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Comportamento

Médica de 83 anos faz da sua casa um símbolo de Natal em Campo Grande

Paula Maciulevicius | 11/12/2013 06:36
A decoração começou por acaso, quando ela comprou em uma viagem a São Paulo, um leque para por na janela. Por dentro, o Natal sempre existiu, mas de fora ninguém podia ver. (Fotos: João Garrigó)
A decoração começou por acaso, quando ela comprou em uma viagem a São Paulo, um leque para por na janela. Por dentro, o Natal sempre existiu, mas de fora ninguém podia ver. (Fotos: João Garrigó)

São 83 anos de idade e um ritual que começa em novembro. De tirar o Natal das caixas. Há mais de 10 anos, a casa na esquina das ruas Antônio Maria Coelho e Bahia ganha as luzes, árvore e até carruagem do Papai Noel, vindo das mãos de uma senhora que acredita na magia do Natal.

A fachada da casa foi acesa nesta terça-feira. Presépio, decoração no telhado, no jardim e nas janelas. Tudo feito por ela, médica ginecologista e obstetra, Geny Nacao Ishikawa, e dois fieis escudeiros: o eletricista e o serralheiro, que dão forma e luz ao Natal que ela desenha.

“Tudo isso eu preparo com antecedência”, diz. Mas a conversa logo perde a formalidade e ela nos puxa pelo braço para levar ao salão de festa, que na noite da ceia, recebe mais de 40 pessoas entre familiares e amigos, para dar, o que ela chama, de verdadeiro sentido para o Natal.

Geny Ishikawa, aos 83 anos, monta toda decoração que pode ser vista de longe, na casa da esquina.
Geny Ishikawa, aos 83 anos, monta toda decoração que pode ser vista de longe, na casa da esquina.

O capricho com a decoração já sugere que a dona é mulher de fé. Mas no canto do salão, a frase define o que a faz vestir todo ano, a casa com as cores vermelho, verde e dourado. “Sempre haverá Natal enquanto a fé, a esperança e a paz estiverem em nossos corações”.

Orgulhosa, ela diz que para por todas as luzes, foi ela quem subiu. “Você não sabe o trabalho que dá, eu falo não vou fazer, mas é Natal”, conta como quem não consegue resistir ao jingle bells.

A decoração começou por acaso, quando ela comprou em uma viagem a São Paulo, um leque para por na janela. Por dentro, o Natal sempre existiu, mas de fora ninguém podia ver. “Minha neta me inscreveu num concurso de casas decoradas e eu ganhei nesse ano, aí todo ano vou mudando e aumentando. Ficou como obrigação, quando eu não faço, todo mundo cobra”.

O marido, falecido há cinco anos, era quem ouvia das pessoas a pergunta de quanto era para entrar na casa. “Ele dizia, não paga nada, mas a Casa do Papai Noel é mais para cima”, recorda.

Uma das primeiras cirurgiãs mulher de Campo Grande, Geny foi dona do hospital Pro Matre e tem na bagagem milhares de partos. Talvez por ter escolhido ajudar a dar à luz como profissão, é que ela irradia tanta espiritualidade. A casa de esquina tem mais de 30 anos, foi construída pelo marido engenheiro. E só deixou de ser decorada um ano, quando ela viajou e passou a data longe daqui.

Por dentro, o Natal também chega no salão de festas, já pronto para receber as visitas na ceia.
Por dentro, o Natal também chega no salão de festas, já pronto para receber as visitas na ceia.

O Natal que Geny põe para fora é o mesmo que ela cultiva no coração. Ativa, se aposentou há dois anos para dedicar os cuidados à irmã. Mas fala que parou no auge. "Não esperei ficar ruim da cabeça, tem que parar bem, saber a hora de parar".

Na história de vida, são quatro filhos, todos casados, e uma porção de netos. Pela casa, fotos das homenagens que já recebeu e um cantinho de adoração à Nossa Senhora de Fátima. Primeira atividade dela pela manhã, de rezar e pedir proteção.

A mesma senhora que nos recebe com um sorriso largo, vestido bonito e cabelo arrumado como se fosse para uma festa, escondeu do marido  o câncer que lhe acometeu. Pediu ao médico e toda equipe que não dissesse nada além de uma gastrite. "Eu dava quimioterapia em casa para ele dizendo que eram vitaminas. E assim ele viveu durante dois anos. Assistiu o casamento da minha filha e levou ela no altar. O médico dizia que quem salvou ele foi Deus e eu". Os exames seguintes mostraram a cura, mas pouco tempo depois, o marido teve uma infecção e não resistiu.

Tão forte e tão meiga. De fala mansa. É de se perguntar se ela acredita na magia do Natal. “Acredito e vou te mostrar a prova. ano passado passou um senhor, me disse que passou por aqui e estava com problemas. Ele disse que a decoração da casa da uma paz de espírito tão grande que uns dias depois ele veio e pediu para me conhecer. Me trouxe um cartão com dizeres bonitos e uma Mega-Sena”.

A casa segue decorada até o dia 6 de janeiro, quando a apreensão para o próximo Natal começa antes mesmo de o Papai Noel voltar aos armários. “Eu sempre falo, será que vou dar conta? Mas depois de tudo pronto, me dá uma alegria muito grande. Só de ver que todo mundo sai com o coração tocado, este é o verdadeiro sentido”, descreve.

Esse ano, o rapaz que agradeceu a paz de espírito já deixou a Mega-Sena da médica Geny na caixa de correio.

A casa segue decorada até o dia 6 de janeiro e exalando a magia do Natal de dona Geny.
A casa segue decorada até o dia 6 de janeiro e exalando a magia do Natal de dona Geny.
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