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Comportamento

Na tela da TV, a capa do disco começou a se tornar real no dia 11 de setembro

Lenilde Ramos | 11/09/2016 07:25
Capa do disco Breakfast in América, do Supertramp, com Torres Gêmeas ao fundo.
Capa do disco Breakfast in América, do Supertramp, com Torres Gêmeas ao fundo.

Eu tocava na noite, fazia questão de caprichar no repertório e estava sempre à caça de pérolas, principalmente as inexploradas e o Supertramp fazia parte dessa época maravilhosa.

Para quem não sabe, essa banda inglesa reinou na cena musical dos anos 1970 espalhando 70 milhões de discos pelo mundo, alguns dos quais faziam parte de uma preciosa coleção com a qual convivi por muitos anos.

O tecladista e vocalista da banda, Roger Hodgson de vez em quando dá umas bandas aqui pelo Brasil.

A terça-feira, 11 de setembro de 2001 estava quente e com o céu limpo. Peguei o LP Breakfast in America resolvida a estudar "The Logical Song".

A capa do disco me chamava a atenção pela criatividade de ver recriada a ilha de Manhattan com xícaras, copos, saleiros e outros objetos de um café da manhã.

Uma garçonete rechonchuda que, pensando bem, lembra mais uma árabe que uma americana, faz as vezes de Estátua da Liberdade e transforma um copo de suco de laranja na tocha posicionada exatamente sobre as Torres Gêmeas. Tudo isso visto da janela de um avião.

A contracapa é ainda mais interessante, com a logomarca que desenha a rota do avião dirigindo-se ao WTC e ainda com a foto da banda simulando caras surpresas com as notícias do jornal. Bem, essa era a capa que deixei sobre a cama para ligar o toca-discos e rodar o LP.

A TV estava ligada na sala e, mesmo com a porta fechada e a música tocando, o barulho que vinha de lá começou a me desconcentrar.

Saí pra ver o que se passava e dei de cara com o jornalista Carlos Nascimento na tela da Globo mostrando o que parecia o choque de um avião contra uma das famosas torres.

O Supertramp ficou lá rodando na vitrola e, na tela da TV, a capa do disco começou a se tornar real, estranhamente real, porque logo depois o segundo avião completou o estrago.

Era 9h03 e eu não consegui mais desgrudar os olhos das notícias, tudo ficou para trás. pela dimensão do que estava acontecendo, até pensei que era o fim do mundo, me lembrei do amigo Robert Eisenstat, marido de minha comadre Tereza que trabalhava numa das torres do WTC.

Naquela manhã ele tinha chegado atrasado no trabalho e quando o avião bateu na torre ele ficou preso no elevador. Isso, Tereza depois contando ao vivo e eu me arrepiando com a força do acontecido. Robert conseguiu sair do elevador com o auxílio dos amigos, mas não conseguiu convencê-los a sair dali. Eles acharam melhor aguardar pelos bombeiros.

Robert não pensou duas vezes e desceu na desabalada 74 andares e continuou correndo sem saber o quanto de força ele tinha, até ver tudo desabar.

Tempos depois, voltando ao Supertramp, deparei-me assustada com a capa de Breakfast in América e comecei a rever a cena dantesca do 11 de Setembro de 2001.

Ainda não me considero segura para cantar Supertramp, porém, minha interpretação de New York, New York nunca mais foi a mesma.

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