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Comportamento

Para dar infância digna do nome a crianças africanas, ONG arrecada recurso em MS

Paula Maciulevicius | 19/09/2013 06:35
O Criança África abrange 273 crianças numa realidade de 1 milhão de pequenos na mesma situação. Pequenos órfãos que são muitas vezes cuidados pelas próprias crianças.
O Criança África abrange 273 crianças numa realidade de 1 milhão de pequenos na mesma situação. Pequenos órfãos que são muitas vezes cuidados pelas próprias crianças.

Depois dos 13 anos, eles deixam os estudos pela enxada. As aulas pela agricultura familiar. O futuro pelo retrocesso. A vida por uma sobrevida. Há quatro anos, a ONG de Campo Grande “Fraternidade Sem Fronteiras” abriga 273 crianças, de aldeias do distrito de Chókwè, em Moçambique. De recém-nascidos até o 13° ano, com ajuda de R$ 50 de um padrinho, eles conseguem ter uma infância digna deste nome. Da adolescência em diante, estão sujeitos a uma jornada de trabalho puxada em troca de R$ 3,50 ao dia.

O recurso captado pela ONG, através do projeto Criança África, dá a eles duas refeições diárias, kit escolar, aulas de musicalização, cultura, lazer e atividades que para os pequenos se tornam referência de vida. Uma forma de levar o bem e dar esperança a quem carrega tanta dor.

No entanto, as crianças que começaram no programa hoje se veem na adolescência e o projeto que até então conseguia lhes dar um presente encerra a etapa aos 13 anos. Ao invés de tirá-los, a ONG resolveu abraçar outro programa autossustentável e profissionalizante, para que elas não deixem a escola pela lavoura, tenham uma profissão e sonhos a serem realizados.

O presidente da ONG, Wagner Gomes Moura, de 39 anos, explica que o plano é fundar uma padaria, para dar emprego a quem hoje não é mais coberto pelo programa. A organização fez um estudo de mercado que constatou que tem gente na região que trabalha e pode comprar pão. Só que as aldeias não oferecem o serviço e eles acabam pagando mais caro de quem vem das cidades vizinhas para vender.

“Eles vendem por R$ 0,30, se nós produzirmos conseguimos vender por R$ 0,20. Vai pagar salário a eles e o lucro dessa empresa volta para o programa. A gente consegue deixar o projeto autossustentável. Ampara, cria, capacita e a renda que gerar volta para a manutenção” resume Wagner.

Para continuar com comida no prato e o sorriso estampado no rosto, ONG quer lançar projeto autossutentável.
Para continuar com comida no prato e o sorriso estampado no rosto, ONG quer lançar projeto autossutentável.

O Criança África abrange 273 crianças numa realidade de 1 milhão de pequenos na mesma situação. A cada padrinho que entra para o projeto, uma criança consegue ter uma oportunidade num lugar onde as portas parecem eternamente fechadas.

Os trabalhos sociais do empresário Wagner começaram ainda na década de 90, mas há quatro anos o choque da realidade veio aos olhos, durante uma visita a Moçambique, já como pesquisa de campo para criação da Organização.

A realidade, segundo ele, é de um grande número de crianças órfãs, algumas cuidadas por outras maiores sem qualquer ajuda financeira e nem emocional. “Tinham alguns casos de crianças que comiam farelo de milho cozido. Muitas são órfãs de pais que morreram em decorrência do HIV e não têm nenhuma fonte de renda. Lá às vezes as pessoas morrem e não se sabe nem o por quê”, conta.

Num enredo de tanta miséria em todos os aspectos, não tem como comparar com a pobreza das regiões brasileiras. Aqui os postos de saúde são poucos, faltam médicos e especialistas. Mas lá isso nunca nem chegou a existir. O que a gente costuma noticiar, de casos de abandono de crianças, são ligados a pais dependentes químicos, por exemplo. Lá, eles não são filhos de ninguém.

“Você chega e vê uma panela velha e três pedras que servem como tripé para cozinhar. Eles vivem pra comer num país onde 40% sofre a desnutrição”, diz Wagner.

Em uma das primeiras visitas, o presidente da ONG viu uma criança debaixo de uma árvore, escrevendo com o dedo no chão de terra. Ao perguntar o por quê, a resposta foi que primeiro se aprende assim para depois ter acesso ao caderno doado pelo governo africano. Parte do quase inexistente material escolar.

As crianças que estão no programa tem toda assistência em dois centros de acolhimento, localizados nas aldeias distante 200 quilômetros de Maputo, a capital de Moçambique. Os pequenos são indicados por diretores de escolas. Muitos vítimas da fome diariamente, que deixam as aulas antes que a lição termine porque lhes falta força até para prestar atenção.

Em outubro, a ONG lança o projeto piloto, que tem como primeiro passo a construção de um poço para dar início a fábrica de tijolos que vão dar vida à padaria e aos sonhos dos adolescentes. As obras devem começar já ano que vem.

“Capacitamos pessoas que vão para capacitar eles, para que não dependam da gente no futuro. O que a gente tem, a gente leva”, explica o presidente.

A ONG viaja com voluntários que custeiam a própria estadia a cada seis meses para a região. Lá um coordenador africano mantém contato direto com a organização.

Para ajudar a viabilizar o projeto da padaria, a ONG vai fazer no próximo sábado (21), o encontro “Acenda sua Vela e Vá Iluminar o Mundo II”, no anfiteatro do Sebrae, na avenida Mato Grosso, em Campo Grande, a partir das 18h30.

Durante o evento, aberto ao público, serão apresentados o Projeto Criança África, as ações já executadas, as parcerias e os resultados nas comunidades, retratando de que forma a ação social vem mudando para melhor a vida das crianças. O objetivo é reunir padrinhos, voluntários e quem mais quiser conhecer o projeto e colaborar.

“Queremos multiplicar o projeto em outras regiões, países, somos sonhadores”, finaliza Wagner. A ONG tem site e também está no Facebook com detalhes de todas as ações.

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