No Parati, há 11 anos família paraguaia faz festa para Virgem de Caacupê
A santa é padroeira do país vizinho, mas mesmo quem deixou o Paraguai para viver no Brasil, trouxe consigo a devoção à Nossa Senhora de Caacupê. No Centro Comunitário do bairro Parati, em Campo Grande, uma família se reúne sempre no dia 8 de dezembro, há onze anos, para deixar claro o tamanho da fé.
Formada por seis irmãos, a família Gonzalez é de Ponta Porã. A mãe era a única paraguaia legítima, nascida em uma das fazendas que serviam à empresa “Erva Matte Laranjeira”. Mas a matriarca faleceu no inicio deste ano e com a perda, os filhos contam que até pensaram em acabar com a festa em comemoração a padroeira.
Mas já havia se transformado em tradição e muitas pessoas cobravam o encontro até para cumprir promessas.
A fé à virgem começou com a mãe da auxiliar contábel Dionísia Maria Gonzalez, de 42 anos. Já a relação dela com a santa iniciou aos nove meses de vida. Ela conta que, doente, a mãe desesperada a jogou para o alto, em frente ao hospital, e pediu à Nossa Senhora de Caacupê que a salvasse.
Para a cura, a promessa foi andar 10 quadras de joelhos, com a santa na cabeça, um trato cumprido. Depois, Dionísia foi diagnosticada com coqueluxe e se tratou.
Ela mora em Campo Grande junto a família há 20 anos e antes de fazer a própria festa, eles viajavam até o Paraguai e comemoravam a data em Pedro Juan Caballero. Em 2003, ela conseguiu comprar uma casa e acredita que foi outra conquista graças à santa. "Prometi que se o pedido se concretizasse teria que fazer a festa por minha conta".
A primeira reunião ocorreu no mesmo ano, na casa nova, no bairro Parati. Hoje, o dia da Virgem de Caacupê é festejado no centro comunitário do mesmo bairro, com a colaboração de amigos e parentes, que se reúnem para rezar e, claro, já que é festa paraguaia, dançar a polca e comer a sopa paraguaia.
O ritual era iniciado pela mãe, que chegava ao local de joelhos, com a santa na cabeça, relembrando a promessa que durou dez anos. Com a morte, quem “assumiu” o posto da matriarca foi a filha mais velha, Amélia, de 57 anos. “É uma emoção, dar continuidade a tradição da minha raiz”, afirma.
Os custos com a festa vão sendo divididos de acordo com as graças atribuídas à virgem. Quem acredita ter sido ouvido pela santa, passa a colaborar.
O comerciante Juliano da Silva Batista, de 28 anos, é um dos devotos da virgem de Caacupê. Sem descendência paraguaia, ele conta que conheceu a história por amigos, e resolveu fazer uma promessa à ela e em um ano foi atendido, garante. “Eu tinha muita conta, não sabia como me livrar”, explica. Para pagar a promessa e agradecer a “benção” recebida, neste ano 50% da festa foi paga por ele.
Com o filho em coma há seis meses, a cozinheira Maria Carolina, de 75 anos, pediu à santa que o menino sobrevivesse, e há três meses ele deixou o CTI. “O médico disse que ele não amanheceria, foi um milagre”. Conforme o prometido, a partir de agora, a comida das festas para a santa será feita por Maria. “É o que eu pude oferecer”.
E a cozinheira já se prepara para a próxima promessa. A neta fez um concurso, e se passar a comemoração do ano que vem vai ser bancada por ela.
Rosemari Martins, de 29 anos, e o marido, o autônomo George Marinho, de 33, moram em Ponta Porã, mas viajam a Campo Grande para entregar doces as crianças como uma forma de agradecimento à santa, também no dia 8 de dezembro. “Não fiz promessa, mas agradeço as graças de todos os anos” explica.
Apesar da proximidade com o Paraguai, onde acontecem as festas genuínas, eles ainda preferem Campo Grande. “Lá é muito cheio, não da pra distribuir doces para todos, então optamos em vir aqui”.
Segundo a crença, por volta de 1.600, a santa foi esculpida em uma árvore por um índio, que prometeu desenha-la se conseguisse se esconder de canibais. A imagem tem cabelos longos e traços paraguaios.