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Comportamento

Sorteio, resultado e até transferência de rifa de cavalo era notícia em jornal

Paula Maciulevicius | 27/03/2015 07:16
Não era manchete e nem tampouco se tratava de Classificados, mas estava logo ali, no abrir do jornal. (Foto: Marcelo Calazans)
Não era manchete e nem tampouco se tratava de Classificados, mas estava logo ali, no abrir do jornal. (Foto: Marcelo Calazans)

"Fica transferido para janeiro, em dia que será anunciado pela imprensa, o sorteio da rifa de um cavallo de corrida, marca "Estrella", propriedade de Sebastião Taveira". Era esta a notícia que estampava a capa do Jornal do Comércio, mostrando os tempos de uma Campo Grande inocente.

Em dezembro de 1934, a notícia era a transferência da rifa. Não era manchete e nem tampouco se tratava de Classificados, mas estava logo ali, no abrir do jornal, demonstrando a importância que tinha, à época, o aviso das rifas de cavalos. 

Folheando o arquivo do Instituto Histórico e Geográfico do Estado, o que se encontram são relatos do que era notícia. Bem diferente de hoje, a começar pela escrita de um português mais rebuscado, o que se encontravam eram informações de acidentes de carroça. Quando o transporte era feito a quatro patas, os protagonistas do trânsito eram quase sempre cavalos.

Jornal do Comércio circulou no Sul do Estado entre década de 1920 até o ano de 1969. De propriedade de Jaime Vasconcelos. (Foto: Marcelo Calazans)
Jornal do Comércio circulou no Sul do Estado entre década de 1920 até o ano de 1969. De propriedade de Jaime Vasconcelos. (Foto: Marcelo Calazans)

Serve de lição, de aprendizado, até mesmo como nostalgia de um tempo em que não se era nascido ainda. Campo Grande do passado era de noticiar notícias políticas de São Paulo, de ter anúncios onde a estratégia de marketing da propaganda era a brincadeira ingênua. Sem muitos recursos, o que valia eram desenhos em preto e branco.

Época em que se intitulavam "dr" para todos. Não que hoje seja diferente, mas na escrita isso não se vê. A linguagem culta que descrevia os acontecimentos me trazem uma imagem à cabeça, de que o senhor que as lê, olha as horas num relógio de bolso e talvez com um chapéu, acenar para algum conhecido nas ruas.

O Jornal do Comércio circulou no Sul do então estado de Mato Grosso da década de 1920 até 1969. Foi o segundo jornal de maior periodicidade, perdendo hoje só para o Correio do Estado, que ainda circula.

"Era do Jaime de Vasconcelos, ele foi um dos jornalistas ícones do sul de Mato Grosso. Um dos primeiros presidentes da Associação Brasileira de Imprensa. Foi uma pessoa expressiva, era extremamente culto. Um advogado e um jornalista de renome". Quem explica é a professora, historiadora e diretora executiva adjunta do Instituto, Maria Madalena Dib Mereb Greco, de 57 anos.

O acervo que no Instituto data a partir de 1927 começou também a ser disponibilizado para a internet. "Não está completa, mas dá para ter uma ideia, se consegue enxergar o crescimento da cidade, todos os movimentos sociais, econômicos e políticos pelas páginas do jornais", descreve a diretora.

A história de uma Campo Grande inocente retrata uma época em que o jornalismo era carregado também de idealismo. "A gente percebe uma cidade provinciana se construindo e todo um processo de urbanização acontecendo. A cidade funcionava em torno da ferrovia..."

Presente na vida de muitos sul-mato-grossenses, antes mesmo da divisão do Estado, hoje parte do acervo já está digital. Dá para rir e se deliciar num texto mais sensível e até mais poético.

Foi o segundo jornal de maior periodicidade, perdendo hoje só para o Correio do Estado, que ainda circula. (Foto: Marcelo Calazans)
Foi o segundo jornal de maior periodicidade, perdendo hoje só para o Correio do Estado, que ainda circula. (Foto: Marcelo Calazans)
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