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Consumo

Campo Grande tem sua “25 de Março” em um quarteirão da Afonso Pena

Com movimento de consumidores, vendedores e ambulantes, tem gente que compara trecho da Afonso Pena com a 25 de Março de São Paulo

Thailla Torres | 26/08/2019 08:38
Campo Grande tem sua “25 de Março” em um quarteirão da Afonso Pena
Locutores aumentam a fama do local, atraindo mais consumidores. (Foto: Thailla Torres)
Locutores aumentam a fama do local, atraindo mais consumidores. (Foto: Thailla Torres)

Uma ‘25 de Março’ com menos camelôs e muito menos gente. O trecho da Avenida Afonso Pena, entre Ruas Calógeras e 14 de julho, é o paraíso do comércio de rua. Chamado de “a 25 de março de CG” pelos vendedores e consumidores, a quadra concentra uma variedade de produtos e um movimento maluco que lembra a rua famosa de São Paulo.

São poucos passos para escutar “Olha a coxinha!”, “Sobrancelha a R$ 10,00!”, “Capas e Películas” e por aí vai. Com vários vendedores nas ruas chamando clientes e locutores falando as ofertas no microfone, quem descobriu o movimento, frequenta o espaço por comodidade. “Aqui eu encontro de tudo, desde alimentação barata no dia a dia até as coisas de casa”, conta a auxiliar administrativa Raquel de Oliveira, de 45 anos, que trabalha a quadras da Afonso Pena. “Todo dia estou no Centro, mas só nesse quarteirão eu encontro tudo o que eu gosto, inclusive, meu sorvete preferido de mamão”, conta.

Raquel é cliente que troca qualquer loja pelo quarteirão movimentado. (Foto: Thailla Torres)
Raquel é cliente que troca qualquer loja pelo quarteirão movimentado. (Foto: Thailla Torres)
Marcia descobriu o movimento e agora tenta nva oportunidade. (Foto: Thailla Torres)
Marcia descobriu o movimento e agora tenta nva oportunidade. (Foto: Thailla Torres)

O movimento vem crescendo bastante nos últimos anos, contam os vendedores que ficam panfletando e tentando levar clientes para dentro das lojas. Ofertas coladas no chão, para quem não dá muita atenção aos vendedores, também são comuns, mas o boca-boca ainda tem mais efeito, garantem. “A gente consegue atender umas 30 clientes só chamando aqui nas ruas, mas tem que ser simpático”, ensina o cabeleireiro Wendel Guilherme, de 19 anos.

Apesar de o movimento ser completamente menor que a rua paulistana, no início do mês é possível vivenciar aquele tumulto e, por isso, tem gente buscando oportunidade. Marcia Alves de Souza, de 27 anos, é um delas. “Voltei de Nova Andradina há 15 dias e estou em busca de emprego. Mas enquanto não consigo nada fixo, vim aqui fazer um bico, depois que fiquei sabendo do movimento”.

Ela ganha, em média, R$ 25,00 por dia para ficar cerca de 8 horas em pé, atraindo clientes para uma loja de capas e películas de celulares. “Fico segurando a placa e chamando os clientes. Quanto mais eu conseguir, ganho comissão”. Ela também não se importa com o cansaço e nem com a cara virada dos consumidores. “Muita gente nem responde o nosso bom dia, mas eu tiro isso de letra”, diz.

Nívea aproveita o movimento para levar mensagens de fé. (Foto: Thailla Torres)
Nívea aproveita o movimento para levar mensagens de fé. (Foto: Thailla Torres)

Na quadra você encontra loja de roupas, móveis, acessórios, bijuterias, artigos para casa, cabeleireiro, barbearia, engraxates, lanchonete, restaurante, engraxate, além de ambulantes vendendo acessórios, artesanatos, livros, frutas e capinhas de celulares.

Pela variedade de produtos, o movimento é grande até mesmo no fim do mês, diz o locutor Mauro Gabriel, que há 8 anos, faz locução no Centro. “As pessoas acabam vindo porque nesse trecho nunca falta oferta, isso é o que diferencia de outros quarteirões”, conta.

Já os camelôs são raridades em determinados dias porque “a fiscalização bate em cima”, diz um vendedor que preferiu não se identificar. Ele acha que a cliente aumentaria ainda mais se pudessem trabalhar tranquilamente nas calçadas. “Todo mundo gosta de uma coisa baratinha”.

Para o engraxate Antonio Bras do Mato, de 68 anos, que tem ponto fixo há 40 anos, os vendedores que ficam na calçada já bastam. “Senão fica muita bagunça. E nas lojas já temos de quase tudo”.

O engraxate está na rua há 40 anos. (Foto: Thailla Torres)
O engraxate está na rua há 40 anos. (Foto: Thailla Torres)

Mas para quem vende e também consome, no trecho movimentado vale de tudo. “Aqui é verdadeiramente a nossa 25 de Março, e se há tantos anos aquela rua movimentada é tradição em São Paulo, porque o nosso trecho também não pode?”, questiona o divulgador Lucas Medeiros.

E não é só vendedores e consumidores que são atraídos pelo movimento daquele ponto. Fieis também aproveitam o vai e vem de pessoas para falar de fé e até ler a mão. Nivea Rezende, de 19 anos, é missionária de uma igreja evangélica no Mato Grosso e há uma semana está em Campo Grande orando nas ruas e levando palavras de fé aos pedestres. “Falaram-me que esse lugar era movimentado e então viemos realizar a nossa missão, além de oferecer livros que é a ferramenta mais eficaz de levar conhecimento a onde não podemos chegar”, explica.

Já dona Maria, cigana de 44 anos, aproveita o movimento para “ler a mão das pessoas”. O serviço é cobrado, mas as vezes ela aproveita para falar umas verdades de graça. “Quando alguém não tem dinheiro e precisa saber alguma coisa, eu falo mesmo assim”. Tem gente que não gosta e desvia o olhar, mas ela não liga. “Só estou fazendo o meu trabalho, usufrui da leitura quem quer”, diz.

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Ciganas também aproveitam movimento para fazer o seu trabalho. (Foto: Thailla Torres)
Ciganas também aproveitam movimento para fazer o seu trabalho. (Foto: Thailla Torres)
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