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Comportamento

Há 3 anos, casal mostra como é possível largar tudo e viver aventuras no Japão

Thailla Torres | 24/08/2018 08:56

Quem enfrenta a montanha russa que é viver no Japão terá sempre histórias para contar. E todas serão diferentes. O web designer Rodrigo Junior, de 29 anos, e a namorada, formam um casal aventureiro inspirador, daqueles que largaram tudo para apostar num sonho do outro lado do mundo.

Sem medo de mudanças, nos últimos 3 anos, eles viveram situações para uma vida inteira. Casaram, tiveram um filho, ele já foi trabalhar em loja de sushi e juntos se tornaram samurai e gueixa para um comercial nos bairros antigos de Tokyo. 

Participaram de eventos inusitados no Japão, criaram um canal no Youtube, compartilham curiosidades e, todos os dias, comemoram juntos cada conquista e desafio superados. Porque se viver junto onde a gente se sente em casa já é difícil, imagina do outro lado do mundo? Por isso, essas e outras histórias, Rodrigo compartilha no Voz da Experiência para mostrar mais uma vez que realizar um sonho não é impossível, viver no Japão muito menos.

"Nós sempre tivemos uma paixão inexplicável pelo Japão. Foi uma das coisas que nos uniu. É uma coincidência que em ambas as nossas famílias, sempre fomos os “esquisitinhos” que gostavam das coisas diferente do resto das pessoas. Animes, videogames, personagens, Nintendo.  Então quando nos conhecemos e começamos a namorar, falar sobre casamento, foi natural trazer esse sonho para a conversa.

Então começamos a procurar diversas formas de tornar este sonho realidade, e foi através da bolsa de estudos que ela recebeu para a universidade de Tokyo que viemos inicialmente para o Japão.

O Japão não é apenas outro país, é outro planeta. Eu já morei nos Estados Unidos e no Chile por um tempo anteriormente, mas o Japão é totalmente diferente. A cultura dos brasileiros vem toda da Europa e da África. Então aqui tudo é diferente, desde os costumes, a como as pessoas se relacionam, em que elas acreditam, como encaram a vida, o ambiente de trabalho.

A maior diferença definitivamente foi se adaptar à forma que os japoneses encaram família e amigos. Aqui, todos sempre te tratam muito bem, se divertem e se respeitam. Pensam muito no próximo em tudo o que fazem em sociedade.

Mas quando as relações começam a ficar mais íntimas, você percebe o quanto é difícil criar uma conexão. Aqui em Tokyo, depois e adultos os japoneses em geral tem uma relação muito distante com os pais, e os amigos se restringem normalmente a ambientes fora de casa. As pessoas se surpreendem muito quando chamamos para nos visitar. Adoram, mas ficam surpresos.

Isso é um pouco difícil pois quando estamos sozinhos em um lugar distante, nossos amigos se tornam nossa família. Então essa diferença cultural ainda é um obstáculo para nós. Boa parte dos nossos amigos são estrangeiros.

Outra diferença engraçada é que eles simplesmente não se encostam. Então para cumprimentar alguém, se você for dar uma braço ou um beijo na bochecha, prepare-se para paralisar um japonês. Até apertos de mão se tornam uma interação esquisita. Aqui o normal é fazer reverência.

Mas nossa regra é: Em casa de brasileiro você vai ser recebido com abraço. No início, eles ficam super sem graça e não sabem o que fazer. Mas já na terceira vez adoram, já chegam de braços abertos.

Ainda sobre isso, demonstrar carinho na rua é um escândalo. Uma vez demos um selinho na boca enquanto esperávamos o troco no caixa e a atendente deu um grito de susto, ficou vermelha de vergonha e ficou repetindo “Casal feliz, que bonito! Casal feliz!”. Ela estava em choque.

Boa histórias - Quando chegamos no Japão, ela já estava com seus estudos no mestrado e eu cuidando do meu trabalho online na minha Startup. Mas com a taxa de conversão ruim do real para o yen, eu precisei procurar um trabalho de meio período que me permitisse ainda tocar a minha empresa, e colocar um dinheiro em yen em casa.

Foi quando eu passei a falar que precisava de trabalho a todos que conhecia. Uma senhorinha japonesa super doce do café da universidade me indicou o restaurante de sushi. Quando cheguei lá, ninguém falava uma palavra em inglês, e meu Japonês ainda era bem precário.

Era um restaurante pequeno e de família. O sushiman era um japonês velhinho e alegre, com uma bandana do sol nascente na testa e uma toalha no ombro. Todos o chamavam de “MASUTAA”, significando “master” ou “mestre”.  Coisa comum em lojas tradicionais de sushi.

Pensei que fosse ser uma boa oportunidade para treinar meu japonês e ter uma experiência diferente. Eles gostaram da minha alegria, passaram por cima da barreira linguística e me aceitaram. Passei 1 mês fazendo chá verde, pegando pedidos e ajudando o master até receber uma proposta de emprego em uma empresa na minha área de atuação.

Saí da loja de sushi e fui trabalhar com Design, filmagem de vídeos e programação na Travelience: uma empresa de T.I. com produtos focados na indústria do turismo.

Voltando um pouco no tempo, desde o início da nossa vida por aqui, a gente se destacou por sermos brasileiros e alegres. No campus descobrimos que éramos famosos,  as pessoas se referiam a nós como “sabe aquele casal que dança?”, pois em toda reunião a gente fazia brincadeiras e dançava.

Isso levou a múltiplas vezes sermos convidados pelo sensei para jantares quando outros professores de diferentes universidades vinham visitá-lo. A gente servia praticamente de atração, a mesa era sempre silenciosa quando não estávamos lá. Isso acabou nos abrindo portas para diversas oportunidades.

