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Comportamento

Rose brilhou anos como porta-bandeira, mas só depois de conquistar a comunidade

Apaixonada pelo Carnaval, tornou-se porta-bandeira reconhecida em Campo Grande pela simplicidade que deu lugar ao brilho

Thailla Torres | 08/02/2018 08:03
Rose demonstra sua dança e estilo como porta-bandeira na avenida. (Foto: André Bittar)
Rose demonstra sua dança e estilo como porta-bandeira na avenida. (Foto: André Bittar)

Roselane viveu um sonho de 1982 a 2009. Apaixonada pelo Carnaval, tornou-se porta-bandeira reconhecida em Campo Grande pela simplicidade que deu lugar ao brilho. Mas a conquista não foi nada fácil. Naquela época, sem nenhuma ligação com a escola de samba, o primeiro ano como porta-bandeira foi um desafio depois de ser rejeitada pela própria comunidade.

"Eu tinha 25 anos quando fui convidada para pela Igrejinha para participar da escola. Me inscrevi em uma ala quando a porta-bandeira se desentendeu com a escola e fui convidada para substituí-la.  Mas a comunidade não me aceitou. Eu não era do bairro e questionavam quem era a mulher desconhecida que levaria a bandeira da escola", descreve Roselane Alves Varanis, de 60 anos.

Depois de se aposentar da bandeira, Rose continua na escola e neste ano terá sua estreia na Velha Guarda da Vila Carvalho. "Estou muito feliz, é uma ala que eu tenho muita admiração e tenho certeza que será lindo".

Amor pelo Carnaval surgiu apoio da mãe. (Foto: André Bittar)
Amor pelo Carnaval surgiu apoio da mãe. (Foto: André Bittar)

Sem saber desfilar e nenhuma habilidade com bandeira, a Rose jovem apenas carregava em si a vontade de representar a escola com dedicação. "A bateria é o coração da escola de samba e a porta-bandeira e o mestre sala são os braços abertos na avenida. Você pode colocar a escola lá em cima, como também pode derrubá-la se fizer algo errado, por isso, eu sabia que tinha que ser a melhor naquele primeiro ano".

Rose conta que cumpriu a tarefa. Dois dias após o desfile naquele ano, o resultado veio com o título de melhor porta-bandeira de 1982. "A comunidade veio toda na porta da minha casa me convidar para a comemoração. Foi uma alegria e com aquele título, eles souberam do meu compromisso com a escola".

Depois de ganhar a confiança, Rose deu continuidade ao trabalho. Todo ano, era uma ansiedade para levar a escola com toda graça ao desfile. "A gente ensaiava mil vezes, mas o coração só acalmava quando finalizava os 60 minutos de desfile".

Rose lembra que muitas escolas estavam com o enredo pronto, quando ainda na década de 80, Campo Grande ficou sem desfile. Após o retorno do Carnaval que acontecia na 14 de Julho, a Igrejinha, estava com outra diretoria e não a convidou para continuar como porta-bandeira.

A nova chance veio com a Mocidade Independente da Vila Carvalho que surgiu na década de 90. "A Mocidade que era uma ala separada da Vila Carvalho se desentendeu e criaram outra escola de samba na cidade. A escola durou três anos, ganhei o título de melhor porta-bandeira em todos e quando acabou, a Vila Carvalho me convidou para representar de vez a escola".

Dona Maria se realizou vendo a filha como porta-bandeira. (Foto: André Bittar)
Dona Maria se realizou vendo a filha como porta-bandeira. (Foto: André Bittar)
Um dos desfiles, já na Vila Carvalho. (Foto: André Bittar)
Um dos desfiles, já na Vila Carvalho. (Foto: André Bittar)

Rose desfilou até quando estava com 7 meses de gravidez. "O vestido era pesado, estava calor, mas eu sabia que ia dar conta. Minha médica doida quando me viu fazendo aquilo, mas desfilei com cruz vermelha ao meu lado e nada aconteceu. Mas com oito meses minha filha nasceu e até hoje ela não gosta muito de Carnaval", conta.

Mas em 2009 ela entregou a bandeira para dar oportunidade a outras mulheres. "Eu fiquei pensando que muita gente tem o mesmo sonho que o meu. E depois de tanto tempo a gente descobre a hora certa de parar e dar chance para outras pessoas".

De lá pra cá, muita coisa mudou. Cada vez mais coloridas, as escolas fazem de tudo para brilhar na avenida. Rose viu o público lotar as arquibancadas que hoje é o maior incentivo para que todas as comunidades impulsionem a festa com amor e vontade.

"Não é fácil. Ao mesmo tempo que é a festa mais animada do Brasil, ela também é a mais atacada. A sociedade ainda exclui o Carnaval como representação cultural e liberdade de expressão. Por atrás de cada escola de samba na avenida, existe uma mensagem, um aviso e um desejo de mudança".

Os anos como porta-bandeira também foram para realizar o sonho da mãe, Maria de Lourdes Alves de Lima, que aos 86 anos, fazia questão de ir todo ano assistir ao desfile e ficar até os últimos minutos. "Minha mãe sempre amou Carnaval, desde a infância. Na juventude o sonho dela era ser porta-bandeira. Mas casou e o marido não deixava participar porque acreditava que Carnaval não era coisa para uma mãe de família".

Para deixar dona Maria feliz, um dia Rose fez questão que a mãe colocasse o vestido que usaria minutos depois na avenida. "Eu fiquei emocionada, sabe aquela vontade de chorar? Foi assim que eu fiquei quando vi aquele vestido não bonito. Eu amo muito o Carnaval, é a festa mais linda do ano", descreve dona Maria que acompanha sorrindo a entrevista da filha.

Hoje, ela só não desfila por conta da saúde. "Meu joelho não aguenta, senão eu entrava naquela avenida. É o meu sonho", acrescenta.

Se aos 60 anos ainda falta realizar um sonho? Rose não tem dúvidas. "Ainda quero sair de baiana e se tudo der certo, ainda vou desfilar na Portela, outra escola do coração".

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O tempo passa, mas não permite que Rose esqueça como segurar com delicadeza a bandeira. (Foto: André Bittar)
O tempo passa, mas não permite que Rose esqueça como segurar com delicadeza a bandeira. (Foto: André Bittar)
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