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Comportamento

Nos bastidores, a doação de quem faz acontecer e a gratidão de quem recebe

Mariana Lopes | 22/07/2013 06:45
Para que tudo ocorresse conforme o script, muitas pessoas trabalharam pesado nos bastidores. (Foto: Marcus Ermínio)
Para que tudo ocorresse conforme o script, muitas pessoas trabalharam pesado nos bastidores. (Foto: Marcus Ermínio)

As cortinas se abrem, os protagonistas entram em cena e o espetáculo começa. Mas nas coxias, o lugar onde o público não consegue enxergar, há uma grande equipe que, no anonimato, faz tudo acontecer. E a metáfora é só para contar que no palco da vida real também há muitos bastidores assim. A história que o Lado B traz hoje é de "heróis" sem holofotes.

Na última semana, Campo Grande recebeu 60 bolivianos que vieram para participar da Semana Missionária antes de seguirem para o Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude. Por cinco dias, os estrangeiros foram destaque nos principais jornais de Mato Grosso do Sul, que noticiaram desde o motivo da vinda deles à Capital às atividades mais simples que fizeram.

Mas para que tudo ocorresse conforme o script, muitas pessoas trabalharam pesado. Na cozinha, por exemplo, onde ficava quem preparava todas as refeições dos bolivianos, o dia terminava de madrugada e começava antes mesmo de o sol clarear. Depois de servirem a janta, os responsáveis já começavam a ajeitar o almoço do dia seguinte.

E a pergunta é simples. Por que se doar tanto por quem, até então, não se sabia nome e nem rosto?

"Ser cristão não é apenas ir à missa. Claro que é importante, mas é uma gota de água dentro do oceano. O lugar do cristão é na rua, se doando ao próximo, essa é a melhor forma de evangelização", disse o empresário Francisco Batista de Almeida Junior, 47 anos.

No dia em que estava na escala da cozinha, ele desmarcou todos os compromissos para se enclausurar na Casa de Formação São Vicente Pallotti, onde os estrangeiros ficaram alojados. E mesmo ao final das atividades, o sorriso de satisfação era capaz de disfarçar todo o cansaço.

Pessoas que, por uma semana, se dedicaram exclusivamente ao bem do próximo, sem ganhar um centavo em troca. Mas muitos sorrisos e agradecimentos. (Foto: Marcos Ermínio)
Pessoas que, por uma semana, se dedicaram exclusivamente ao bem do próximo, sem ganhar um centavo em troca. Mas muitos sorrisos e agradecimentos. (Foto: Marcos Ermínio)

Envolvimento e comprometimento que partiu dos mais velhos aos bem jovens. A estudante Emmanuely Silva, de 18 anos, mora no bairro Serradinho e atravessou a cidade para poder ajudar nos preparativos de todas as refeições. "Não vou poder ir à Jornada, mas deixo aqui minha contribuição a eles (bolivianos), é uma forma que tenho de participar e fazer o bem ao mesmo tempo", comenta a estudante.

Os peregrinos da Bolívia chegaram a Campo Grande na terça-feira passada, dia 16, e foram embora neste final de semana. Durante todos os dias que eles ficaram na Capital, as equipes da cozinha se revezaram para assumir o comando das panelas e preparar o café da manhã, almoço, janta e lanche antes de eles irem dormir. Foi esta a rotina por cinco dias.

Responsável por organizar todas as turmas da cozinha, a advogada Dayene Lancine, 26 anos, garante que a retribuição é algo não palpável e vem através do sorriso e das "gracias" que os bolivianos não se cansavam de espalhar. "Além disso, o que ficou para nós foi ver a Igreja Católica unida, diminuímos nossa vaidade para que Cristo pudesse aparecer", ressalta Dayene.

Um dos momentos mais marcantes para toda a equipe que estava envolvida de alguma maneira foi quando um padre boliviano se levantou, durante o jantar, e agradeceu aos brasileiros pela comida que estavam servindo a eles. "Para nós isso é um banquete, não estamos acostumados com isso", disse o sacerdote. Ele ainda agradeceu, com os olhos cheios de lágrimas, pela máquina de lavar roupas que a Casa Pallottina colocou à disposição deles. Contudo, o grupo boliviano continuou lavando as roupas nas mãos, pois, segundo o padre, é assim que eles estão acostumados a fazer.

Além das equipes de refeição, muito mais gente se envolveu para que tanto a hospedagem dos bolivianos quanto a programação da Semana Missionária fosse bem sucedida. Pessoas que, por uma semana, praticamente se dedicaram exclusivamente ao bem do próximo, sem ganhar um centavo em troca.

"Aprendemos muito como cristãos, a humildade que os bolivianos têm mexeu muito com a gente, mas o mais bonito foi ver que quando deixamos o amor de Deus tomar conta, não existe fronteira, nem idioma, simplesmente comungamos da mesma fé", disse o coordenador da Comissão que organizou a Semana Missionária, Hudson Jorge Ossuna Rocha, 32 anos.

E depois que tudo acabou, que as panelas voltaram aos armários e o bolivianos seguiram viagem, vem outra pergunta: valeu a pena?

A resposta vem de quem recebeu. "Ficamos muito felizes como fomos recebidos aqui no Brasil, e levo comigo cada rosto, cada sorriso, cada gesto, mas, acima de tudo, levo a esperança de que um dia a Bolívia vá ser um país tão católico quanto o Brasil", frisou o boliviano Jonathan Prado, 24 anos.

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