Então, voltado ao meu emprego na Travelience, isso não foi diferente. Em pouco tempo fomos sendo convidados para participar de eventos com meu chefe, representando os “Gaijin” (como eles chamam os “gringos”. A palavra certa seria “gaikokujin” para estrangeiros). Até que em um desses eventos, o governo de Tokyo estava precisando de estrangeiros para uma propaganda da cidade. Eles entraram em contato com meu chefe e então fomos convidados para fazer o papel de turistas em um vídeo promocional sobre as diferentes atividades que estrangeiros podem fazer para se envolverem na cultura tradicional da cidade.

Neste dia nos tornamos Geisha e Samurai para andar (com katana e tudo) nos bairros tradicionais da cidade, experimentar a verdadeira e tradicional cerimonia de chá, e até mesmo nos tornarmos Ninja por um dia, com descendentes de ninjas reais que mantém a tradição da família.

Também já fomos em eventos históricos (assista o vídeo acima) e criamos um canal de youtube que em pouco mais de um ano já virou uma comunidade de mais de 31 mil pessoas e 1,5 milhão de visualizações.

Desafios, como superá-los? - O fato de estarmos aqui sozinhos, apesar de abrir muitas portas e aventuras, também tem o lado difícil. Somos o único alicerce um do outro. Isso, às vezes, é um problema grande, porque não tem para onde correr quando ambos estão estressados.

Ela trabalhava e estudava não apenas na universidade mais rígida de Tokyo, mas lá dentro, seu laboratório era conhecido como “a Coreia do norte da Universidade de Tokyo”. Era o laboratório mais rígido de todos. Então, frequentemente, ela estava bem esgotada e cansada, estressada.

Eu também trabalhando em empresa japonesa, muitas vezes chegava tarde, cansado e estressado em casa. Passamos por muitos momentos difíceis e sem qualquer apoio. Depois veio a gravidez que também mudou tudo na nossa vida.

A nossa esperança e superação sempre vem da força de acredita um no outro, mesmo nos momentos de raiva. A gente precisa se manter forte um para o outro, aguentar o tranco, engolir o choro, a raiva, o stress e continuar caminhando até passar.

E sempre passa. As situações que na hora pareciam tão difíceis começam a parecer mais fáceis depois de um tempo, as coisas que nos incomodam começam a incomodar menos, e o dia a dia volta a ser leve. Nunca tome qualquer decisão importante em época de stress. Nossas decisões a gente só toma quando estamos de bom humor.

No dia a dia sempre se lembrar do que realmente importa. Que estamos aqui um pelo outro. Não deixar as responsabilidades de trabalho e preocupações do dia-a-dia ofuscarem isso.

As pequenas coisas são o que mais importam. Lembrar de mandar uma mensagem, de dizer que ama, de um docinho que ela gosta. Todos os meses nós comemoramos mês de casados. Todos. Sem falta. Às vezes saímos para jantar, cozinhamos um para o outro ou simplesmente nos desligamos do mundo para passar um momento juntos jogando videogame ou vendo um filme. Mas nunca deixar passar em branco.

E para lidar com as brigas e momentos ruins: A paciência. Na falta dela, o silêncio. E nunca tomar decisões sem estar de bom humor.

Quando tudo está bom, é maravilhoso. Mas mesmo quando tudo está ruim e estressante, no fundo a gente sempre tem a confiança que um ama o outro. Mesmo nos momentos de briga, a gente sabe que um ama o outro. O amor não fé apenas um sentimento. Ele é também um comprometimento e de certa forma, uma obrigação.

Um fato bonitinho é que por mais de um ano, todos os dias sem falta, ela escrevia um bilhetinho para eu levar junto com o almoço do trabalho. Todos os dias, um bilhetinho diferente. Às vezes, apenas uma mensagem para ter um bom dia, às vezes uma declaração, algumas historinha engraçada ou um lembrete de algo legal que vamos fazer juntos. Tenho uma coleção de bilhetinhos.

Se esforçar para fazer a vida do outro especial é uma das coisas que mais nos mantém unidos e companheiros nessa montanha russa.

Deseja se mudar para o Japão? Mude. Se não der certo, volte - Quando a gente toma uma decisão ou alcança alguma coisa, a sociedade nos cobra muito para continuar. Familiares, amigos, sempre perguntam como vão os planos e as conquistas, questionam muito quando temos motivos contrários a eles e isso gera uma certa pressão. Sem contar na internet que não mede esforços para criticar.

Mas isso nunca pode ser um fator para colocar na balança. O que nos mantém seguros é justamente contar com a insegurança. Contar que os planos podem falhar e estar OK com isso. Quando a gente não tem medo de voltar atrás, se adaptar, mudar o plano, se desprender, é quando a gente encontra a coragem para largar tudo e recomeçar.

Se mudar para o Japão sempre pareceu um sonho distante. Ela sempre teve medo do incerto e do desconhecido. Mas eu sou mais do que tranquilo com mudanças, eu gosto delas e sempre penso positivo e tranquilo de que vai ser legal e que vamos aprender muito.

Acho que como nós dois somos sonhadores e não muito “pé no chão”, não tem ninguém pra dizer que não vai dar certo ou que é impossível. Só depois de já estarmos aqui, descobrimos o tanto de informações na internet existem de pessoas dizendo que é impossível se mudar para o Japão. Sem saber que era impossível, fomos lá e fizemos.

Ao meu ver, as pessoas muitas vezes focam em planos muito longos. O segredo para nós é ter coragem apenas de tomar o próximo passo pequeno. E assim vamos caminhando para a direção que a gente escolheu, sem medo de mudar de direção e de planos quando a gente sentir que deve.

Acho que o principal para não termos medo de mudança é esse: se não estiver bom, a gente muda de plano.

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