Você sabe porque compra aquilo que não precisa com o dinheiro que não tem?
Essa pergunta reveladora foi tema do projeto "Dose de Ciência", para colocar pulga atrás da orelha, não para entregar respostas
“Por que compro aquilo que não preciso com o dinheiro que não tenho?”, o questionamento norteou, nesta semana, uma discussão inusitada em um bar de Campo Grande. O assunto entrou no projeto "Dose de Ciência", iniciativa que propõe debater assuntos científicos de forma descontraída em bares. O evento acontece uma vez por mês e os temas, normalmente, fazem parte do cotidiano de todos.
Dessa vez a conversa foi consumo. Que atire a primeira pedra quem nunca estourou o cartão de crédito em compras que até hoje estão no guarda-roupas ou, simplesmente, levou para casa aquele objeto da promoção que até então você precisava, mas de repente tornou-se necessário. Foi a partir de reflexões como essas que a discussão começou.
"Vamos ajudar a pensar sobre consumo, porque é um tema que envolve todo mundo e suas particularidades. Somos influenciados pelo consumo desde a infância. É na compra de um brinquedo ou na ida ao supermercado", explica o professor Thiago Müller, publicitário e doutorando em Psicologia.
O professor não ensinou técnicas de como esquecer o cartão em casa ou pensar duas vezes antes comprar o não precisa.
Para mexer de vez com quem assistia a discussão, o publicitário falou de que maneira elas são persuadidas pelas propagandas e as estratégias utilizadas pelas empresas para convencer alguém de que precisa adquirir determinado produto.
"O desejo por algo não é criado, é permitido. Veja só, eu não posso comprar um produto de R$ 800,00. Mas tenho toda liberdade de comprar por 10 vezes R$ 80,00. São mecanismos criados para atrair o consumidor e dar a ele a liberdade de consumir", exemplifica.
Do ponto de vista filosófico, o doutor em Psicologia e pós-doutor em Estudos Culturais, Josemar Campos Maciel, também foi além na sua provocação. "Quando eu tomo cerveja, eu quem tomo a cerveja ou a cerveja que me consome? Quanto compro um tênis de marca, eu que uso o tênis ou é a marca que está me usando?", questiona.
Pode até parecer viagem, mas a reflexão vale a pena. "Indagações como essas devem ser feitas para que a gente encontre respostas para nossos padrões de consumo. Veja só, com o mundo do jeito que está, com os oceanos do jeito que estão, é necessário tudo isso de consumo? É preciso refletir sobre isso", diz Josemar.
Com mais questionamentos do que respostas, o objetivo foi deixar o público com aquela pulga atrás da orelha.
Esse é o lema desde que o projeto nasceu na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), explica o Gilliano Mazzeto, pró-reitor de Desenvolvimento Institucional. "Hoje, dentro de um modelo de sociedade, todo mundo quer respostas prontas. O problema é que levando esse tipo de discussão para dentro de um bar, num bate papo de duas a três horas, ninguém vai salvar o mundo. Então, o caminho que encontramos é levar provocações e perguntas para que as pessoas saiam do bar com curiosidade de encontrar respostas".
O projeto surgiu numa discussão sobre o olhar que a sociedade tem sobre a ciência. "Muitos acreditam que o pensamento científico, a pesquisa e essa interação com a ciência é algo distante da vida das pessoas. Mas, normalmente, as pesquisas giram em torno de algo que reflete diretamente na nossa vida. Então, falar de ciência é algo que pode ser natural e levar isso para os bares, pode transformar a vida das pessoas. Tem gente que aprende no Youtube e isso não está errado, porque não aprender no bar?", questiona.
O próximo encontro ainda não tem data definida, mas o tema já foi escolhido: O lado oculto da vacinação. "Ainda estamos tentando fechar com o próximo estabelecimento que vai nos acolher. Mas o assunto é pertinente, tem surgido muitas dúvidas em relação a isso e conversar com profissionais da saúde vai ser um bate papo interessante".
Para ficar por dentro da programação, acompanhe as novidades pelo site da universidade.
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