dinheiro com isso, eu sempre quis mostrar a mulher comum e não era ela quem estava me procurando, não sei se por ela estar de mal com o seu corpo. Então eu tinha que ir atrás dessas pessoas e muitas vezes eu não tinha essa resposta positiva para o ensaio”, conta.

Apesar da decepção, Ryan diz que a vontade não morreu, só está em pausa, para o projeto ser reestruturado e ganhar uma nova forma.

Agora, com nova estrutura, no estilo de revista eletrônica, ele acredita na chance de dar certo. Ryan continua na luta por mulheres magrinhas, gordinhas, com quadris largos ou peitos pequenos.

“Você quer fazer um negócio legal, uma ideia diferente que valorize a mulher. Mas é difícil por não ter esse retorno”, lamenta.

A ideia de mostrar as belezas escondidas longe dos padrões continua, resta saber se dessa vez vai vingar com tanta gente de mal com o espelho.