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Comportamento

Quando assunto é anticoncepcional para homens, tabu continua

Em fase de testes, a 1ª injeção tem projeção para fazer efeito durante dez anos e pode se revertida

Aletheya Alves | 25/09/2022 07:38
Vagno Vagula, de 38 anos, conta que tomaria a injeção, mas só depois de muitos testes. (Foto: Marcos Maluf)
Vagno Vagula, de 38 anos, conta que tomaria a injeção, mas só depois de muitos testes. (Foto: Marcos Maluf)

Nesta semana, pesquisadores do Instituto Indiano de Tecnologia divulgaram que a 1ª injeção anticoncepcional para homens deve ser disponibilizada ainda em 2023. Mesmo sendo uma inovação, os médicos responsáveis acreditam que a taxa de rejeição possa existir e, para médicos e nas ruas, a suposição é de que assuntos envolvendo a saúde masculina ainda geram tabus.

Urologista, Bruno Almeida explica que a grande vantagem do Risug é a não utilização de hormônios, nesse sentido não traz consequências de alterações hormonais que por vezes são vistos relacionados aos anticoncepcionais femininos. “Consistem em um gel chamado anidrido maleico de estireno, que por meio de uma anestesia local no escroto é aplicado nos dois ductos deferentes, o canal que leva espermatozoides no momento da ejaculações, dos pacientes”.

Apesar dos benefícios, o urologista comenta que uma possível resistência em relação ao uso de novos métodos anticoncepcionais pode estar relacionada aos tabus da sociedade.

Muitas das abordagens urológicas são permeadas de tabus, preconceitos inerentes à nossa sociedade. Por bem, muitos mitos e restrições já estão sendo quebrados, como por exemplo o exame de toque para procura do câncer de próstata, diz Bruno.

Em enquete realizada neste sábado, a maioria dos leitores (65%) votou que tomaria a injeção, enquanto 35% disseram que não tomariam. Parte dos que aprovam a novidade, o motorista Vagno Vagula, de 38 anos, conta que cada nova oportunidade é positiva, mas que tudo precisa ser extremamente comprovado, ainda mais quando se está falando de um assunto “delicado”.

“É melhor do que a vasectomia, por exemplo, ainda mais se puder mesmo ser revertido. Mas precisa passar por muitos testes, ver se não faz mal e se tem efeito mesmo”, diz. Vagno.

Como o urologista Bruno Almeida comentou, Vagno concorda que questões envolvendo a saúde masculina ainda geram dúvidas e medo. Até por isso, ele destaca que iria procurar pela injeção, mas só depois de muitos testes.

Se declarando como uma pessoa que vê o uso de preservativos como essencial, ele completa que muitos homens devem querer deixar de lado a camisinha com a injeção.

Juliano Vicente conta que fica receoso, mas que pode reavaliar opinião. (Foto: Marcos Maluf)
Juliano Vicente conta que fica receoso, mas que pode reavaliar opinião. (Foto: Marcos Maluf)

Receoso com a novidade, o vidraceiro Juliano Vicente primeiro respondeu que não tomaria e, só depois do amigo, Vagno, tentar convencê-lo de que seria uma novidade positiva é que ele repensou. “É, acho que eu tomaria no futuro. Enquanto ainda é novo acho que não tomaria não, não dá para ser cobaia”.

Assim como Vagno, Juliano diz que entende a necessidade do uso da camisinha, mas que o anticoncepcional masculino realmente pode trazer retrocessos nesse sentido, mas não para ele.

Em comentários nas redes sociais, a questão de um medo relacionado quando assunto é o pênis fica ainda mais visível. “Se for em gotas ou injeção no braço até vai, agora injeção no bago jamais”, disse um leitor, assim como outro disse “no bilau? Tô fora”.

Opinião médica

Sobre sua percepção na prática, com demandas maiores por vasectomia, Bruno explica que não tem notado procura por métodos anticoncepcionais no sentido de pílulas ou injeções. Para ele, isso é justificado pela falta de divulgação de métodos alternativos e também pela falta de comprovação sobre eficácia.

Em relação à preferência dos homens pela vasectomia, o médico pontua que os pacientes podem ver o procedimento mais antigo como mais seguro. Entretanto, para Bruno, a injeção tem suas vantagens a serem consideradas.

“Procedimento rápido, a facilidade de reversão com apenas uma injeção local com solução de bicarbonato de sódio, durabilidade de dez anos e mínimas complicações locais”, detalha o médico.

Mesmo com o sucesso da injeção ou de outros métodos como as pílulas, o urologista destaca que o preservativo irá continuar sendo necessário.

“Preservativo é um método de amplo alcance e eficaz em proteção da imensa maioria das ISTs ( Infecções Sexualmente Transmissíveis). Vemos a ascensão por vezes de ISTs como a Sífilis entre os jovens por falta do uso do método. As consequências de muitas dessas ISTs são desconsideradas, porém permeiam de complicações neurológicas até aparecimento de alguns tipos de cânceres. A rede pública de saúde fornece preservativos, e os ganhos nas orientações realizadas até então não podem ser perdidos”, Bruno completa.

Além do Risug, Bruno conta que pesquisas nos Estados Unidos também estão sendo produzidas para o desenvolvimento de um método contraceptivo masculino em forma de pílula diária. “Algumas drogas não hormonais promissoras podem chegar ao mercado nos próximos anos. Vejo como mais adequadas do que as atualmente estudadas, que são essas hormonais por conta dos seus efeitos colaterais”.

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