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Comportamento

Uma das pessoas que mais amo neste mundo tem Síndrome de Down

Ângela Kempfer | 21/03/2014 06:24
Luiza, e mais um dia de festa.
Luiza, e mais um dia de festa.

Tem horas em que as pessoas sentem necessidade de falar, de desabafar. Por isso inventam o dia disso ou daquilo, para colocar em foco questões que a maioria não dá importância, para um “presta atenção” sobre dignidade.

Nunca comemorei o 21 de Março, por exemplo, até Luisa aparecer na minha vida. Então, o Dia Mundial da Síndrome de Down passou a fazer sentido e exigir algo à altura.

Não faço festa à toa. Minha sobrinha sim. É só não ter programa animado para a loirinha pedir uma torta e mobilizar a família toda para cantar parabéns. O sorriso é tão gostoso, a felicidade é tão sincera, que ninguém se atreve a esquecer do “desaniversário” da loirinha, nem o primo adolescente.

Portanto, seria injusto estragar o dia de hoje com lamentações sobre um futuro talvez de preconceito ou uma rotina de olhares desinformados. Melhor mesmo é providenciar um bolo, e integral, porque foi assim que Luisa ensinou a gente a comer.

Pela vontade de fazer amigos, minha sobrinha provavelmente será Relações Públicas, talvez de uma grande empresa que entenda o talento peculiar dela. Pode ser uma astronauta ou uma artista, tamanha é a disposição em fazer malabarismos contra a gravidade ou expressar o que sente, com uma cara feia, uma chantagem explícita ou um rabisco colorido na parede.

Quem sabe um dia vire atleta, já que desde sempre nada e mergulha sem qualquer receio da água, porque nunca apareceu ninguém para apresentar a ela o medo descabido. Também tem um talento para a cura. Resolve com um “oi” a cara amarrada de qualquer ser com problemas. Em festas, ri, se diverte sem parar, mesmo quando outras crianças estão grudadas nas saias das mães.

A pequena não percebe nenhum olhar carregado. Anda e corre pelas ruas de sapatinho de princesa, de solado gasto, sem suspeitar que alguém, algum dia, duvidou da capacidade dela de aprender a caminhar.

Conversa (muito), por vezes com palavras pela metade, mas a vontade de comunicação é tão grande, que não há quem não a entenda. Encara um tablet como se fosse arroz com feijão. Com aqueles dedinhos gordinhos vai fechando uma janela aqui, abrindo outra ali, sem "enrosco".

Luisa é uma criança, sem qualquer necessidade de outra definição. Isso porque cresce ao lado de uma mãe e um pai que fizeram a menina acreditar que é como qualquer outra garotinha de 3 anos.

Tem cachorro, adora pipoca, detesta levar bronca, estuda, faz karatê, não veste mais qualquer roupa, rebola, pula na cama elástica, quer mastigar chiclete, faz pirraça para não dormir, chora para ganhar o que quer, tem dor de barriga, febre, brinca com as amigas, canta a “Galinha Pintadinha”, é fã da “Pepa Pig”, mexe no celular da mãe, adora tirar fotos e ainda faz "Xiiiis".

Dia desses, numa despedida de fim de sábado, ela repetiu “eu te amo” para a tia "Agela" e me fez feliz. Obrigada Luli!!!!

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