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Comportamento

Quase 3 mil cordeis fazem parte do precioso acervo de Zezinho do Forró

Músico se inspira na arte repentista para criar sua música e por isso tem milhares de folhetos clássicos

Thaís Pimenta | 02/06/2018 08:00
Zezinho em meio aos cordeis mais novos, de 1980, editados pela Luzeiro, em sua casa. (Foto: Thaís Pimenta)
Zezinho em meio aos cordeis mais novos, de 1980, editados pela Luzeiro, em sua casa. (Foto: Thaís Pimenta)

Com raízes fincadas em terras nordestinas, no Sergipe, Zezinho do Forró foi um dos filhos de Egidio Barbosa dos Santos que nasceu em Mato Grosso do Sul mas, com berço sergipano, nunca foi possível e muito menos foi um desejo de Zé se afastar da cultura da sua terra. Nascido com o dom da música, ele agradece ao avô, seo José Barbosa dos Santos, por ter começado a colecionar os cordeis de sua época.

"Meu pai aprendeu a ler e escrever com cordel, então isso ficou muito marcado né, na nossa família. Aí meu pai obrigava a gente a ler os cordeis pra ver se tirava alguma ideia boa na vida", lembra ele.

Não por acaso, ele se enveredou pro lado artístico e na música carrega todas as influências dessa arte literária clássica, contadora da história de Lampião e Maria Bonita em sextilhas e rimas interpoladas e intercaladas. "O cordel é muito cantável, tanto é que o repente nasce dali e dele vem o forró raiz, tocado por Luis Gonzaga, Nando Cordel e Dominguinhos, são compositores nos quais eu me inspiro até hoje". 

Lampião e tantas outros personagens compõe os cordeis clássicos. (Foto: Thaís Pimenta)
Lampião e tantas outros personagens compõe os cordeis clássicos. (Foto: Thaís Pimenta)

Quatro caixas guardam as preciosidades da família num dos quartos da casa de Zezinho. São cerca de 2.800 folhetos, guardados daquela época, ganhados e comprados. Os preferidos são os editados pela Luzeiro, por volta de 1980. "Eles conheciam meu trabalho e me deram milhares de edições, dos mais clássicos mesmo".

O mais antigo dos folhetos é de 1880, guardado pela família. "Outros eu fui comprando em minhas andanças por São Paulo, Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco. Nessas viagens eu passei também a conhecer, me apresentar, aos poetas e eles me presenteavam com suas obras".

Em terras pantaneiras, Zézinho faz questão de continuar com sua missão de espalhar a sua cultura por aqui. Já ministrou oficinas a professores de literatura sobre o tema e, hoje, ele lamenta a falta de obrigatoriedade da disciplina no ensino público. "É uma arte tão cheia de cultura, de conhecimento, fruto de criatividade e os nossos politicos ao invés de fomentar isso, nos afastam mais", pontua.

 

 (Foto: Thaís Pimenta)
(Foto: Thaís Pimenta)

E pra quem não conhece essa poesia, o músico dá uma dica. "Basta ir para o nordeste que você tem contato direto com o cordel. O povo nordestino é espirituoso e aqueles sotaques de lá, aquele ritmo de fala, é puro cordel", diz.

Dos embaladores de coco, como Castanha e Caju, antes deles, com Ariano Suassuna, e hoje em dia com o próprio Lenine, Zézinho conta que o cordel é de extrema importância, e deveria ser leitura obrigatória, a todos que trabalham com a voz pois ele obriga uma excelência na dicção. "São histórias contadas muito rapidamente e por conta das rimas estarem muito próximas, se você não tiver a dicção perfeita o público não entende".

Fã assumido do "Como tem zé na Paraíba", de Jackson do Pandeiro, o nosso Zezinho diz que continua disposto a levar a cultura para mais pessoas e por isso abre suas portas a quem quiser entrar em contato com ele.

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